Dados de atividade nos Estados Unidos surpreendem positivamente e pesam no mercado
Na semana passada, os índices globais avançaram, no geral, motivados por um possível FED mais dovish, após dados de inflação mostrarem desaceleração na alta de preços e Jerome Powell indicar que um possível afrouxamento do aperto poderia iniciar já na reunião de dezembro, apesar de ainda vislumbrarem um período mais duradouro de juros mais altos. Contudo, após dados de payroll acima do esperado nos Estados Unidos, a semana começa com mais números de atividade superando as expectativas na maior economia do mundo, o que elevou os receios nos mercados globais de um ritmo mais agressivo do FED para conter uma economia ainda bastante aquecida. Nem mesmo as sinalizações de avanço nas medidas de flexibilização na China têm sido suficientes para conter o mau-humor que toma conta nos últimos dias.
Apesar das expectativas positivas para a retomada das atividades no gigante asiático, as dúvidas quanto à efetividade destas medidas seguem limitando uma alavancada mais concreta dos setores ligados ao país, mas as bolsas locais buscam ânimo, em especial o índice em Hong-Kong, com destaque para o setor de tecnologia.
Mercados ainda se posicionam antes de decisões monetárias nas principais economias do mundo, com FED e BCE no radar, e nas quais se espera continuidade no ciclo altista dos juros, porém em ritmo menor ao observado nas últimas reuniões. Enquanto isso, atenção segue para dados de atividade e digestão dos PMIs anunciados.
Confira na edição desta semana!
América: economia segue forte e preocupa o mercado.
Os dados de payroll na última sexta-feira mostraram criação de 263 mil novos postos de trabalho, vindo bem acima das expectativas, e mostrando uma economia ainda bem aquecida, apesar da recente elevação dos juros no país. Somado a isso, no início desta semana, os dados de Serviço também mostraram avanço, ficando em 56,5 pontos em novembro, acima dos 54,4 pontos de outubro, contrariando as expectativas do mercado de desaceleração para 53,1 pontos. Os números mostram que a economia norte-americana está longe de um quadro recessivo e o mercado passou a precificar um reposicionamento do FED quanto ao ritmo de seu processo de aperto monetário, inclusive com juros mais elevados em patamar acima do esperado, e por mais tempo.
Neste sentido, reforçamos que, com valuations ainda esticados e possivelmente não refletindo impacto maior de despesas financeiras, poderemos ver revisões de projeções de lucros das companhias para 2023, o que pode pressionar os ativos. Ao mesmo tempo, setores beneficiados pela alta dos juros, como o setor financeiro, poderão ver receitas maiores, compensando a menor atividade esperada para o ano.
Ásia: medidas de flexibilização são bem recebidas.
O PMI de Serviços na China encolheu para o menor nível em seis meses em novembro, em queda pelo terceiro mês consecutivo, atingindo 46,7 pontos (versus 48,4 em outubro), resultado da política zero-covid ainda em vigor e confiança também deteriorada na segunda maior economia do mundo. Ainda em novembro, casos de covid bateram novo recorde, mas as autoridades sanitárias dão os primeiros passos para reabertura e flexibilização das medidas restritivas, que devem acontecer em ritmo lento, conforme a vacinação avança no país, e o mercado prevê liberalização total na metade do próximo ano, no aniversário do Partido Comunista.
Até lá, idas e vindas e incerteza seguem no cenário, especialmente em setores afetados também por demanda mais enfraquecida, como é o caso do setor imobiliário no país, que ainda sofre com uma crise interna. No curto prazo, podemos ver segmentos como turismo e serviços sendo beneficiados, devolvendo parte das perdas do ano.
Europa: recessão técnica, mas o céu começa a clarear.
Contrariamente ao que vemos nos Estados Unidos, na Europa os dados de atividade ainda mostram claros sinais de desaceleração e os últimos números do PMI indicam que a região entra em recessão técnica, ao mostrarem contração pelo quinto mês consecutivo na zona do euro (abaixo de 50 pontos), ficando em 47,8 pts. O desempenho mostra que os consumidores vêm reduzindo gastos, em virtude da inflação que ainda persiste. Em novembro, o índice de preços bateu 10%, bem acima da meta de 2% do BCE, mas já mostrou sinais de desaceleração, ficando abaixo das expectativas do mercado. Com isso, o sentimento na região já começa a melhorar e as bolsas também animam com as notícias vindas da China. Setores como mineradoras e varejo de luxo avançam, seguindo os bons ventos chineses.
Os dados inflação melhor que o esperado, bem como acomodação da tendência de queda dos indicadores de produção podem indicar uma desaceleração no ritmo do aperto monetário pelo banco central que, de acordo com o consenso, deve trazer um aumento de 50 bps em sua próxima reunião no dia 15 de dezembro. Contudo, dirigentes da instituição não descartam a possibilidade de os juros ficarem acima dos 3% precificados e por um período mais longo, assim como sinalizado pelo FED.
Flashing Forward:
Na semana, teremos importantes indicadores inflacionários na economia chinesa, como os Preços ao Produtor A/A e os Preços ao Consumidor A/A sendo a expectativa de desaceleração em relação ao anterior para ambos. Nos Estados Unidos, mercado monitora não só dados de inflação ao produtor A/A, mas também Aplicação para Novas Hipotecas e Novos Pedidos Seguro-Desemprego em relação a 5a de novembro junto com os Índice de Sentimento e a Expectativa para Inflação de 1 Ano de Michigan.