Macroeconomia


Global Markets Ed.22.22

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Gabriela Joubert

Publicado 04/out7 min de leitura

Atividade perde força e bolsas entram em rally

Na semana passada, a aversão ao risco se manteve, precificando os tempos mais difíceis à frente com crédito mais caro e desaceleração global. As bolsas nos Estados Unidos acumularam queda de 3%, em média, enquanto na Europa o destaque ficou por conta da desvalorização da libra esterlina. Na Ásia, bolsas também corrigiram, em reflexo à uma China que recupera, mas abaixo do esperado para um período que antecede o processo de estocagem para o Ano Novo Chinês e antes do fechamento do mercado chinês por uma semana para a Golden Week.

Após dias de oscilações, a semana se inicia com bom-humor generalizado, intensificado por dados de atividade mostrando desaceleração, refletindo as políticas monetárias restritivas dos Bancos Centrais globais no combate à inflação. O rally beneficia as companhias de growth, em especial as empresas de tecnologia, que devolvem parte das quedas dos últimos meses e, nos Estados Unidos, Nasdaq acumula alta de mais de 5%.

A situação na Europa permanece delicada mesmo com a libra revertendo parte das quedas da semana passada, mas o mercado de bonds ainda segue sob estresse, e o Credit Suisse coloca o setor financeiro no radar ao ter sua saúde financeira questionada. Por fim, na Ásia, a China para por uma semana para a celebração do Dia Nacional na China.

Confira na edição desta semana!

América: atividade desacelera e mercado comemora.

As notícias de enfraquecimento da economia norte-americana têm sido recebidas com êxito pelos mercados que recuperam parte das perdas das últimas semanas, após o sell-off generalizado em razão da posição mais dura do FED, elevando os juros e o tom. Apesar disso, dirigentes da instituição tem vindo a público reforçar a necessidade de juros mais elevados por mais tempo, a fim de trazer a inflação de volta aos 2%.

Na semana, o PMI Industrial recuou para 50,9 pontos, menor nível desde maio de 2020 – apesar de acima dos 50 pts que indicam expansão – e o mercado comemorou, entendendo que os dados de atividade desacelerando poderiam ser bem recebidos pelo FED, levando a uma revisão de sua política econômica atual. O relatório Jolts mostrou queda mais contundente, reportando 10,1 milhões de vagas abertas, uma redução de 1,1 milhão, maior ritmo de queda em dois anos e meio. O dado reflete as expectativas das empresas sobre o menor ritmo de contratação para o segundo semestre, conforme antecipado durante a temporada de resultados do 2T22.

Ásia: Golden Week.

A semana começa com menor liquidez em razão da Golden Week na China em celebração ao China National Day (Dia Nacional da China), período em que o país asiático para e no qual observa-se o maior fluxo anual de viagens e turismo, lotando aeroportos, portos e rodovias. As Golden Weeks – são duas no ano: em outubro, para o dia da China e no início do ano, para o Ano Novo Chinês – trazem efeitos importantes para o comércio global. Primeiro, nas semanas que antecedem o feriado prolongado, observa-se um movimento de aumento das importações chinesas a fim de garantir insumos e produção suficientes para o período de parada, geralmente três meses antes (estamos agora passando pelo período preparatório para o Ano Novo Chinês, que este ano será na última semana de janeiro). O segundo momento é o período do feriado em si, no qual observamos efeitos na cadeia de suprimentos com pausa na produção, dificuldades de desembarques e embarques de mercadorias em portos, em razão do grande volume de trânsito e reduzido contingente de trabalhadores.

Os dados de atividade na China para setembro mostram recuperação, mas ainda abaixo do esperado, mesmo considerando o período de negociações para o feriado em janeiro, o que mostra que a segunda maior economia do mundo continua desacelerando. O setor imobiliário, em crise, reflete as dificuldades em retomar o ritmo de vendas, mesmo com os estímulos do governo e dificulta demais setores da economia, como a indústria siderúrgica.

Na Austrália, o RBA, Banco Central do país, surpreendeu os mercados ao elevar sua taxa básica de juros em 25 bps, abaixo dos 50 bps esperados pelo mercado, deixando aberto espaço para novos aumentos, mas mostrando que o ritmo atual e os efeitos trazidos já estão em nível confortável. O movimento animou investidores globais, em especial nos Estados Unidos, em mais um fator favorável a um FED mais amigável.

Europa: mercado de bonds em colapso?

Após os choques da semana passada, quando o governo britânico propôs corte de impostos a serem financiados por elevação da dívida, a libra esterlina recupera parte das perdas, mas segue 16% depreciada perante o dólar, refletindo por um lado a valorização da moeda americana perante pares globais com movimento do FED nos juros e, por outro, os receios quanto aos rumos da economia britânica e os efeitos de sua política monetária. Aliás, as incertezas e uma crise de confiança que começa a se desenhar com o governo da primeira-ministra, Liz Truss, limita a recuperação dos bonds do Reino Unido, que seguem próximos às mínimas.

Juros mais altos são realidade em todo o continente e o BCE, BC Europeu, reafirmou sua política monetária contracionista, após as últimas altas de 50 bps e 75 bps em julho e setembro, respectivamente, confirmando novas altas de juros, apesar da possibilidade uma redução no ritmo no fim do ano. A instituição se manifesta visando o controle da inflação na região que ainda se mantém em níveis históricos, com núcleos em 4,8%.

O que aconteceu com o Credit Suisse? As ações do segundo maior banco da Suíça e um dos maiores do mundo amanheceram a segunda-feira em queda de mais de 11%, enquanto o CDS dos bonds dispararam, após questionamentos sobre a capacidade do banco de reestruturar suas operações sem a necessidade de aporte de capital. O banco informou que anunciará um novo plano de reestruturação no dia 27/10, dia da divulgação de seus resultados do 3T22. Após o susto no fim de semana e consequente queda das ações, os papéis recuperaram parte das perdas com o banco, analistas e indústria confirmarem que a saúde financeira da instituição se mantém sólida. Contudo, no acumulado do ano, os papéis caem cerca de 60%, refletindo uma crise em curso desde março de 2021, quando o Credit Suisse perdeu mais de US$ 5 bi com o colapso da Archegos.

Em julho deste ano, o banco anunciou seu segundo plano estratégico em menos de um ano, demitindo seu CEO, e apresentando um projeto ambicioso de reduzir US$ 1 bi em custos, além de alavancar seus negócios de investimentos. Em nossa opinião, o caso do Credit Suisse está longe de se tornar um novo Lehman Brothers, como vimos em 2008 no auge da crise financeira, uma vez que os receios ficam por conta, principalmente, da capacidade de execução de seu plano de reestruturação. Mas, acende um alerta do impacto dos juros mais elevados no balanço das companhias, principalmente as mais endividadas.

Flashing Forward:

Para esta semana, os olhares estão voltados para o mercado de trabalho norte-americano, com a divulgação de Novos Empregos Privados Não-Agrícolas – ADP, Novos Pedidos Seguro-Desemprego, Taxa de Desemprego, Taxa de Participação na Força de Trabalho e Relatório de Emprego-Não Agrícola, o famoso Payroll, no qual se espera desaceleração ante o período anterior. Ainda nos Estados Unidos, teremos a divulgação do ISM Serviços e das Aplicações para Novas Hipotecas. Já na zona do euro, devemos ver uma redução no indicador de Vendas no Varejo M/M que vem sofrendo pela alta inflação nos países europeus. Por fim, na China terá o PMI Serviço, que de acordo com as estimativas de mercado deve vir com uma leve redução.


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