Macroeconomia


Global Markets Ed.18.22

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Gabriela Joubert

Publicado 30/ago5 min de leitura

Juros em alta, ações em baixa

Após a reunião em Jackson Hole na sexta-feira passada e o tom mais hawkish de Jerome Powell indicando um combate mais duro à inflação e acabando com qualquer expectativa do mercado de que o aperto monetário fosse terminar mais cedo, desde então os mercados globais voltaram a entrar em ritmo de queda com a abertura da curva dos Treasuries yields, que voltaram a registrar níveis acima de 3% nos rendimentos de 10 anos. Enquanto isso, o petróleo continua despencando com o Brent abaixo dos U$ 100 o barril, refletindo receios sobre a demanda com uma recessão iminente e a volta do acordo nuclear entre o Irã e Estados Unidos, colocando os estoques de óleo da República Islâmica de volta ao mercado exportador.

O S&P 500 caiu mais de 5% desde a fala de Powell e mesmo que a temporada de resultados do 2T22 tenha sido em geral, melhor que o esperado, as incertezas pela frente acerca de uma iminente recessão ainda tomam conta e vão trazendo penalização para as ações com cortes nas expectativas de lucros. Na Europa, dados da inflação na Alemanha trouxeram o nível mais alto em quase 50 anos em agosto, superando a máxima de três meses anteriores e fortalecendo a expectativa de que o BCE também aumente os juros no mês que vem.

Agora, as atenções da semana se voltam para os dados do payroll que saem na sexta-feira e caso continuem vindo fortes, devem continuar com o indicativo de um maior aperto monetário.

Confira na edição desta semana!

América: payroll pode dar trabalho ao Fed.

Esta semana, o mercado americano continua refletindo a postura hawkish do Fed, trazendo efeitos para a abertura na curva de juros e queda nas bolsas. O presidente do Fed de Nova York continuou o tom mais duro dizendo que a inflação prevista para ficar entre 2,5% e 3% em 2023 deve pressionar para que os juros subam “um pouco ou um pouco” acima de 3,5% para conter os preços.

Os dados da confiança do consumidor surpreenderam positivamente reportando 103,2 pontos em agosto ante expectativa de 97,9 e os preços dos imóveis subiram 0,1% em junho, mas o que o mercado espera mesmo são os dados do payroll que sairão na sexta-feira. Alguns sinais de que os dados de emprego na semana que vem podem vir fortes e dar trabalho para o Fed controlar a inflação puderam ser vistos no relatório de ofertas de emprego JOLTs de julho, que superou as estimativas que eram de 10,475 mm e vieram 11,239 mm.

Os mercados nos EUA que abriram em alta viraram para a queda nesta terça-feira após os fortes dados da oferta de emprego JOLTs, o S&P500 fechou em queda de 1,04% e a Nasdaq caiu 1,09%. As maiores quedas foram lideradas por companhias de energia, seguindo a queda do petróleo no mercado e por companhias de tecnologia como Apple, Microsoft e Tesla.

Ásia: Covid ainda pesa.

A China continua vivenciando dificuldades com mais cidades grandes como Shenzhen e Dalian intensificando restrições contra a Covid-19, em resposta ao aumento de casos e trazendo receios de uma maior desaceleração econômica. Ao mesmo tempo o mundo vai pesando um aperto monetário, que deve drenar a liquidez global e afetar o espaço para a China manter a trajetória de flexibilização econômica. Por lá a onda de calor também vai trazendo novos problemas e impactando a demanda de energia, que afetou hidrelétricas no país. O governo chinês deve acelerar a construção de novas usinas hidrelétricas, além de ter aprovado usinas nucleares e projetos de transmissão de energia. Quem acabou ganhando notoriedade neste cenário, foi a fonte de energia a carvão, que pode pressionar em uma demora para que a China elimine sua dependência de combustíveis fósseis.

Os mercados asiáticos mostram desempenho misto, com o Shangai Composto caindo 0,42%, Hang Seng caindo 0,9%, refletindo o momento adverso com Covid pressionando a desaceleração econômica no país. Por outro lado, o Nikkei fechou com ganhos de 1,14% com dados de emprego acima do esperado no Japão.

Europa: Acenando com aperto monetário mais agressivo.

O desenrolar da crise energética arrefeceu as projeções de crescimento no continente europeu, que agora enfrenta inflação mais forte devido aos preços do gás. A expectativa de que os preços atuais se sustentem nos próximos meses afeta diretamente o custo de vida da população europeia e pode exigir do Banco Central Europeu (BCE) mais celeridade na política monetária contracionista. O consenso de mercado aponta um aumento de 50 bps na próxima reunião em setembro, mas uma ala mais hawkish não descarta uma evolução de 75 bps. Por outro lado, a epidemia de varíola dos macacos retrocede na Europa e traz alívio. Em coletiva de imprensa, o diretor da OMS, Hans Henri Kluge, confirma que há sinais positivos na Espanha, Alemanha, França e Portugal. Contudo, os esforços deverão ser intensificados para combater o contágio.

Os mercados acionários do velho continente recuaram nessa terça-feira refletindo toda essa conjuntura. O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em queda de 0,67%. As bolsas de Londres, Paris e Madri operaram no vermelho, mas Frankfurt foi exceção e fechou positiva. O índice de sentimento econômico recuou de 98,9 em julho a 97,6 em agosto, corroborando a leitura pessimista sobre a atividade dado os recentes acontecimentos.


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