Mercados corrigem com receio à recessão
A semana passada reafirmou o ambiente de bear market que temos vivenciado nos mercados globais, após o Fed ter comunicado o aumento de 0,75 p.p. na taxa de juros norte americana. Com isso, o mercado desabou para a maior queda semanal desde 2020 e passou a embutir em suas projeções maior probabilidade de recessão nos Estados Unidos, impulsionada pela política monetária contracionista dos principais Bancos Centrais pelo mundo para combater a alta inflação e, assim, continuamos observando um clima de correção nas principais bolsas internacionais em conjunto, claro, da evolução da curva de juros dos Estados Unidos que vem saltando há três meses.
Maior aversão nos mercados. Há oportunidades?
Com a expectativa de um Fed mais hawkish para combater a inflação, as curvas de juros empinaram e saíram de cerca de 2,4% na ponta curta há três meses atrás para cerca de 3,4% atualmente. Desta forma, é natural que os valuations das companhias comecem a sofrer maiores descontos, embutindo projeções mais rigorosas se adaptando ao cenário mais restritivo e de maior custo de capital. Não foi atoa que o S&P começou a corrigir do esticado valuation que se encontrava há meses atrás, e o Vix, com o atual ambiente de aversão ao risco vem refletindo um ambiente ainda incerto e performando acima dos 20%, que reflete maior aversão dos mercado.
Apesar da maior volatilidade, começamos a observar valuations mais sóbrios retornando às médias históricas nos mercados e que podem trazer algumas oportunidades, já que diferente de outras crises, a alavancagem das companhias está bem abaixo do observado e as expectativas de lucros não parecem ter demonstrado uma deterioração tão severa a ponto de colocar os múltiplos de volta e até descontado frente a média histórica dos últimos 10 anos.
Porém, ainda é cedo para ditarmos se de fato há boas oportunidades em meio ao sell off global, já que bear markets costumam descontar severamente os mercados, e ainda há bastante incerteza na mesa, já que uma recessão pode trazer ainda revisão de expectativas para a lucratividade das empresas pela frente.
Américas
Após a decisão do Fed de elevar os juros em 0,75 p.p. na semana passada, o mercado americano continuou seu movimento de aversão ao risco, desta vez, o discurso é de maior probabilidade de ocorrer uma recessão no país por conta de uma postura mais agressiva da política monetária do Fed no combate à inflação. Os mercados terminaram a semana com forte queda, com o S&P500 caindo 5,8% e a Nasdaq 4,8%, maiores quedas semanais desde 2020. Para complementar, dados da produção industrial surpreenderam negativamente em maio, sinalizando recessão pela frente. Na semana passada ações do setor de energia, principalmente de óleo e gás despencaram com preocupações acerca da recessão e seus impactos na demanda. Por outro lado, o destaque positivo ficou para farmacêuticas e companhias de consumo discricionário.
Europa
Em semana de agenda mais fraca, os mercados na zona do euro acabaram refletindo o clima de aversão ao risco após decisão do Fed na quarta-feira, com o FTSE caindo 4,1%, DAX 4,6% e CAC 40 4,9% na semana. Dirigentes do BCE alegam que podem ser necessárias várias altas de 0,5 p.p. caso a inflação permaneça alta por lá, mas que não enxergam uma alta acima de 200 bps acumulada em 2022. Também contribuíram para o clima de cautela alguns dados como o PIB do Reino Unido que veio abaixo das expectativas com queda de 0,3% m/m e alta de 3,4% a/a, produção industrial e manufatura do Reino Unido que caíram 0,6% m/m e -1,0% m/m respectivamente e o CPI da Zona do Euro que foi em linha com as expectativas, mas uma alta de 3,8% a/a e 0,8% m/m em maio. Em meio ao conflito, a União Europeia deu o aval para a Ucrânia ingressar no bloco, em discurso em São Petersburgo, Vladimir Putin amenizou a situação e mencionou que a Rússia não tem nada contra isso e que não se trata de um bloco militar, em alusão à Otan. Ao mesmo tempo, a União Europeia concordou em reduzir compras de petróleo russo em cerca de 90% até o final de 2022 em resposta à invasão na Ucrânia e aos cortes de fornecimento russo à região.
Ásia
Os indicadores asiáticos não destoaram da correção global e os indicadores Nikkei e Hang Seng caíram 6,7% e 3,4% na semana passada, refletindo o clima de aversão ao risco em meio às expectativas de recessão. Surpreendeu a decisão do BoJ (banco central japonês) que manteve sua política monetária acomodatícia e inalterou sua taxa estimulativa, desta forma o iene mostrou forte desvalorização na semana passada, porém, o BoJ reforçou que vai monitorar de perto os impactos da taxa de câmbio na economia, e a recente desvalorização do iene dificulta o planejamento de negócios das companhias e aumentam as incertezas econômicas no país. Por outro lado, mesmo em semana de sell off, o índice SSEC da China avançou 1% na semana, em função de expectativas com a política monetária em Pequim, que pode dar suporte para as ações que se beneficiarão da reabertura econômica após lockdowns, que ainda persistem enquanto o covid ainda não é controlado por lá. Também contribuiu para o bom humor, o dado da produção industrial chinesa que surpreendeu as expectativas e subiu 0,7% a/a. Estrangeiros tem aportado mais no mercado chinês, refletindo uma inversão de humor em relação ao país. As ações do setor de tecnologia representado pelo índice HSTECH mostrou forte recuperação de 34% desde a mínima em março deste ano.
Flashing Forward
A semana traz uma agenda mais fraca, com maior expectativa para o discurso de Jerome Powell nesta quarta-feira no congresso americano. Wall Street voltou do feriado com fôlego e se recuperando das fortes perdas da semana passada, que permaneceu após o discurso de Powell, que assegurou que o Fed vai aumentar os juros em um ritmo suficientemente elevado e rápido para conter a inflação, sem apertar o crédito de maneira que não estrangule a economia e cause uma recessão. Ao longo das perguntas, republicanos acusavam o Fed de ter demorado para começar a aumentar as taxas. Além disso, Powell não descartou a possibilidade de uma recessão. Enquanto isso, Joe Biden pressiona a industria de refino nos EUA para reduzir os preços dos combustíveis, principalmente após retirar o imposto federal sobre a gasolina. Ainda durante a semana podemos esperar alguns dados como PMI na zona do euro e Reino Unido e sentimento do consumidor nos Estados Unidos trazerem algum direcionamento ao mercado. O mercado asiático performava em baixa durante a semana em meio ao clima de aversão ao risco global e a queda das commodities, principalmente do minério de ferro, que afetou companhias relacionadas e ao petróleo, que apresentou forte queda na semana com receios de uma queda na demanda em função de uma possível recessão.