Macroeconomia


Inter Setores | Bancos - Jun.22

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Matheus Amaral

Publicado 10/jun8 min de leitura

Ainda sob apagão de dados, condições do crédito seguem mostrando desaceleração.

O desempenho das ações do setor financeiro, medido pelo IFNC, avançou 6,2% no mês de maio/22, enquanto o Ibovespa subiu 3,2%, em meio a um ambiente de maiores taxas de juros e ao mercado digerindo os resultados das instituições financeiras. O setor mantém uma boa performance no ano de 2022, com 16,3% de alta - enquanto o Ibovespa cai 0,7% - refletindo uma busca do mercado por papéis mais defensivos com características de investimento em value, o caso de instituições financeiras.

Em meio ao apagão de dados do Bacen, relacionado à greve dos servidores públicos pelos reajustes salariais, ainda estamos apenas com os dados de crédito até fevereiro/22. Até então, o saldo de crédito havia registrado R$ 4,7 trilhões, com alta de 16,5% a/a, ainda acelerado, e as concessões de crédito reportaram saldo de R$ 398,3 bilhões com alta de 27,4% a/a, desacelerando contra janeiro, que cresceu 35,8% a/a. Continuamos observando evoluções vindo de uma mudança de mix que apontam maior deterioração da qualidade do crédito, como crescimento em linhas de Crédito Pessoal não consignado, cartão de crédito e cheque especial. A inadimplência 90d até fevereiro já indicava avanço, registrando 2,5% (+0,3 p.p. a/a e estável m/m), direcionada principalmente pelo segmento PF (3,3% +0,4 p.p. a/a e +0,1 p.p. m/m), acompanhando o maior endividamento das famílias, bem como seu movimento correlacionado com a alta da taxa de juros (com delay de 1 ano), e já mostra deterioração, como vimos nos resultados dos bancos já reportados. As taxas médias também evoluíram, totalizando 25,7% em fev/22, alta de 0,4 p.p. m/m e 6,0 p.p. a/a, com o segmento PF incrementando a alta, bem como a evolução dos spreads na mesma toada.

No último setorial, divulgado em maio/22 comentamos os resultados dos bancos, que nos trouxeram um sensor mais atualizado sobre o cenário, pelo menos até o 1T22. Desta forma, pudemos observar sinais de deterioração da qualidade de crédito e avanço dos spreads, com resultado impulsionado principalmente pelo avanço do mix das carteiras dos bancos em linhas de maiores taxas, porém mais arriscados. Explicamos melhor nossas expectativas para o cenário da inadimplência em um relatório especial, que você confere em nosso portal Inter Invest.

Além disso, a desaceleração do crédito, que reflete um cenário de maior alta nos juros e menor apetite das instituições ao risco, mostrou o início de um movimento que deve continuar ao longo do ano. Os últimos dados do Bacen da pesquisa de condições de crédito corroboram com o que vimos nos resultados do 1T22 e mostram que a demanda começou um movimento de desaceleração, principalmente nos segmentos de consumo e observamos um movimento mais acentuado no crédito habitacional. No crédito ao consumo, também vimos as aprovações de crédito performarem bem abaixo das aprovações esperadas pelas instituições financeiras, mostrando um maior nível de deterioração da qualidade de crédito neste segmento. Por outro lado, no crédito habitacional as aprovações continuam acima do esperado, mas seguem a tendência de desaceleração. Em MPME também pudemos ver uma demanda desacelerando, mas ainda assim o crédito observado é maior que as expectativas e no lado da oferta observamos menor disposição das instituições no período. Em grandes empresas temos visto uma menor oferta, principalmente após a corrida de crédito no início da pandemia e pelo forte ritmo de emissões em renda fixa no mercado de capitais, competindo na geração de crédito no segmento.

Nos demais dados setoriais, o acompanhamento das famílias endividadas, medido pela CNC, mostrou leve queda de 30 bps em maio, totalizando 77,4% com as contas em atraso representando 28,7%, aumento de 20 bps no mês. As famílias que não terão condições de pagar representaram 10,9% da pesquisa permanecendo estável contra abril.

O Pix apresentou forte avanço de 15% no mês de maio registrando 1,6 bilhões de transações e um volume financeiro de R$ 808,4 bilhões com alta de 19% m/m, vindo de uma maior utilização da ferramenta não só pelas transações P2P que já é amplamente disseminado, mas agora vindo do comércio varejista no país. Segundo a pesquisa feita pela consultoria Gmattos, em janeiro/21 o Pix era aceito por 16,9% dos comércios virtuais e em maio/22 já era aceito em 74,6% das lojas virtuais pesquisadas.

Destacamos também as emissões no mercado de capitais, que avançaram 40% no mês de maio, totalizando um volume financeiro de R$ 44,6 bilhões, com destaque para as emissões em renda fixa totalizando R$ 40,8 bilhões e alta de 40% m/m.


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