FED eleva o tom e mercados encerram rally dos últimos dias
Em outubro, as bolsas fecharam em forte alta, motivadas por números melhores que o esperado na temporada de balanços, mas também antecipando um provável ritmo menor do aumento dos juros norte-americanos a partir de dezembro. O S&P encerrou o mês em alta de 8%, enquanto Nasdaq avançou 3,9%, diminuindo a queda observada desde o início do ano.
Entretanto, o rally que tomava os mercados desde o início da semana, e que levou as bolsas internacionais a fecharem outubro em forte alta, foi brutalmente encerrado após a fala de Jeremy Powell ontem que sucedeu a decisão do FOMC de elevar em 0,75 p.p. a taxa de juros norte-americana. Apesar de esperado, o tom mais agressivo do presidente da instituição impactou mercados globais que agora atentam para dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos entre hoje e amanhã.
Na Europa, mercados acompanham movimentos dos Bancos Centrais, que devem seguir elevando juros para conter inflação recorde na região, enquanto na Ásia, dados de atividade na China seguem mostrando retração, pesando nos índices locais.
América: FED eleva o tom e mercados amargam perdas.
Conforme esperado, o FED anunciou mais um aumento de 75 bps na taxa de juros norte-americana, levando-a para o intervalo de 3,75% - 4%. No entanto, o tom mais agressivo da fala do presidente da instituição, após a reunião do FOMC, afirmando que seria “prematuro demais” considerar o encerramento do ciclo de alta agora se sobrepôs à sinalização de ritmo menor em dezembro e as bolsas encerraram o dia em forte queda, revertendo o bom-humor das últimas semanas (veja a análise sobre o FOMC que nosso time de macro preparou).
Mercados agora acompanham atentos aos dados de mercado de trabalho a serem divulgados esta semana, em busca de sinais de desaceleração que possam amenizar o pessimismo espalhado pelo FOMC.
Enquanto isso, na temporada de balanços, 78% das empresas do S&P500 já reportaram seus resultados, com 71% delas batendo as estimativas do mercado, de acordo com dados da Refinitiv. O destaque positivo fica por conta do setor de energia, onde 89% das empresas reportaram números acima do consenso. Por outro lado, no setor de consumo discricionário, dentre as empresas que já divulgaram seus balanços, cerca de 36% delas mostraram números aquém das estimativas, refletindo o impacto da inflação e das incertezas nas decisões de compra dos consumidores. Ainda pior, o setor de Real Estate mostrou que 54% das empresas tiveram resultado melhor que o esperado, menor nível dentre todos os setores. As taxas de juros deram um salto na semana passada, com os juros das hipotecas de 30 anos chegando a 7,06%, enquanto a demanda geral por novos financiamentos recuou pela sexta semana consecutiva, ficando em nível 69,7% menor que o mesmo mês de 2021.
Embora os resultados das companhias venham surpreendendo, no 3T22 o consenso de mercado já prevê um forte recuo de crescimento para o 4T22, conforme as empresas atualizam guidance, mencionando maiores dificuldades esperadas daqui para frente. De acordo com dados da Refinitiv, espera-se agora um aumento de 1,3% nos lucros reportados no 4T22 versus o 4T21, ante uma expectativa de +5,8% no início de outubro. Para o 1T23, a estimativa de crescimento reduziu de 7,4% para 3,4% a/a.
Ásia: Sinais cada vez mais claros de enfraquecimento.
Apesar do PIB chinês ter batido as estimativas do consenso ao crescer 3,9% no 3T22, as constantes ameaças de lockdowns por conta da política zero-covid, juntamente com a crise no setor imobiliário e sinais mais expressivos de desaceleração global têm pressionado os índices na Ásia, em especial os chineses. O PMI oficial do país mostrou recuo de 50,1 pts para 49,2 pts, surpreendendo negativamente, e entrando novamente em campo contracionista. O PMI Caixin de outubro, o qual engloba um número maior de regiões, também se manteve em patamar restritivo, com Serviços em 48,4 pts, menor nível desde maio, e PMI Caixin Composto em 48,3 pts. Os impactos do posicionamento mais restrito do governo chinês contra o avanço da covid no país têm limitado a retomada das atividades, ao mesmo tempo em que as exportações recuam com demanda global enfraquecida. A indústria no país tem diminuído o corpo efetivo para reduzir os custos e poupar o recuo das margens com demanda menor, adicionando ainda mais receios ao já enfraquecido mercado de trabalho e contribuindo para impactos adicionais na confiança do consumidor e no poder de compra da população.
Europa: Juros subindo, economia caindo.
Na semana passada, o Banco Central Europeu elevou em 0,75 p.p. a taxa de juros, levando-a para 1,5%, precedendo o movimento também feito pelo FED, ambos plenamente esperados pelo mercado. Hoje, o Banco Central da Inglaterra (BoE) também anunciou que a taxa de juros do país passará a 3%, após o maior aumento desde 1989, em 75 bps. O governo britânico resume esforços para conter a inflação, que chegou em 10,1% em setembro, maior nível em quarenta anos, enquanto enfrenta uma crise política que culminou com a nomeação de seu terceiro primeiro- ministro em dois meses, com a renúncia de Liz Truss na última semana e chegada de Rishi Sunak ao poder. O novo primeiro- ministro já sinalizou ao mercado a necessidade de um orçamento mais apertado e possível aumento de impostos que devem ser mais bem explicitados em documento a ser apresentado no próximo dia 17. Ao mesmo tempo, o governo espera que a inflação bata novo recorde, chegando a 11% neste trimestre e que o país, que já está em recessão de acordo com o Banco, deve ver seu PIB encolher ao longo de 2023 e 2024.
Flashing Forward
Para o restante desta semana, os olhares estarão voltados principalmente para os dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos, com a divulgação de novos pedidos de seguro- desemprego hoje, payroll, taxa de desemprego e salários amanhã. A evolução destes dados poderá contribuir para a decisão de reduzir o ritmo ou não do ciclo de aperto monetário pelo FED na próxima reunião em dezembro.