Macroeconomia


Irani Day 2022

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Gabriela Joubert

Publicado 04/abr5 min de leitura

80 anos e repaginada

Na última sexta-feira, estivemos nas instalações da Irani em Campina da Alegria – SC, para o Irani Day, momento no qual tivemos a oportunidade de visitar todo o seu processo de produção, desde a germinação, passando pelas florestas e colheita, fabricação da celulose e papel e finalizando na linha de conversão para embalagens. Além de entender melhor a integração de seus negócios, pudemos ter uma visão mais ampla do que a plataforma Gaia deverá agregar ao negócio da companhia. A sensação que tivemos foi a de que a Irani, apesar de pequena quando comparada a outras empresas do segmento, tem pensamento de gigante e com Gaia, a senhora de 80 anos se repagina, entra para o mundo digital e se fortalece para os próximos ciclos.

O management da companhia direcionou seus esforços para consolidar a imagem de uma empresa sustentável, o que concordamos, especialmente no que tange o Ambiental. No entanto, nas demais esferas ESG, ainda vemos grandes desafios para a companhia em termos de governança e no social. Quanto aos fundamentos de mercado para o longo prazo, seguimos otimistas com a demanda futura de papel, apesar de vermos ainda desafios para o curto prazo. Assim, mantemos nosso preço-alvo YE22 de R$ 9/ação, com recomendação de Compra para RANI3.

Plataforma Gaia: reduzindo custos e aumentando eficiência por meio da digitalização. Ao longo da visita, os investimentos e futuros ganhos via plataforma Gaia ficaram mais nítidos. A expansão de capacidade fica em segundo plano e o que destacamos são os recursos direcionados à jornada de transformação digital da companhia, modernizando desde processos à gestão e até mesmo novos produtos. Considerando a idade da companhia e suas operações, em especial em Santa Catarina, primeira planta da Irani, investimentos em renovação são necessários e a Plataforma Gaia traz exatamente isso. Com o Gaia I, a companhia visa à ampliação de sua capacidade de químicos e recuperação de rejeitos, modernizando a operação e preparando-a para melhor eficiência no atendimento de todo o seu processo. A reforma da MP#2, compreendida pelo Gaia III, não apenas elevou a capacidade de papel para embalagens, mas otimizou o ciclo de produção, tornando-o mais hábil, além de oferecer produtos de maior qualidade e até mesmo customizados. Da mesma forma, investimentos na unidade de embalagens melhorando a automação dos processos, permitirá maior eficiência e menor despesa, por meio de operações robotizadas e ampliação de estrutura física para melhor acomodação dentro da planta. Por fim, na Fase 2 do Gaia, com o Gaia VI, a Irani ainda conta com o PIMS, novo sistema de processo de informação gerencial, o qual visa transformar a companhia digitalmente, e que já está parcialmente em operação, com, por exemplo, o uso de tecnologia para controle de incêndios em florestas e melhor gestão logística de frota.

Em busca da autossuficiência energética. Outro ponto de destaque são os investimentos em expansão de capacidade energética por meio, principalmente, dos Gaias IV, V e VII, que deverão tornar a Irani autossuficiente em energia até 2025. Atualmente, com o uso de hidrelétricas próprias, termelétricas e cogeração, a companhia produz cerca de 52% de toda a energia que consome. Após a reforma de Cristo Rei e São Luiz, além de aumentar a capacidade de geração hidrelétrica (Gaia IV e V), a Irani conseguirá aumentar a reutilização do vapor dispensado em suas operações para a geração de energia, com a caldeira de recuperação, bem como com uso de resíduo (madeira) da própria fábrica em Santa Catarina (Gaia I), reduzindo custos de produção, ao mesmo tempo que impulsiona suas operações.

Sustentabilidade e os desafios da nova era. A Irani tem direcionado esforços constantes para consolidar-se como uma companhia sustentável, em especial no que tange toda a esfera Ambiental dentro do ESG, com, inclusive, mudanças de nomenclaturas como vista no último release, no qual a empresa deixou de usar o termo “embalagens de papel ondulado” para adesão do termo “embalagens sustentáveis”, lembrando que, diferentemente de outras produtoras de papel, a companhia utiliza aparas como matéria-prima em cerca de 72% de seu processo produtivo. Neste sentido, considerando as maiores exigências de grandes empresas pela responsabilidade socioambiental não apenas dentro de casa, mas também ao longo da cadeia e do apelo embutido na nova nomenclatura, a Irani reforça sua posição como fornecedora de produtos que podem ajudar a reduzir a pegada de carbono de seus clientes. Adicionalmente, os investimentos em expansão de capacidade energética também contribuem para que a companhia se torne autossuficiente em geração e consumo de energia até 2025. Lembramos que a Irani é uma companhia neutra em carbono e destacamos também sua atuação no mercado de carbono desde 2006, por meio de dois projetos aprovados pelas Nações Unidas, a Central de Tratamento de Efluentes e a Planta de Cogeração. Contudo, não podemos deixar de ressaltar que nas demais esferas ESG, em especial Social e Governança, o caminho da companhia ainda é longo. Tendo hoje 17% de mulheres em suas operações e cerca de 15% em nível de liderança, apesar de equalizado (considerando que em muitas empresas o que vemos é grande número de mulheres na base, porém um percentual muito aquém nas lideranças), a parcela de mulheres na companhia ainda é muito baixa. Ainda, consideramos bastante ambiciosa e pouco improvável que a meta de elevar para 40% o número de mulheres na empresa, com participação de 50% no comando, seja batida, tendo em vista a atual dinâmica de oferta e demanda.

Repaginando para o futuro. Apesar dos desafios mercadológicos de curto prazo, vemos os fundamentos para a indústria de papel ainda mantidos para um horizonte maior de tempo. Os dados da Empapel mostram que a expedição de caixas de papelão vem arrefecendo nos últimos meses, após o pico em outubro/20, quando alcançou 371.179 unidades. Em fevereiro de 2022 (último dado disponível), o volume expedido de caixas de P.O. foi de 295.136, 12% abaixo do nível observado em fev/21 e 5,1% menor m/m, apesar de ainda acima da média mensal dos últimos cinco anos. Os impactos da inflação e da forte elevação dos juros observados nos últimos meses têm pressionado as projeções de crescimento para o país e para o mundo, o que já pode ser sentido na economia local, bem como no desempenho da empresa. No 4T21, já vimos impactos na receita, que veio abaixo das nossas estimativas, refletindo a desaceleração no consumo interno e o 1S22 não deve ser diferente. Entretanto, quando olhamos para o longo prazo, observamos fundamentos ainda sólidos para o setor como: (i) a mudança de comportamento do consumidor final quanto ao consumo mais sustentável beneficia a busca não só de embalagens sustentáveis, mas também de produtos e marcas mais aderentes a este movimento e, neste sentido, a característica de printabilidade do papel nas embalagens o torna um produto mais procurado por companhias que querem reforçar sua marca e seu posicionamento; (ii) o movimento de substituição do plástico em embalagens para insumos mais sustentáveis também abre importante via de crescimento para o papel, em especial no setor de Alimentos e Bebidas. Aqui, a Irani consegue atuar como um fornecedor sustentável e auxiliar na redução da pegada de carbono de seus clientes; (iii) o avanço da participação do ecommerce e delivery na vida das pessoas tem também impulsionado o consumo de embalagens de papel e deve seguir expandindo.

Opinião do analista

Isto posto, mesmo com a ciclicidade do negócio da empresa e os eventuais momentos de baixa do mercado, entendemos que o movimento recente da companhia para reforma, expansão e inserção digital da empresa a coloca bem posicionada para o momento de recuperação esperado, assim que as pressões de curto prazo, com efeitos especialmente em juros, inflação e poder de compra da população arrefecerem. Vemos a Irani se preparando para os próximos ciclos, reposicionando-se em uma sociedade cada vez mais exigente com padrões que vão além da simples remuneração, repaginando-se em operações mais eficientes em busca de maior longevidade e, de fato, caminhando para um futuro mais sustentável.


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