Resultados das Big Techs
Os resultados das gigantes de tecnologia geraram assunto na semana passada ao trazerem desempenho misto entre as empresas, com performances avançando, mas abaixo do esperado, o que pressionou as ações do setor, que ainda sofrem com um cenário de inflação, juros elevados e consumo arrefecendo.
Mais que os números reportados, os constantes anúncios sobre o não atingimento dos guidances para este ano foi o que mais preocupou o mercado, com as companhias mostrando que não são imunes à desaceleração econômica global esperada. As receitas com propaganda e marketing mostraram forte recuo, espelhando a atual dificuldade dos clientes em equalizar o orçamento com os altos níveis inflacionários no país e no mundo, forçando cortes de despesas ao longo do trimestre. As companhias mais diversificadas, apesar de também impactadas, conseguiram mitigar alguns efeitos, como o caso da Microsoft e da Apple.
Destoando das demais, a Netflix abriu a temporada surpreendendo positivamente o mercado ao anunciar crescimento expressivo no número de novos assinantes e as ações chegaram a subir 14% antes da abertura do pregão.
Amazon – (AMZ/AMZO34)
Sentindo os efeitos da desaceleração econômica global na demanda por seus produtos, bem como a elevação dos custos de energéticos e impacto no transporte, além de juros mais elevados afetando o resultado financeiro, a Amazon reportou receitas de US$ 127,1 bi, levemente abaixo do consenso que esperava um total de US$ 127,5 bi (+5% t/t e +15% a/a). Contudo, o que mais desapontou o mercado foram as revisões mais pessimistas para as vendas no 4T22, que devem ampliar os pontos negativos já observados neste trimestre. As perdas nas operações internacionais somaram US$ 2,5 bi no trimestre, bem acima dos US$ 0,9 bi reportados no 2T22, com o desempenho na Europa fortemente afetado pelos efeitos da guerra na Ucrânia na cadeia de suprimentos e na inflação pesando no poder de consumo da população. A AWS (Amazon Web Services), empresa de tecnologia e armazenamento de dados da companhia, ajudou a mitigar os efeitos negativos, ao reportar crescimento de vendas de 28% a/a com serviços de nuvem, mas ficou abaixo do esperado pelo mercado e do observado no 3T21, quando o negócio cresceu 39%. Em vista dos desafios, a Amazon informou que tem revisado seus custos e postergando novos projetos, até que o cenário de consumo apresente melhoras.
Apple – (AAPL/AAPL34)
Depois de anunciar ao mercado que iria enfrentar desafios na produção do iPhone devido à escassez de insumos causada pela crise de suprimentos e, assim, ancorar as expectativas, a Apple reportou números acima do esperado, tanto para receitas quanto para o lucro, mas já antecipando uma queda no crescimento de receitas no 4T de cerca de 8%. Os resultados mostraram avanço de 10% nas vendas de iPhone que, apesar de recorde, ficou abaixo do esperado. Entretanto, as vendas do Mac avançaram 25% a/a, o que aliás foi a surpresa positiva do período, com um total de faturamento de US$ 11,5 bi, bem acima do consenso que estimava receitas de US% 9,6 bi para o segmento. A companhia informou que sua diversificação de produtos ajudou o desempenho no período, com a demanda retraída de Mac por conta dos choques na cadeia no passado impulsionando as vendas neste trimestre e compensando o recuo das outras frentes de negócio. Com isso, as receitas consolidadas somaram US$ 90,1 bi versus US$ 88,9 bi esperados pelo mercado (+9% t/t e +8% a/a), com o LPA totalizando US$ 1,29 ante os US$ 1,27 do consenso.
Alphabet (Google) (GOOGL/GOGL34)
Com a desaceleração econômica, as empresas repensaram suas estratégias de marketing, cortando despesas com propaganda. Com isso vimos as receitas da Alphabet serem fortemente impactadas por este efeito, especialmente com a queda das publicações no YouTube. Dentre os setores que mais diminuíram seus gastos com publicidade, a Google destacou o setor financeiro com bancos, seguradoras e financiadoras de imóveis, bem como plataformas de criptoativos. Na outra ponta, a companhia viu ainda números sólidos vindos de operadoras de viagens e empresas de varejo. As receitas com propaganda somaram US$ 54,48 bi (representando 79% do total consolidado), contra US$ 53,13 no trimestre anterior, expandindo, mas ficando abaixo do esperado. As receitas totais registraram US$ 69,09 bi, alta de 6% na comparação anual. Entretanto o lucro líquido teve queda de 14% a/a, ficando em US$ 15,0 bi, com um LPA de US$ 1,06 ante expectativa de US$ 1,25. A companhia também informou esperar deterioração nos resultados do 4T e, por conta disto, deve diminuir o ritmo de contratação previsto para este ano.
Meta (Facebook) (META/M1TA34)
Os resultados da Meta decepcionaram no 3T22 e as expectativas para o próximo trimestre não são confortantes, com a desaceleração global limitando o crescimento, enquanto a concorrência, como TikTok, segue atrapalhando os negócios da companhia, que também lida com constante ameaças regulatórias e os altos custos do Metaverso. Pelo segundo trimestre consecutivo, a companhia apresentou recuo de suas receitas, ampliando a queda de 0,9% observada no 2T22 para -4% neste trimestre, apesar de abaixo da contração de 5,6% esperada pelo mercado. Além de expectativas de receitas menores, a Meta também espera despesas mais elevadas e elevou o guidance do range de US$ 85 bi – US$ 87 bi para US$ 96 bi – US$ 100 bi. Ainda, estima custos mais elevados com o Reality Labs, responsável pelo Metaverso, de cerca de US$ 10 bi ao ano. Durante o call de resultados, Mark Zuckerberg, informou que espera colher os frutos da plataforma virtual daqui a uma década e que, até lá, a companhia irá revisitar projetos, reduzir o efetivo e reorganizar algumas áreas visando corte de custos.
Microsoft (MSFT/MSFT34)
O crescimento nas receitas reportado pela Microsoft no segundo trimestre de seu ano fiscal foi o menor em cinco anos, impactado pelo menor avanço nos serviços de nuvem e na unidade de PCs. A Azure, braço de serviços de nuvem da companhia, reportou robusto crescimento de 35% nas receitas, porém abaixo dos 36,5% esperados pelo mercado. O desempenho das vendas de licenças do Windows também deixou a desejar com as pressões inflacionárias forçando pessoas físicas e empresas a cortarem custos. A companhia também viu a unidade de PCs apresentar contração de 15% a/a, além de sinalizar mais impactos no próximo trimestre. Contudo, a presença global e a diversificação de produtos, como por exemplo a ferramenta Teams que seguiu desempenhando bem, ajudaram a minimizar os impactos negativos nos balanços da companhia. No consolidado, a receita líquida somou US$ 50,12 bi, alta de 11% a/a, levemente acima das expectativas de US$ 49,1 bi, mas os lucros somaram US$ 17,5 bi, avançando 4% a/a, mas ficando pouco abaixo dos estimados US$ 17,56 bi.
Netflix (NFLX/NFLX34)
A Netflix abriu a temporada para as empresas de tecnologia superando as expectativas de mercado ao reverter o desempenho ruim do trimestre anterior e adicionar mais de 2,4 mm de novos usuários à sua base de assinantes, que somou 223,1 milhões no 3T22. Enquanto os competidores sofrem com dificuldades de adesão, o portfólio, capilaridade e estratégia de lançamentos da empresa seguiu fazendo a diferença e fez com que as receitas totalizassem US$ 7,9 bi, avanço de 6% a/a, com um LPA de US$ 3,10, acima das expectativas. Por fim, o mercado viu com bons olhos o foco da companhia em geração de receitas e o lançamento do novo plano mais acessível, ao custo de US$ 7/mês, englobando propagandas e visando um público de menor poder aquisitivo, enquanto vem aplicando limitações ao compartilhamento de assinaturas com diferentes perfis.