Macroeconomia


Global Markets Ed.11.22

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Gabriela Joubert

Publicado 12/jul7 min de leitura

China-Covid, Euro-Energy e EUA-Earnings

O turbilhão de imprevisibilidade dos acontecimentos globais parece não ter fim. Após dados de payroll nos Estados Unidos semana passada mais fortes do que o esperado, o mercado esta semana volta à atenção aos dados de inflação norte-americana, mas não sem descuidar dos novos casos de covid que ameaçam a recuperação em V esperada para a economia chinesa e as crescentes ameaças de racionamento de energia na Europa, com os efeitos cada vez mais catastróficos da guerra.

Semana passada, vimos novo abalo na Europa com a renúncia do primeiro- ministro britânico, Boris Johnson, após debandada de seu corpo ministerial. No Japão, o ex-primeiro-ministro, Shinzu Abe, responsável pelo plano econômico de resgate da economia japonesa na última década, o Abenomics, foi assassinado enquanto discursava para reeleição. Observamos também novos casos de covid na China acenderem o alerta de que o país ainda luta contra a disseminação da doença em seu território e, por fim, vimos a dualidade entre possibilidade ou não de recessão nos Estados Unidos ganhar força, após dados acima do esperado do payroll.

Esta semana, os grandes bancos norte-americanos divulgam seus resultados e as expectativas não são das melhores. Analistas e investidores acompanharão com atenção as falas dos corpos diretivos das instituições, em busca de sinais sobre o que esperar daqui para frente para a maior economia do mundo.

Américas: Temporada de balanços, mas antes inflação.

O sentimento de cautela prevalece e o mercado aguarda dados de inflação, medido pelo CPI, que saem esta semana. A expectativa é de um novo pico chegando a 8,8% a/a em junho, após os 8,6% reportados em maio. Com um payroll acima das expectativas reportado na última sexta-feira (leia mais neste relatório especial), aumenta também o consenso de que o FED deva subir os juros básicos em 75 bps na próxima reunião, e manter um ritmo mais agressivo para conter o aumento de preços no país. Com isso, as apostas para o sim e para o não diante de um cenário de recessão no país seguem equalizadas, apesar dos sentimentos nas ruas de que a recessão já chegou.

Fonte: Refinitiv Datastream

A temporada de balanços dos Estados Unidos ganha tração esta semana com a divulgação dos resultados dos principais bancos do país. Contudo, as expectativas mostram queda de cerca de 20% no lucro das instituições financeiras quando comparado ao mesmo período do ano anterior, em razão do efeito de maiores provisões para débitos duvidosos (PDD) uma vez que o cenário de recessão ganha força no país.

Os bancos devem reverter o movimento de redução desta linha observado no ano passado, assim como ocorreu aqui no Brasil. Lembramos que, durante a pandemia, bancos e instituições financeiras no mundo todo elevaram suas provisões, antecipando um provável colapso na qualidade do crédito em virtude da dificuldade de pagamento de dívidas por parte de empresas e da população, o que não aconteceu. E conforme essas provisões eram revertidas, os lucros avançaram, favorecendo os papéis no setor desde o ano passado até agora.

Contudo, vale ressaltar que este movimento de aumento de PDD se dá por duas principais razões: a primeira pelo cenário mais desafiador e o aumento das incertezas, de fato, mas também pelo fato de que as empresas estão captando mais crédito e a população tem aumentado a utilização de cartão de crédito, conforme volta às atividades de lazer, como viagens e restaurantes. Sendo assim, além dos números reportados, analistas e investidores estarão atentos aos calls de resultados, buscando mais informações sobre projeções e expectativas, tendo em vista a importância deste setor como um termômetro para a economia local.

Europa: Crise energética de volta ao radar.

O temor de racionamento de energia volta a assombrar os países europeus em gravidade ainda maior do que o observado no 2S21. A parada programada para manutenção no gasoduto Nord russo prevista para iniciar hoje e encerrar no próximo dia 21 traz consigo receios de que ela possa durar mais que o previsto em movimento retaliativo da Rússia contra as sanções europeias aplicadas desde o início do conflito na Ucrânia. O gasoduto Nord transporta cerca de 55 bilhões de metros cúbicos de gás da Rússia para a Alemanha e no mês passado a Rússia cortou em 40% o fluxo de gás ante a capacidade total, alegando atraso de equipamentos de alguns fornecedores. Uma extensão da parada poderia prejudicar os planos alemães de estocagem de gás para o inverno, período crítico do ano, acentuando ainda mais a crise energética na região. Com isso, poderíamos ver ainda mais dificuldades, além das já enfrentadas por demais economias globais, levando a um cenário de forte desaceleração econômica e até mesmo recessão.

Ásia: China e Covid, again!

O Após um mês de junho forte e de recuperação, julho inicia sob incertezas diante de aumento de novos casos de covid no país, incluindo nova variante que circula por Xangai, podendo forçar o país a anunciar novos lockdowns em breve. Com isso, ativos ligados à economia chinesa têm sofrido pressão nos últimos dias, especialmente as mineradoras.

Fonte: Refinitiv Datastream

Em resposta aos desafios correntes e dando continuidade à sua política de estímulos, o governo chinês anunciou recentemente a possibilidade de revogar o fim da isenção de impostos para veículos elétricos no país, previsto para 2023 e em vigor desde 2014, além de aumentar o número de postos de abastecimento, a fim de estimular as vendas deste tipo de veículos no segmento automotivo. Lembramos que a Tesla reportou a venda de 78 mil veículos produzidos em território chinês em junho, um aumento de 142% m/m, mesmo com lockdowns em vigor no período e escassez de alguns insumos em nível global.

Do lado do Real Estate, mesmo com os estímulos recém- anunciados para o setor, temos visto empresas reportando atrasos em pagamentos e dificuldades de renegociar débitos, como no caso recente da Evergrande. O governo chinês tem enfrentado problemas para impulsionar a economia e pode não conseguir alcançar a meta estipulada para o PIB deste ano. Esta semana, observou-se um mudança de comportamento do PBoC (Banco Central Chinês) com desaceleração do ritmo de suas operações no open market, indicando uma possível normalização em sua política expansionista em vigor desde o início dos lockdowns no país, e reduzindo a divergência entre as demais economias, mostrando cautela também por parte da autoridade monetária no país.

Flashing Forward

Além de dados de inflação norte-americana ansiosamente aguardados pelos agentes econômicos, teremos também diversos dados de atividade no país como números de novas hipotecas, nos quais espera-se também sinais de desaceleração em virtude do ciclo de alta dos juros, além de efeito da redução de compra de segundo imóvel já observado, o que poderia levar a uma contração dos preços dos imóveis no país (assunto para nossa próxima edição). Além disso, acompanharemos Livro Bege, Vendas ao Varejo, Índice Empire State Manufatura e Produção Industrial. Saberemos também a Produção Industrial na Zona do Euro e os reais impactos da guerra, preços de insumos e das restrições logísticas na região. Na Ásia, foco para PIB e Vendas ao Varejo na China.


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