Macroeconomia


Global Markets | Temporada 3T22 | Big Techs

GAbi Joubert perfil 2

Gabriela Joubert

Publicado 03/nov5 min de leitura

Resultados das Big Techs

Os resultados das gigantes de tecnologia geraram assunto na semana passada ao trazerem desempenho misto entre as empresas, com performances avançando, mas abaixo do esperado, o que pressionou as ações do setor, que ainda sofrem com um cenário de inflação, juros elevados e consumo arrefecendo.

Mais que os números reportados, os constantes anúncios sobre o não atingimento dos guidances para este ano foi o que mais preocupou o mercado, com as companhias mostrando que não são imunes à desaceleração econômica global esperada. As receitas com propaganda e marketing mostraram forte recuo, espelhando a atual dificuldade dos clientes em equalizar o orçamento com os altos níveis inflacionários no país e no mundo, forçando cortes de despesas ao longo do trimestre. As companhias mais diversificadas, apesar de também impactadas, conseguiram mitigar alguns efeitos, como o caso da Microsoft e da Apple.

Destoando das demais, a Netflix abriu a temporada surpreendendo positivamente o mercado ao anunciar crescimento expressivo no número de novos assinantes e as ações chegaram a subir 14% antes da abertura do pregão.

Amazon – (AMZ/AMZO34)

Sentindo os efeitos da desaceleração econômica global na demanda por seus produtos, bem como a elevação dos custos de energéticos e impacto no transporte, além de juros mais elevados afetando o resultado financeiro, a Amazon reportou receitas de US$ 127,1 bi, levemente abaixo do consenso que esperava um total de US$ 127,5 bi (+5% t/t e +15% a/a). Contudo, o que mais desapontou o mercado foram as revisões mais pessimistas para as vendas no 4T22, que devem ampliar os pontos negativos já observados neste trimestre. As perdas nas operações internacionais somaram US$ 2,5 bi no trimestre, bem acima dos US$ 0,9 bi reportados no 2T22, com o desempenho na Europa fortemente afetado pelos efeitos da guerra na Ucrânia na cadeia de suprimentos e na inflação pesando no poder de consumo da população. A AWS (Amazon Web Services), empresa de tecnologia e armazenamento de dados da companhia, ajudou a mitigar os efeitos negativos, ao reportar crescimento de vendas de 28% a/a com serviços de nuvem, mas ficou abaixo do esperado pelo mercado e do observado no 3T21, quando o negócio cresceu 39%. Em vista dos desafios, a Amazon informou que tem revisado seus custos e postergando novos projetos, até que o cenário de consumo apresente melhoras.

Apple – (AAPL/AAPL34)

Depois de anunciar ao mercado que iria enfrentar desafios na produção do iPhone devido à escassez de insumos causada pela crise de suprimentos e, assim, ancorar as expectativas, a Apple reportou números acima do esperado, tanto para receitas quanto para o lucro, mas já antecipando uma queda no crescimento de receitas no 4T de cerca de 8%. Os resultados mostraram avanço de 10% nas vendas de iPhone que, apesar de recorde, ficou abaixo do esperado. Entretanto, as vendas do Mac avançaram 25% a/a, o que aliás foi a surpresa positiva do período, com um total de faturamento de US$ 11,5 bi, bem acima do consenso que estimava receitas de US% 9,6 bi para o segmento. A companhia informou que sua diversificação de produtos ajudou o desempenho no período, com a demanda retraída de Mac por conta dos choques na cadeia no passado impulsionando as vendas neste trimestre e compensando o recuo das outras frentes de negócio. Com isso, as receitas consolidadas somaram US$ 90,1 bi versus US$ 88,9 bi esperados pelo mercado (+9% t/t e +8% a/a), com o LPA totalizando US$ 1,29 ante os US$ 1,27 do consenso.

Alphabet (Google) (GOOGL/GOGL34)

Com a desaceleração econômica, as empresas repensaram suas estratégias de marketing, cortando despesas com propaganda. Com isso vimos as receitas da Alphabet serem fortemente impactadas por este efeito, especialmente com a queda das publicações no YouTube. Dentre os setores que mais diminuíram seus gastos com publicidade, a Google destacou o setor financeiro com bancos, seguradoras e financiadoras de imóveis, bem como plataformas de criptoativos. Na outra ponta, a companhia viu ainda números sólidos vindos de operadoras de viagens e empresas de varejo. As receitas com propaganda somaram US$ 54,48 bi (representando 79% do total consolidado), contra US$ 53,13 no trimestre anterior, expandindo, mas ficando abaixo do esperado. As receitas totais registraram US$ 69,09 bi, alta de 6% na comparação anual. Entretanto o lucro líquido teve queda de 14% a/a, ficando em US$ 15,0 bi, com um LPA de US$ 1,06 ante expectativa de US$ 1,25. A companhia também informou esperar deterioração nos resultados do 4T e, por conta disto, deve diminuir o ritmo de contratação previsto para este ano.

Meta (Facebook) (META/M1TA34)

Os resultados da Meta decepcionaram no 3T22 e as expectativas para o próximo trimestre não são confortantes, com a desaceleração global limitando o crescimento, enquanto a concorrência, como TikTok, segue atrapalhando os negócios da companhia, que também lida com constante ameaças regulatórias e os altos custos do Metaverso. Pelo segundo trimestre consecutivo, a companhia apresentou recuo de suas receitas, ampliando a queda de 0,9% observada no 2T22 para -4% neste trimestre, apesar de abaixo da contração de 5,6% esperada pelo mercado. Além de expectativas de receitas menores, a Meta também espera despesas mais elevadas e elevou o guidance do range de US$ 85 bi – US$ 87 bi para US$ 96 bi – US$ 100 bi. Ainda, estima custos mais elevados com o Reality Labs, responsável pelo Metaverso, de cerca de US$ 10 bi ao ano. Durante o call de resultados, Mark Zuckerberg, informou que espera colher os frutos da plataforma virtual daqui a uma década e que, até lá, a companhia irá revisitar projetos, reduzir o efetivo e reorganizar algumas áreas visando corte de custos.

Microsoft (MSFT/MSFT34)

O crescimento nas receitas reportado pela Microsoft no segundo trimestre de seu ano fiscal foi o menor em cinco anos, impactado pelo menor avanço nos serviços de nuvem e na unidade de PCs. A Azure, braço de serviços de nuvem da companhia, reportou robusto crescimento de 35% nas receitas, porém abaixo dos 36,5% esperados pelo mercado. O desempenho das vendas de licenças do Windows também deixou a desejar com as pressões inflacionárias forçando pessoas físicas e empresas a cortarem custos. A companhia também viu a unidade de PCs apresentar contração de 15% a/a, além de sinalizar mais impactos no próximo trimestre. Contudo, a presença global e a diversificação de produtos, como por exemplo a ferramenta Teams que seguiu desempenhando bem, ajudaram a minimizar os impactos negativos nos balanços da companhia. No consolidado, a receita líquida somou US$ 50,12 bi, alta de 11% a/a, levemente acima das expectativas de US$ 49,1 bi, mas os lucros somaram US$ 17,5 bi, avançando 4% a/a, mas ficando pouco abaixo dos estimados US$ 17,56 bi.

Netflix (NFLX/NFLX34)

A Netflix abriu a temporada para as empresas de tecnologia superando as expectativas de mercado ao reverter o desempenho ruim do trimestre anterior e adicionar mais de 2,4 mm de novos usuários à sua base de assinantes, que somou 223,1 milhões no 3T22. Enquanto os competidores sofrem com dificuldades de adesão, o portfólio, capilaridade e estratégia de lançamentos da empresa seguiu fazendo a diferença e fez com que as receitas totalizassem US$ 7,9 bi, avanço de 6% a/a, com um LPA de US$ 3,10, acima das expectativas. Por fim, o mercado viu com bons olhos o foco da companhia em geração de receitas e o lançamento do novo plano mais acessível, ao custo de US$ 7/mês, englobando propagandas e visando um público de menor poder aquisitivo, enquanto vem aplicando limitações ao compartilhamento de assinaturas com diferentes perfis.


Compartilhe essa notícia

Notícias Relacionadas

Receba nossas análises por e-mail