Macroeconomia


Global Markets Ed.15.22

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Gabriela Joubert

Publicado 09/ago6 min de leitura

Mercado versus FED

Após o payroll muito acima do esperado na semana passada trazendo mais incertezas a um cenário já carregado de dúvidas, esta semana o foco é direcionado aos dados de inflação nos Estados Unidos, medido pelo CPI, que podem ajudar a determinar os próximos passos do FED quanto ao nível da taxa de juros da maior economia do mundo.

Na semana passada, as empresas de growth tiveram forte recuperação, com o Nasdaq avançando 2,2% no acumulado semanal, espelhando um sentimento de dissipação do risco diante de dados mais fortes da economia norte-americana, enquanto demais índices globais fecharam na estabilidade, com exceção do Ibovespa, que pouco a pouco se recupera das perdas dos últimos meses.

Apesar do cenário mais adverso que trouxe também maior pressão sobre os ativos de risco, puxando as bolsas para baixo e levando ao Bear Market confirmado em junho, temos observado movimentos pontuais de alta, os famosos rallys, com uma frequência maior que o visto historicamente, - e nos últimos dias com um apetite maior também - resultado de um mercado que tem deixado de lado o velho ditado do “Don’t bet against the FED” (ou não aposte contra o FED) e opera em tom mais otimista, apostando em uma economia forte, mesmo com o início do ciclo de aperto monetário anunciado pela autoridade monetária no país na luta contra uma inflação que perdura a tempo demais para ser considerada “passageira”.

Isso e muito mais na edição desta semana.

A inflação tornou-se problema em nível mundial, ganhando escala após o início dos conflitos entre Rússia e Ucrânia, o que fez com que os preços de insumos disparassem, pressionando toda a cadeia de suprimentos global. Um mapeamento das sete principais economias, o G7, mostra a evolução dos índices inflacionários desde dezembro de 2020 e os números recordes registrados nos últimos dois meses. Com isso, o ciclo de aperto monetário segue ganhando tração em todas as economias, trazendo consigo o risco de recessão em regiões como Estados Unidos e Europa, além de desaceleração maior que o esperado na China.

América. don’t bet against the FED.

Nos Estados Unidos, a atenção se volta esta semana aos dados de inflação, especialmente após o payroll de sexta ter mostrado a criação de 528 mil novas vagas em junho, bem acima das 250 mil esperadas e também acima da média dos últimos três meses, mostrando uma economia ainda muito aquecida, apesar do início do ciclo contracionista do FED (veja mais detalhes sobre o Mercado de Trabalho nos Estados Unidos aqui). Com os números observados, as bolsas refletiram um sentimento de dissipação do risco de recessão, mesmo com as crescentes apostas de um aumento de 75 bps na reunião de setembro, ante os 50 bps esperados anteriormente. Os agentes de mercado, apesar de se mostrarem mais pessimistas com relação ao mercado acionário norte-americano, tendo em vista a redução de alocação estratégica nestes tipos de ativos nos últimos meses, não quer ficar de fora de um movimento de recuperação que poderia acontecer rapidamente, caso o FED sinalizasse que seu movimento de alta de juros dure menos que o precificado, uma vez que a inflação já estivesse caminhando para desaceleração. Contudo, o risco desta postura mais otimista ainda no meio do ciclo pode ser a “contaminação” dos indicadores, levando por água todo o trabalho do FED até agora e exigindo uma postura mais incisiva daqui para frente. Felizmente, com a recente queda das commodities, as expectativas para o CPI de amanhã são de desaceleração, com este ficando em 8,7% ante os 9,1% observados no mês anterior, apesar do núcleo ainda avançando, de 5,9% para 6,1%.

Europa: mesmo riscos.

Apesar de também motivada pelo recente rally que tomou conta dos índices globais, as bolsas europeias seguem lidando com os mesmos riscos de antes. A pressão negativa dos movimentos de elevação de juros na região, com expectativa de novo aumento de 50 bps na taxa de juros na próxima reunião do BCE, bem como a crise energética que já vinha afetando a capacidade produtiva da região desde 2021 e que ganha magnitude com as recentes retaliações do governo russo seguem contribuindo para um provável cenário de recessão à frente. Somam-se a isso uma China desacelerando além das expectativas, puxando importantes setores da economia europeia como varejo de luxo e automotivo, além da guerra no leste europeu que ainda dificulta o acesso a suprimentos no continente. Entretanto, a temporada de balanços segue surpreendendo as estimativas dos analistas, dando fôlego às ações locais, especialmente com setores mais defensivos, como farmacêuticas e empresas menos cíclicas.

Ásia: Covid, veículos elétricos e matriz energética.

Novos surtos de covid na China, em especial em regiões turísticas, como o Tibet, elevam as preocupações quanto ao novo normal na economia e na vida no país asiático. Os dados de atividade mostram uma economia desacelerando mais forte que o esperado e a meta de crescimento de 5,5% para este ano fica cada vez mais distante, dificultada também pelo processo de desglobalização que temos visto ganhar força e, recentemente, o setor de microchips teve novo revés com novas medidas aprovadas pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, visando estimular o segmento e a produção em solo americano. Do lado positivo, as vendas de veículos na China cresceram 20% em julho ante mesmo mês do ano passado, estimulada pelo avanço das vendas de veículos elétricos (VEs) – após governo rever remoção de benefício fiscal prevista para 2023. O mercado chinês de VEs tem ganhado força e atualmente é um dos maiores consumidores da Tesla, maior produtora de veículos elétricos do mundo. O avanço nas vendas tem impulsionado as ações no setor de energia renovável, mas também de carvão, com expectativa de maior consumo energético nos próximos anos, desestabilizando ainda mais a matriz energética na região.

Flashing Forward:

Além do tão esperado CPI amanhã nos Estados Unidos, teremos também números de mercado imobiliário com Aplicações de Novas Hipotecas no país, com expectativa de desaceleração, bem como Pedidos de Seguro- Desemprego e o Índice de Sentimento de Michigan na sexta. Na China, saberemos hoje CPI no país, que deve mostrar desaceleração. Por fim, na Zona do Euro, teremos Produção Industrial na segunda, com estimativa de avanço de 1% versus 1,6% do mês anterior.


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