Sinistralidade no rural e auto pressionaram trimestre
Os últimos dados da Susep referentes a março/22 trouxeram o fechamento do trimestre, que mostrou um avanço de 14,5% a/a no faturamento do mercado segurador totalizando R$ 79,5 bilhões no 1T22. O trimestre confirmou um bom avanço comercial, vindo principalmente de renovações, reprecificações no segmento de seguros ajustados ao ambiente com maior inflação e de maior risco em alguns segmentos como rural e automotivo. O setor de seguros totalizou faturamento de R$ 35,2 bilhões com crescimento de 15,7% a/a no 1T22, mantendo a tendência de forte crescimento, o setor de acumulação se recupera de um fraco 4T e totalizou R$ 37,5 bilhões em contribuições, com alta de 13% a/a e o setor de capitalização também mostra um bom avanço de 16,6% a/a, totalizando R$ 6,7 bilhões no trimestre.
Destacamos em seguros o crescimento nos prêmios emitidos, que continuam duplo dígito, com o ramo automotivo totalizando R$ 10,7 bilhões, crescendo 23,8% a/a no trimestre, seguido pelo Rural (+51% a/a) e Vida +15,5% a/a. Atribuímos ao segmento auto, um crescimento vindo do reajuste de precificação das apólices, com renovações embutindo o ambiente inflacionário, o choque de preços no mercado de seminovos e peças, além do aumento da sinistralidade com a volta da mobilidade urbana. Já no rural, o período de secas no ano passado trazendo maiores sinistros, bem como o aumento no preço das commodities tem refletido na reprecificação das apólices. Em vida, a maior demanda por seguros após o covid-19 e também o reflexo do maior risco, tem permitido o contínuo avanço do segmento.
Nos sinistros, observamos ainda um ambiente misto. Se por um lado a sinistralidade nos ramos de cobertura pessoal (vida, habitacional e prestamista) mostra alívio com a redução de óbitos por covid-19, por outro, a volta da mobilidade e os choques de oferta e inflacionários pressionam o setor de automóveis. Não bastasse, os eventos climáticos mais ríspidos no ano passado, geraram o maior período de secas no país, que ainda traz reflexos em safras no ramo rural, principalmente no cultivo de grãos na região sul e centro-oeste. Desta forma, o 1T22 trouxe um índice de sinistralidade total de 59%, uma forte deterioração frente à sinistralidade de 49% registrada no 1T21, com o ramo Auto reportando taxa de 75% e piora de 16 p.p. aa e Rural com elevada taxa de 236% piorando 179 p.p. a/a sendo principais vetores. Por outro lado, em vida vimos taxa de 38% no 1T22, melhorando 11 p.p. a/a, assim como habitacional que melhorou 8 p.p. a/a com taxa de 26% e prestamista melhorando 10 p.p. a/a com taxa de 19%.
Resultados refletiram ambiente desafiador. Na esteira dos dados setoriais, o que vimos no 1T22 foi reflexo do que comentamos acima sobre o ambiente de maior sinistralidade em alguns ramos e avanço dos prêmios emitidos duplo dígito compensando parte dos custos. As seguradoras na bolsa atuam com maior relevância em segmentos distintos, o que gera um desempenho misto entre as companhias. Se por um lado, a BB Seguridade apresentou o melhor resultado para um 1T da companhia, vindo de melhores resultados financeiros na Brasilprev e incremento das corretagens da BB Corretora, que contiveram a pressão da sinistralidade no setor rural na Brasilseg, por outro, a Porto vem apresentando redução nos lucros com a alta sinistralidade do ramo auto e o mesmo aconteceu com a Sulamérica, que conviveu com pressões da ômicron no 1T22 apresentando um resultado fraco. Também sofreu com a alta sinistralidade no ramo rural, a resseguradora IRB, que apresentou um lucro no 1T22 causado por efeito não recorrente, mas um fraco desempenho operacional.
BB Seguridade: o resultado veio levemente abaixo das nossas expectativas, com lucro líquido de R$ 1,179 bilhão (+20,7% a/a e -4,2% vs. Inter Research), mas ainda assim registrando o melhor resultado para um primeiro trimestre da companhia. O resultado foi direcionado principalmente (i) pelo melhor resultado da Brasilprev, vindo de um incremento no resultado financeiro com a maior taxa Selic remunerando ativos e menores impactos de marcação a mercado nos passivos e (ii) avanço do resultado operacional e financeiro da BB Corretora, com o bom desempenho comercial da Brasilseg, principalmente no ramo rural. O resultado viria um pouco mais forte caso a sinistralidade no ramo rural da Brasilseg não pressionasse o resultado. Ainda assim, a companhia mostra um tom positivo, de recuperação e resiliência para 2022. Mantemos nossa recomendação de compra para BBSE3, com preço-alvo de R$30.
Porto: o resultado foi abaixo nas nossas expectativas, com lucro líquido de R$ 175,1 milhões (-40,6% a/a e -57% R/E) e ROAE de 7,5% (-5,9 p.p. a/a e - 10 p.p. R/E). O resultado foi basicamente impactado pela alta sinistralidade na Porto Seguros, principalmente no ramo auto, minando o bom desempenho da receita em todos os demais negócios, os quais avançaram dois dígitos. A companhia segue enfrentando desafios do seu principal negócio, seguro auto, que lida com um mercado inflacionado e também encara a volta da mobilidade urbana trazendo mais pressão nos sinistros. Além disso, o negócio financeiro, Porto Seguro Bank trouxe sinais da deterioração do crédito e de maiores investimentos no seu banco digital e na plataforma de locação Olho Mágico. Mantemos nossa recomendação neutra para PSSA3, com Preço-alvo de R$ 24 FY22.
Sulamérica: reportou um resultado abaixo da nossa expectativa, com lucro líquido de R$ 24,4 milhões (-54,7% a/a e -88% vs. Inter Research) com ROAE de 3,7% (-7,9 p.p. a/a e -2,2 p.p. R/E). O resultado foi impactado, mais uma vez, pela alta sinistralidade no ramo de saúde, que atingiu 86,5% (+4,6 p.p. a/a), causado pelos impactos da variante ômicron no início do ano em conjunto a demanda por procedimentos eletivos. Por outro lado, a receita continuou o ritmo de crescimento, avançando 4,5% a/a, com o aumento de 239 mil beneficiários em saúde e odonto (+5,7% a/a), com os ramos PME e odonto em destaque, além de aquisições como da Santa Casa de Ponta Grossa incrementando o crescimento. Também observamos uma melhora da margem bruta no segmento de vida com boa expansão da receita e forte redução da sinistralidade em 38,7 p.p. vindo da diminuição de óbitos por covid-19. Além disso, para amenizar os impactos negativos sofridos no ramo de saúde, o resultado financeiro da Sulamérica continuou mostrando melhoras, acompanhando a alta da taxa de juros. Reiteramos nossa recomendação de compra para SULA11 e mantemos nosso preço-alvo 2022E em R$35.
IRB Brasil RE: reportou um resultado em linha com a nossa expectativa, com lucro líquido de R$ 81 milhões (+58,3% a/a e +3,2% vs. Inter Research). O resultado no período foi beneficiado pelo efeito não recorrente de ganhos em ações judiciais, que totalizaram o acréscimo de R$ 150,2 milhões no resultado financeiro. Desta forma, excluindo os efeitos não recorrentes, o IRB Brasil teria apresentado um prejuízo de R$ 54,5 milhões no 1T22, ante um lucro de R$ 51 mm no 1T21. O resultado recorrente foi impactado principalmente pelo avanço da sinistralidade no ramo rural e vida, com efeitos climáticos afetando o setor no período, o que pudemos constatar em outras companhias e também pelos efeitos da covid-19 no período, o que consideramos atípicos. Apesar disso, vimos a estratégia de reestruturação sendo mantida e pela primeira vez desde a restruturação o IRB mostrou avanço no total de prêmios emitidos na comparação a/a, ainda assim, a retenção de prêmios segue pressionada por maiores despesas com retrocessão, que foram pressionadas pelo uso de LPT no período. Entendemos que não fossem efeitos pontuais no ramo rural e vida no Brasil, o resultado seguiria o ritmo de melhoria nos indicadores operacionais, que inclusive já foram constatados em algumas linhas, principalmente no exterior, onde a companhia mostra efeitos positivos da estratégia de re-underwritining. Reiteramos nossa recomendação Neutra para os papéis de IRBR3, com preço-alvo de R$ 3 (FY22).