Indefinição e recessão mantêm a cautela na semana
Seguindo a indefinição apresentada pela ata do FOMC na semana passada, esta semana mercados operam mistos enquanto aguardam o evento em Jackson Hole na sexta-feira, com a presença do presidente do FED, Jerome Powell, e digerem dados mais fracos de PMIs nas principais economias desenvolvidas do mundo.
Nos Estados Unidos, mais dúvidas que esclarecimentos foram trazidos nos minutos do FED na semana passada e as bolsas botaram fim ao rally dos últimos dias, segurando o ritmo enquanto aguardam novos sinais. Na Europa, a inflação segue perturbando e impactando o bolso do consumidor, além de dificultar a vida dos bancos centrais na região que precisam conter os aumentos de preços sem pressionar demais a economia local. E na Ásia, a política de estímulos parece não surtir efeitos e a economia continua em rota descendente. Os principais índices globais fecharam em queda na semana passada, reduzindo o movimento de recuperação dos últimos dias, e abrem a semana estáveis, não sem apresentar a volatilidade esperada em momentos de grandes incertezas como os atuais.
América: sem orientação!
Esta semana, os dados de PMI nos Estados Unidos mostraram nova retração, caindo de 47,7 pontos em julho para 45 pontos em agosto, menor nível em 18 meses, conforme a demanda no país desacelera, impactada pela inflação e pelas condições financeiras mais apertadas. O mesmo desempenho foi observado no PMI de Serviços que retraiu para 44,1 pontos, abaixo do consenso esperado pelo mercado.
Apesar dos dados mais fracos da economia, a resposta dos mercados foi de alívio, diante de uma provável manutenção do ritmo de aperto monetário esperado pelo FED em virtude da visível desaceleração na economia americana. A última ata do FOMC trouxe a manutenção do tom hawkish da instituição, mas trouxe também dúvidas quanto aos próximos passos do Banco Central americano, uma vez que os minutos do FED deixaram espaço para revisão dos movimentos a depender dos dados macro de curto prazo. Com o mercado amplamente precificando mais 75 bps na reunião de setembro, a dúvida prevalece quanto aos próximos aumentos, que se esperam em torno de 50 bps. A semana deve seguir com mercados operando próximos à estabilidade, enquanto aguardam ansiosos o evento em Jackson Hole na sexta, momento no qual o presidente do FED, Jerome Powell, deverá trazer mais sinais sobre o que esperar da política monetária da maior economia do país para este próximo ciclo.
Ásia: estímulos em vão.
Em ritmo de recuperação, os mercados asiáticos iniciaram a semana animados com notícias de novos estímulos do governo chinês para a indústria imobiliária visando suavizar a crise que hoje toma conta do setor. O governo local anunciou corte na taxa de referência para financiamentos imobiliários, mas a demanda segue fraca, refletindo o sentimento de cautela dos consumidores locais. Outra notícia que animou os investidores foi a provável oferta de 200 bilhões de yuans (US$ 29,2 mm) em empréstimos especiais para garantir a entrega de imóveis em fase de construção e evitar as ameaças de boicotes que vinham crescendo na região. Contudo, os novos estímulos parecem não surtir efeito, não sendo eficazes para limitar o efeito de desaceleração econômica que vemos no país, bem como a crise no setor de Real Estate e, mais recentemente, o agravamento do abastecimento energético no país. Na semana passada, a China emitiu seu primeiro alerta de seca em razão de uma forte onda de calor que passa pelo país. Com isso, vimos iniciar o processo de racionamento de energia em algumas indústrias para garantir o abastecimento de setores-chave, como o agrícola, sem que a colheita anual seja prejudicada, incluindo mais uma variável negativa à já difícil equação da economia chinesa. Devemos esperar ainda mais desaceleração na produção do país, que segue sofrendo com ameaças constantes de lockdown com a política zero covid imposta pelo governo.
Europa: recessão é pauta mais uma vez.
O PMI na Zona do Euro mostrou novamente contração em agosto, pelo segundo mês consecutivo, ao registrar 49,2 pontos, levemente acima do consenso, mas abaixo do nível observado em julho (49,9 pts), conforme o custo de vida encarece e restrições de oferta limitam a capacidade de produção da região. Com isso, a economia da zona do euro caminha para um 3T de contração, trazendo uma base ainda mais fraca para o 4T do ano, período de maiores dificuldades em razão da chegada do inverno e no qual deveremos ver maiores impactos de energia, em razão dos altos preços do gás natural e da escassez causada pela guerra na Ucrânia.
Os elevados preços de energia têm afetado os custos no mundo, mas, principalmente, na Europa o que torna a situação do BCE ainda mais delicada, com pressões vinda de choques de oferta e que levaram a inflação na região aos dois dígitos recentemente, devendo perdurar por mais tempo que o restante dos países. Espera-se que o banco central europeu suba os juros novamente na próxima reunião em setembro, podendo chegar a um aumento total de 205 bps até o fim do ano. Contudo, o desafio da instituição é grande ao tentar conter as pressões inflacionárias sem prejudicar uma economia já fragilizada.