Expectativas de PIB
Com o arrefecimento diante do risco de um aperto monetário mais expressivo por parte do FED, no qual o mercado havia precificado uma elevação de 100 bps na taxa de juros na próxima reunião, as bolsas tiveram uma semana de alívio, com os índices aqui e lá fora avançando e devolvendo parte das perdas do ano, caminhando para um mês com fechamento positivo. Ajudou também a temporada de balanços corporativos que, apesar das expectativas mais conservadoras, tem trazido números satisfatórios.
Mesmo assim, as incertezas diante dos rumos que a economia global deve tomar a partir de agora impingem cautela em meio a dados macroeconômicos que mostram inflação persistente por um período ainda incerto, reflexo das limitações da cadeia de suprimentos global, potencializada pelos impactos da guerra na Ucrânia – que já completa seis meses - nos preços das commodities e da política de covid zero na China.
Em novo relatório publicado este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para baixo novamente suas expectativas de crescimento global, agora vislumbrando um avanço de 3,2% no PIB mundial, ante os 3,6% esperados no relatório de abril deste ano. O número engloba uma perspectiva de encolhimento nas economias desenvolvidas, com nova projeção de avanço de 2,3% e 2,6% nos Estados Unidos e Europa, respectivamente, contra 3,7% e 2,8% projetados anteriormente na mesma ordem.
América. Varejistas em crise.
A semana iniciou com novas pressões nas bolsas norte-americanas e que rapidamente se espalharam para demais índices globais, após a maior rede varejista do país, Walmart, ter revisado para baixo suas projeções de lucro para o restante do ano, uma vez que os maiores preços de alimentos e combustíveis têm afetado o poder de compra da população, levando à desaceleração do apetite por consumo discricionário. Os estoques das empresas do setor seguem em níveis elevados, em descompasso com o novo padrão de consumo observado, forçando promoções e pressões adicionais nas margens do setor. O anúncio foi seguido de queda de mais de 9% nas ações da companhia no after-market e puxou consigo os papéis de demais empresas do setor, como Target e Amazon. A visão atualizada corrobora a deterioração no sentimento de confiança do consumidor nos últimos meses que já sente com mais intensidade os efeitos inflacionários e podem indicar que o quadro de recessão já se faz presente. Esta semana, mercado atenta para dados de PIB do 2T22 da maior economia do mundo a serem divulgados na sexta-feira, mas antes foco se volta para reunião do FED amanhã e decisão dos juros.
Enquanto isso, das 500 empresas que compõem o S&P500, 27% já divulgaram seus balanços referentes ao 2T22, com 75% delas batendo as expectativas de mercado, com destaque para as companhias nos setores de Consumo não-cíclico, Saúde e Utilities. Por outro lado, os destaques negativos até o momento ficam por conta das companhias de Metais Básicos, Financeiro e Consumo Discricionário.
Europa: Crise energética ganha mais um capítulo.
Em novo movimento de retaliação aos países europeus que têm apoiado a Ucrânia no conflito que já se arrasta por seis meses, a Rússia anunciou corte de suprimento de gás para a região a partir desta quarta-feira, reduzindo em 20% o total ofertado e elevando, assim, os receios de uma possível recessão na região, intensificados após o início do ciclo de aperto monetário do Banco Central Europeu (BCE) na semana passada, onde a instituição anunciou o aumento de 50 bps em sua taxa de juros. Diante do risco iminente de escassez de energia, os países da União Europeia estudam um plano de emergência para conter os efeitos na cadeia produtiva na região, englobando redução em 15% do consumo de gás entre agosto deste ano e março de 2023, período crítico na região, com a chegada do inverno. Lembramos que no ano passado, a Europa já passou por momentos de dificuldades no abastecimento energético ao longo do segundo semestre, o que levou a racionamento de energia e limitou a capacidade produtiva em importantes economias, como a alemã.
Do lado positivo, durante o fim de semana, as Nações Unidas confirmaram acordo entre Ucrânia e Rússia para a volta das exportações de grãos da Ucrânia via Mar Negro, o que poderia trazer alívio aos preços das commodities agrícolas, em especial ao trigo, considerando que Rússia e Ucrânia representavam 30% de toda a exportação global de grãos antes da guerra. Contudo, um ataque a míssil feito pela Rússia nas regiões portuárias ucranianas no último domingo podem dificultar os planos de retomada previstos para esta semana.
Ásia: Covid e socorro!
Os mercados asiáticos iniciaram a semana animados com as empresas de Real Estate em rally, após notícias de que o governo chinês deve anunciar a criação de um Fundo – somando US$ 44 bi - em socorro ao setor que vem sofrendo uma crise de confiança, iniciada no ano passado com Evergrande e intensificada agora com ameaças de boicotes aos pagamentos de parcelas de hipotecas de obras em atraso. Além do setor imobiliário, o governo informou que deve prestar auxílio ao setor de turismo, também prejudicado com as recentes medidas de lockdown impostas pelas autoridades chinesas.
Contudo, o aumento de novos casos diários de covid, que já ultrapassam a marca de 1.000, trazem novas preocupações à região, com Shenzhen, quarta cidade mais populosa do país, iniciando testes em massa e medidas de lockdowns em algumas regiões.
No Japão, o governo revisou para cima suas expectativas macroeconômicas pela primeira vez em três meses, sinalizando ritmo de recuperação da atividade econômica pós impactos da pandemia e esperando avanço do PIB no 2T22 (após retração no 1T22), impulsionado pela retomada do mercado de trabalho e o avanço do consumo no país.
Flashing Forward:
As expectativas da semana giram em torno da decisão do FED sobre o intervalo dos juros norte- americanos, no qual o mercado precifica uma elevação de 0,75 p.p., e, posteriormente, dados de PIB dos Estados Unidos que saem na sexta-feira. Antes disso, saberemos mais dados de mercado imobiliário, com Novas Casas Vendidas e Novas Hipotecas, além do PCE no fim da semana. Na Europa, também se aguarda números do PIB e Preços ao Consumidor.