Macroeconomia


Inter Setores | Siderurgia e Mineração | Mai.22

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Gabriela Joubert

Publicado 10/mai

China assusta, preços caem e ações também

Dados abaixo do esperado da segunda maior economia do mundo e grande consumidora de commodities, em especial metálicas, fizeram com que a tendência de alta de preços nos mercados internacionais observada desde o início do ano tivesse uma inflexão em abril, fazendo com que as ações do setor de siderurgia passassem por forte correção. Na edição do mês anterior, havíamos antecipado que dados da economia chinesa mostravam certa fraqueza quanto à demanda por materiais metálicos, em virtude de uma produção siderúrgica mais amena, advinda de um consumo interno em processo de desaceleração. Mesmo fala do governo chinês sobre novos estímulos a alguns setores da economia - como o Real Estate, por exemplo - não ajudou e o mercado reprecificou os ativos, antecipando um possível hard landing no país asiático. Em virtude dos novos dados, mantemos uma visão mais cautelosa para o setor, vislumbrando preços de minério de ferro em US$ 100/t para o fim do ano e mantendo o preço de longo prazo (preço de equilíbrio) em US$ 60/t. Revisamos as premissas e modelos das companhias no setor. Confira o relatório aqui.

Em se tratando de minério de ferro, o produto padrão (MF62) ficou em média de US$ 144/t em abril, corrigindo 8,8% ante os preços observados em março. Os prêmios pagos aos produtos de maior qualidade, como o MF65, mantiveram-se em patamar elevado, em cerca de US$ 27/t. Contudo, a diferença entre o MF65 e o MF58 teve forte redução no período. As importações chinesas da commodity tiveram leve recuo de 1,4% m/m, mas contração de 13% no a/a, ficando em 86 mt. Em relação aos estoques nos portos chineses, vimos recuo novamente este mês, para 129,1 Mt, possível reflexo dos menores embarques, mas ainda bem acima da média de 2021, de 125 Mt.

Em março, no último dado disponibilizado pela WSA, a produção siderúrgica chinesa somou 88,3 Mt em março, aumento de 18% ante fevereiro, mas 6% menor que em 2021. No 1T22, observamos queda de 8% ante o mesmo volume acumulado do 1T21. O consumo aparente ficou estável no mês, apesar do recuo de 7,4% ante mesmo mês do ano passado. Com os efeitos dos lockdowns ainda em curso no país, em abril, vimos nova retração no sentimento de confiança, com o PMI Manufatura caindo para 47,4 pts e o PMI Caixin ficando em 46 pts, ambos abaixo da linha d’água de 50 pontos que indica expansão (acima) ou retração (abaixo). Seguindo a estabilização nos preços do petróleo, o frete marítimo teve leve arrefecimento no último mês, para US$ 25,5/t, apesar de ainda em patamar elevado e seguir pressionando custos e despesas na cadeia. Os preços de metais básicos, como níquel e cobre, tiveram correção no mês, após consecutivas altas que levaram as cotações a níveis recordes. Em abril, seguindo o movimento de queda das commodities metálicas, apesar de ainda em nível saudável, o metal pread teve redução, implicando em leve correção dos preços do aço nos mercados internacionais.

Focando no mercado interno, a produção nacional de aço bruto somou 2.946 kton em março (último dado disponível), de acordo com o IABR, com alta de 10% m/m e avanço de 5% a/a. O destaque ficou por conta do avanço de 5,9% na produção de longos, motivado pelo consumo resiliente na construção e no segmento de infraestrutura. Com relação às vendas no mercado interno, vimos expansão de 20,2% ante fevereiro, apesar da queda de 13% a/a. O Consumo Aparente somou 2.079 kton em março (+14,7% m/m) mas 15% menor que o mesmo mês de 2021, mostrando forte desaceleração da indústria local. Os dados da Anfavea não haviam sido divulgados até a divulgação deste relatório.

Temporada de Balanços 1T22

CSN (CSNA3): Mineração forte impulsiona EBITDA e margens

Com resultados bem mais fortes que o esperado em seu braço de mineração, a CSN reportou número além das nossas expectativas, com receitas consolidadas levemente acima, mas EBITDA mais forte, em consequência das margens naturalmente mais altas na CSN Mineração. No entanto, não tiramos o mérito de seu core business, uma vez que os números na Siderurgia mostraram robustos volumes vendidos, apesar da sazonalidade, e preços ainda elevados, mesmo com as pressões momentâneas de alguns clientes no curto prazo. Os custos pesaram mais uma vez, de fato, e as pressões inflacionárias podem limitar os repasses de preço daqui para frente. Contudo, vislumbramos um cenário de demanda ainda sustentável, o que poderia contribuir para que os resultados sigam evoluindo, mesmo que em menor velocidade. Assim, mantemos nosso preço-alvo para CSNA3 YE22 em R$ 36/ação, com recomendação de Compra.

CSN Mineração (CMIN3): Preços mais altos compensam queda de volumes

Os resultados da CSN Mineração trouxeram números acima das nossas expectativas em razão, principalmente, dos maiores preços de minério de ferro nos mercados internacionais, que mais que compensaram a expressiva redução de volumes vendidos no período, impactado por chuvas e paradas, bem como por custos menores que o esperado em razão do menor volume produzido. Contudo, em cenário de preços de minério de ferro menores, poderemos ver margens mais comprimidas, considerando os ainda elevados custos de alguns insumos e a produção aquém do esperado, mesmo excluindo o efeito da sazonalidade. No longo prazo, acreditamos na tese da companhia e em seus planos de se tornar um dos maiores players globais, inclusive de produtos premium. Mantemos nosso preço-alvo para CMIN3 YE22 em R$ 9/ação, com recomendação de Compra.

Gerdau (GGBR4): Resiliência, resiliência

Apesar da sazonalidade e do início de ano cheio de incertezas, a Gerdau apresentou resultados positivos, em nossa opinião, beneficiados por sua diversificação geográfica via suas operações na América do Norte que compensaram a queda de receitas na ON Brasil no período. Na receita, resultados vieram em linha com o esperado, contudo o EBITDA foi impulsionado por custos e despesas menores que o projetado, com margem em 28,7%, em linha na comparação trimestral, mas 2,2 p.p. acima do 1T21. Como esperado, a ON América do Norte foi destaque, refletindo o bom momento de demanda e preços nos mercados norte-americanos e vislumbramos um 2022 repetindo o observado nos primeiros três meses do ano para a ON. Os custos, apesar de menores na comparação trimestral, ainda são ponto de atenção, e devem seguir impondo desafios à companhia ao longo do ano. Reiteramos nossa recomendação de compra para GGBR4, com TP YE22 em R$ 35/ação.

Usiminas (USIM5): Receitas acima, mas custos pesam

Apesar de ter reportado receitas 10% acima das nossas estimativas, o resultado da Usiminas para o 1T22 decepcionou no desempenho operacional, pressionado fortemente pelos custos mais elevados, em especial na Siderurgia e na Soluções Usiminas, levando a um EBITDA de R$ 1.560 mm, 9% menor que nossas projeções. Em virtude dos desafios no cenário internacional, em especial em relação aos preços de placas, afetados pela guerra na Ucrânia que devem afetar os níveis de exportação da empresa, a Usiminas revisou para baixo seu guidance de vendas de aço do 2T22, para 950 – 1.050 kton. Os dados reportados acendem um alerta, mas ainda acreditamos em recuperação ao longo dos próximos trimestres, em especial na demanda e preços no mercado interno, bem como acomodação dos preços de insumos, que poderia trazer certo alívio ao balanço. Assim, mantemos o preço-alvo da companhia para o fim de 2022 em R$ 17/ação e a recomendação de Compra para o papel.

Vale (VALE3): EBITDA em linha, mas 2022 traz desafios

O 1T22 da Vale trouxe desempenho em linha com o esperado para o EBITDA, apesar das receitas menores que as expectativas, afetadas pelos volumes de vendas de Ferrosos bem abaixo do projetado. Vemos desafios para 2022 tomando forma, com incertezas quanto à desaceleração econômica chinesa e seus possíveis efeitos na indústria siderúrgica, além de um cenário de custos elevados ainda por um longo período. Entretanto, mesmo com resultado mais fraco tanto na comparação trimestral quanto anual, lembramos que US$ 6.347 mm de EBITDA trimestral ainda é um valor considerável, o que coloca a Vale em posição confortável para suas obrigações futuras, mantendo-a como excelente opção para uma carteira voltada a dividendos. Destacamos o anúncio de novo programa de recompra de ações da companhia, com prazo de 18 meses após o fim do programa corrente, visando 500 milhões de ações, o equivalente a cerca de 10% do total das ações em circulação, o que ajudaria a manter os preços das ações mesmo com provável pressão baixista advinda de possíveis quedas nos preços do minério de ferro. Com isso, mantemos nossa recomendação Neutra, com preço-alvo YE22 para VALE3 em R$ 100/ação e VALE US em US$ 20/ADR.

Com dúvidas quanto aos impactos dos lockdowns e ao ritmo de desaceleração da economia chinesa, em abril, os preços do MF62 tiveram correção, ficando abaixo de US$ 150/t.

As exportações brasileiras de minério de ferro em março avançaram 54% m/m, com a normalização das operações após os fortes impactos das chuvas em janeiro e fevereiro.

Os prêmios pagos aos produtos de maior qualidade, como o MF65, mantiveram-se em patamar elevado, em cerca de US$ 27/t. Contudo, a diferença entre o MF65 e o MF58 teve forte redução no período.

A produção siderúrgica chinesa somou 88,3 Mt em março, aumento de 18% ante fevereiro, mas 6% menor que em 2021. No 1T22, observamos queda de 8% ante o mesmo volume acumulado do 1T21.

Em relação aos estoques nos portos chineses, vimos recuo novamente este mês, para 129,1 Mt, possível reflexo dos menores embarques, mas ainda bem acima da média de 2021, de 125 Mt.

Seguindo a estabilização nos preços do petróleo, no mês, o frete marítimo teve leve arrefecimento, para US$ 25,5/t, apesar de ainda em patamar elevado e seguir pressionando custos e despesas na cadeia.

Os preços de metais básicos, como níquel e cobre, tiveram correção no mês, após consecutivas altas que levaram as cotações a níveis recordes.

Em abril, seguindo o movimento de queda das commodities metálicas, apesar de ainda em nível saudável, o metal spread teve redução, implicando em leve correção dos preços do aço nos mercados internacionais.

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