PMIs trazem de volta a aversão ao risco
Após o rally da segunda quinzena de julho, agosto inicia com retomada das incertezas diante de um cenário cada vez mais certo de desaceleração global, especialmente após os dados de PMI, que mostram o nível de manufatura e serviços, reportarem forte queda em julho. A queda na demanda mais célere que o previsto impactou o operacional das companhias que agora lidam com estoques em níveis acima do histórico. As commodities entram em rota de correção, voltando a patamares mais razoáveis e menos especulativo, porém ainda se mantendo em níveis confortáveis às exportadoras. Destaque para as commodities energéticas e para os resultados do 2T22 das companhias no setor de Óleo&Gás que, em maioria, vem batendo as expectativas do mercado, gerando anúncios de robustos dividendos e programas de recompra de ações aqui e no exterior.
Nos riscos recentes, as tensões sino-americanas ganham mais um agravante, envolvendo a visita de Nancy Pelosi, líder da Câmara dos Estados Unidos, à Taiwan, e nas oportunidades a temporada de balanços continua surpreendendo globalmente, com as companhias reportando números acima do consenso diante de revisões e expectativas mais pessimistas dos analistas, apesar da visão mais comedida para o restante do ano.
Esta semana mercado também atenta à reunião da OPEP+, com expectativas de manutenção dos níveis atuais de produção, concomitante à projeção de arrefecimento da recuperação da demanda em virtude do menor crescimento global.
Isso e muito mais na edição desta semana.
América: Alívio momentâneo, mas cenário ainda é de cautela.
Após o rally de julho, com mercados aportando fortes ganhos, especialmente na segunda quinzena do mês, digerindo um tom mais dovish do FED em relação ao ritmo de seu aperto monetário, agosto inicia em risk on mode com PMI pesando negativamente e dados de mercado de trabalho mostrando desaceleração, conforme dados divulgados pelo relatório JOLTs. Nos calls de resultados do 2T22, as companhias já se mostraram mais reticentes quanto ao que esperar para o segundo semestre do ano e sinalizaram redução no ritmo de contratação a partir de agora, o que corrobora o que o índice de Sentimento do Consumidor já vinha mostrando nas últimas divulgações. Do lado positivo, o movimento de alta nos juros do FED pode ser mais curto e menos agressivo na percepção do mercado, que ainda aguarda dados de payroll esta semana, para confirmar a desaceleração esperada. Os maiores Centros de Distribuição e Armazéns nos Estados Unidos operam com estoques em níveis recordes, espelhando a dificuldade das varejistas diante da desaceleração nas vendas, conforme observado nos balanços de Walmart e Target, grandes players do setor.
Contudo, a temporada de balanços segue surpreendendo positivamente, diante de projeções mais pessimistas dos analistas. Cerca de 64% das companhias do SP500 já reportaram seus balanços e destas, 78% superaram as expectativas, 4% vieram em linha e 18% reportaram números abaixo do consenso. Dentre os destaques positivos, o setor de varejo não-cíclico teve mais de 83% das companhias superando as expectativas, enquanto na outra ponta, o setor financeiro contou com mais de 30% de seus balanços desapontando.
Por fim, as relações sino-americanas, já prejudicadas desde a era Trump, adentram novo capítulo com a visita de Pelosi à Taiwan, elevando o risco nos mercados globais, especialmente após a promessa do governo chinês de retaliação.
Europa: Recessão à vista, mas antes temporada de balanços.
Em Os altos preços das commodities energéticas seguem pesando nos custos e pressionando inflação global, contudo as companhias de Óleo&Gás continuam apresentando balanços recordes nesta temporada. A BP, empresa britânica de óleo e gás, bateu as mais otimistas das expectativas ao reportar um lucro de US$ 8,45 bi, o maior em 14 anos, resultado dos maiores preços do petróleo nos mercados internacionais, que levaram a avanços significativos de suas margens e anúncio de um robusto pagamento de dividendos, além de plano de recompra de ações. Na contrapartida, a situação no continente continua precária. O PMI, indicador de atividade manufatureira, caiu abaixo de 50 pontos, aos 49,8 pontos em julho, indicando contração da economia local, com estoques das fábricas em níveis recordes, demanda em queda e aumento das preocupações de que o bloco caminha para uma recessão. De acordo com a S&P Global, que divulga os dados de PMI, novos pedidos da indústria estão despencando, em velocidade similar ao observado em 2012, já excluindo efeitos do lockdown. No mês passado, o BCE elevou em 50 bps sua taxa de juros, visando conter uma inflação que já chega a 8,9% em julho.
Ásia: Situação segue delicada
Assim como na Europa, os dados de PMI na China trouxeram mais preocupação quanto à velocidade da desaceleração no país. Os números reportados em julho mostraram nível de contração ao registrarem 49 pts, mesmo após a reabertura pós-lockdowns, com a indústria de carvão, minerais ferrosos e petróleo puxando o indicador para baixo. As autoridades monetárias no país já se preparam para o não atingimento da meta de crescimento do PIB em 5,5% este ano, conforme expectativas do mercado. Apesar dos recentes estímulos anunciados pelo governo, em especial ao setor de Real Estate, a recuperação esperada custa a ganhar tração. Os resultados da Caterpillar, empresa norte-americana de maquinário pesado, mostraram deterioração da demanda na China, em razão da forte desaceleração do mercado imobiliário no país, e a companhia já espera queda ainda mais acentuada para o terceiro trimestre do ano. A política zero-covid adotada pelo governo chinês impõe receios com novos casos de covid em regiões como Shenzhen, importante polo tecnológico e quarta cidade mais populosa do país, bem como Taijin, principal porto para exportação da produção de empresas como Boeing e Volkswagen.
Flashing Forward
Além dos PMIs que já foram divulgados, investidores atentam para dados de Novas Hipotecas nos Estados Unidos, que devem mostrar novamente recuo m/m. Além disso, dados de mercado de trabalho também ficam no radar, após o JOLTs, com seguro-desemprego, taxa de desemprego e Payroll na sexta-feira, com expectativas de adição de 250 mil novos postos, ante 372 mil reportados em junho. Na Zona do Euro, saberemos Inflação ao Produtor e ritmo de Vendas ao Varejo. Por fim, na China, aguardamos o PMI de Serviços.