Reino Unido perde mais um primeiro-ministro e na China Xi Jinping confirma terceiro mandato
Refletindo números melhores que o esperado da temporada de balanços nos Estados Unidos e na Europa, bem como um provável menor aperto monetário a partir de dezembro na reunião do FOMC, as bolsas internacionais tiveram bom desempenho na semana passada, avançando cerca de 5%, reduzindo a forte queda acumulada no ano. Nasdaq foi o melhor desempenho semanal, com retomada dos papéis de tecnologia ajudados também pelos balanços da Netflix. Na Europa, a alta foi limitada por mais um capítulo da novela política no Reino Unido, com a renúncia da Primeira-Ministra Liz Truss após 45 dias de governo. Na Ásia, as bolsas na China fecharam em campo negativo, contrárias ao restante do mundo, enquanto acompanhavam o Congresso do Partido Comunista Chinês.
A volatilidade volta a marcar os mercados, com notícias macroeconômicas pesando negativamente nos índices, ponderadas pelos resultados das empresas que seguem vindo acima do esperado. No início da semana, pesou também a confirmação do terceiro mandato de Xi Jinping na China e a possibilidade de um governo mais voltado para ideias políticos, além da ratificação da continuidade da política covid-zero, que vem impactando negativamente a recuperação econômica no país.
Confira na edição desta semana!
América: Expetativas deterioradas levam a surpresas nos balanços da temporada.
Com 26% das empresas já tendo reportado seus resultados, vemos 74% destas batendo as expectativas do consenso, percentual levemente abaixo do histórico, de 76%. No setor financeiro, onde 60% das empresas já divulgaram seus balanços, os grandes bancos mostraram números melhores que o esperado, beneficiados por resultados financeiros robustos, com receitas de juros impulsionadas pelas taxas básicas mais elevadas. No entanto, no setor – que engloba financiadoras, assets e seguradoras – cerca de 33% das companhias trouxeram figuras abaixo do esperado, refletindo as dificuldades de players menores em performar em cenário de custo de crédito mais caro. Além disso, empresas mais dependentes do ciclo econômico, como algumas seguradoras, também viram receitas recuarem, conforme o cenário afunila. Aliás, quando olhamos para o segmento de Varejo Cíclico, com 28% de reporte, apenas 55% das empresas tiveram desempenho acima do esperado, reflexo da inflação mais elevada, pesando no bolso do consumidor, que repensa alguns gastos diante das incertezas à frente.
Ressaltamos que os desempenhos acima do esperado não necessariamente significam balanços mais fortes, uma vez que na comparação anual observa-se uma evolução mais comedida dos indicadores, mas sim um alinhamento de expectativas, as quais estavam bastante deterioradas para este trimestre. As projeções para os próximos períodos seguem conservadoras, indicando arrefecimento. Preços de Novas Casas nos Estados Unidos mostraram forte recuo em agosto, assim como o sentimento do consumidor voltou a cair em outubro, seguindo dados de PMI em retração, conforme última divulgação. Ao mesmo tempo, Wall Street mantém o rally com possível amenização no ritmo de aumento dos juros pelo FED em dezembro, em resposta aos dados macroeconômicos piores que o esperado.
Ásia: Xi Jinping entra em novo mandato com mais poder que nunca.
O Congresso do Partido Comunista encerrou no último fim de semana trazendo mais um mandato de governo para Xi Jinping, consolidando sua supremacia, após divulgar a composição do próximo Politburo, alto escalão do governo, formada apenas por nomes de aliados. Na última segunda-feira, vimos debandada de investimentos no país, com a bolsa em Hong-Kong chegando a cair mais de 6%, em meio a receios de que o próximo ciclo de governo seja muito mais direcionado por ideais políticos do que por fundamentos econômicos. Com cada vez mais evidência da polarização entre Oriente e Ocidente, devemos ver nos próximos anos recursos direcionados a setores como Segurança Nacional, cadeia produtiva e energia, além de tecnologia e inovação, conforme indicado durante discurso do governo ao longo da última semana.
O PIB chinês cresceu 3,9% no 3T22, acima das expectativas de 3,3%, mas dados de setembro já mostram desaceleração nas importações, em razão da menor demanda no país, podendo limitar a continuidade dessa expansão para o 4T22. Apesar da descrença quanto ao ritmo de crescimento da economia nos próximos anos, tendo em vista a atual crise do setor imobiliário e a política zero-covid em curso, precisamos olhar com seriedade os próximos passos do governo que podem redirecionar os setores campeões para a próxima década.
Europa: Segue a dança das cadeiras no Reino Unido.
A crise política no Reino Unido culminou na renúncia de Liz Truss após 45 dias de governo e Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças do governo de Boris Johnson, ex-analista do Goldman Sachs e genro de N.R. Narayana Murthy, bilionário indiano fundador da gigante de tecnologia Infosys, assume como o terceiro Primeiro-Ministro do país em dois meses. Sunak agora tem o desafio de tirar o país de uma profunda crise econômica e recuperar a confiança no governo, deteriorada ao longo dos últimos dois anos. Jeremy Hunt, nomeado por Liz Truss, segue como Ministro das Finanças e deve apresentar um novo orçamento para o governo na próxima segunda-feira, visando tapar o rombo de US$ 45 bi causado pela desaceleração econômica, custos de crédito mais elevados e subsídios para o setor de energia.
Flashing Forward:
Nesta semana, além da continuidade dos resultados da temporada de balanços tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, com foco nas Megacaps, haverá divulgação do PIB T/T Anualizado nos Estados unidos, com a expectativa de mercado de um crescimento de 2,6%, juntamente com as divulgações das Aplicações para Novas Hipotecas e Novas Casas Vendidas. Na Zona do Euro, os olhares estão voltados para a decisão da Taxa Básica de Juros pelo BCE que deve anunciar um aumento de 75 bps, levando os juros na região de 1,25% para 2,0%.