Macroeconomia


Global Markets Ed.16.22

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Gabriela Joubert

Publicado 16/ago8 min de leitura

Cautela com FED e desaceleração na China

A semana iniciou sob cautela diante de dados piores que o esperado na economia chinesa, indicando que a desaceleração no país pode ser ainda mais forte que o esperado anteriormente, mas também com investidores desacelerando o rally da semana passada antes da Ata do Fed que sai amanhã.

O sentimento levemente positivo tem segurado os índices lá fora e aqui, com mercados já precificando um ritmo menos agressivo de elevação dos juros pelo Banco Central americano em vista a uma inflação que mostra sinais de desaceleração. Contudo, os riscos mapeados seguem no radar, com também Europa ainda lidando com as dificuldades de um cenário macro delicado de alta de juros e inflação, além do conflito no leste europeu e os impactos na capacidade produtiva da região.

Na agenda de balanços corporativos, as companhias seguem superando as expectativas e nos Estados Unidos esse número chega a 77% das empresas que já reportaram resultados (92% do total), com as varejistas encerrando a temporada esta semana.

Confira na edição desta semana!

América: quais os próximos passos do FED?

A pergunta mais feita nos últimos dias segue no radar e os mercados acompanham de perto não só os dados macroeconômicos, mas também as falas dos dirigentes do FED em busca de sinais sobre o ritmo e o período do aperto monetário proposto pela instituição. Semana passada, mencionamos o efeito do recente rally diante das expectativas do mercado de um FED mais dovish, especialmente após dados de inflação terem vindo abaixo do esperado, abrindo espaço para movimentos mais suaves. Contudo, os pronunciamentos dos diretores do banco central norte-americano reforçaram a necessidade de um aperto agressivo até que as pressões de preços tenham um fim. No início desta semana, dados de confiança da construção também mostraram desaceleração. O Índice de mercado imobiliário (NAHB – National Association of Home Builders) caiu para os 49 pontos (-6 p.p. m/m), a oitava queda mensal consecutiva e a menor leitura desde 2014 - com exceção do período da pandemia -, refletindo os maiores custos da construção e taxas mais elevadas de financiamento. O Índice Empire State também assustou em sua última leitura, ao mostrar que as atividades de manufatura despencaram em agosto, a maior queda da série histórica.

Por fim, nesta semana as grandes varejistas divulgam seus resultados do 2T22 e depois dos números decepcionantes do primeiro trimestre, quando as companhias mostraram estoques muito acima do esperado, em reflexo à mudança de postura do consumidor em meio ao cenário de maior inflação - revisando para baixo as projeções para o 2S22 -, tanto Walmart quanto Home Depot bateram as expectativas do mercado com lucros acima do esperado. Mesmo assim, mantiveram a visão mais cautelosa para o restante do ano, devido às atuais incertezas no cenário macroeconômico no país.

Europa: risco de recessão

Aproveitando o rally dos últimos dias, as bolsas europeias seguem avançando, motivadas pelo momento técnico mais favorável, apesar dos fundamentos ainda mostrarem um cenário mais adverso para as empresas no velho continente. Os desafios de inflação e ciclo de aperto monetário mantém um horizonte recessivo para a economia local que ainda é potencializado pela crise energética na região. Apesar de tudo, as ações de segmentos mais defensivos - como farmacêuticas e mineradoras - ressurgiram ao longo da semana, recuperando-se do tombo após dados piores que o esperado na China. Em Londres, os resultados da BHP bateram todas as estimativas e as ações da companhia dispararam, levando consigo seus pares. Apesar do momentum positivo, as projeções para o segundo semestre seguem mais incertas e o sentimento ainda é bastante negativo. A pesquisa ZEW mostrou nova queda em agosto, indicando uma contração econômica à frente na principal economia da região, especialmente com as contínuas ameaças de cortes no abastecimento de gás no país. Lembramos que a empresa russa, Gazprom, limitou o abastecimento de gás do gasoduto Nord Stream 1 em 20% e, com a chegada do inverno, aumentam os receios de apagões e racionamento ainda piores do que os observados em 2021.

Ásia: na contramão dos juros

A semana iniciou sob cautela diante de dados mais fracos da economia chinesa, confirmando nossa visão de que a desaceleração está maior que o esperado. Mesmo com impactos mais amenos de lockdowns em julho, a Produção Industrial no país desacelerou ante junho, crescendo 3,8% a/a, e ficando abaixo das expectativas do consenso +4,6%. As vendas ao varejo também surpreenderam negativamente ao reportarem um crescimento de apenas 2,7% a/a, enquanto o mercado esperava um avanço de 5%. Uma mistura de novo normal pós-covid e a política de tolerância zero, bem como o sentimento de tempos difíceis à frente têm limitado a recuperação no país e o objetivo do governo de entregar um PIB de 5,5% para este ano torna-se cada vez mais difícil. Com isso, já vemos importantes setores da economia chinesa, como Real Estate e Comércio Exterior, sofrendo para retomar seu ritmo de atividade anterior. No mercado interno, os constantes esforços do governo para limitar a especulação no setor imobiliário tem causado desaceleração de vendas e preços nos imóveis. No mercado externo, a desaceleração econômica global, bem como movimento de desglobalização da cadeia de suprimentos podem indicar arrefecimento das exportações do país asiático nos próximos anos. A bateria de estímulos anunciada há alguns meses, culminando no recente anúncio de corte dos juros, movimento na contramão da política contracionista que vemos no restante do mundo, parece não estar surtindo efeito. O efeito deste cenário nas commodities é o de provável correção dos preços, pressionados por uma demanda menos aquecida. Contudo, lembramos que do outro lado da equação os choques de oferta perduram, o que poderia limitar a queda esperada e manter os preços das commodities ainda em patamar superior ao historicamente observado.

Flashing Forward

Esta semana, o mercado se atenta à ata do FOMC amanhã, buscando uma melhor compreensão dos próximos passos da instituição e se o ritmo de alta dos juros deve ser mantido. Além disso, mercado acompanha dados de mercado imobiliário nos Estados Unidos, que segue mostrando forte desaceleração na Aplicação para Novas Hipotecas e Vendas de Casas Usada. Também saberemos Vendas ao Varejo no país e Novos Pedidos de Seguro-Desemprego.

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