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Gabriela Joubert

Publicado 29/nov5 min de leitura

China anima mercados, mas FED mais hawkish limita ganhos

Após uma semana de desempenhos mistos diante dos sinais também mistos de atividade nos Estados Unidos, a semana atual inicia com notícias positivas vindas da China quanto à possibilidade de flexibilização das atuais restrições da política anti- covid em vigor desde 2020, e com notícias nem tão positivas nos Estados Unidos, após dirigentes do FED sinalizarem que os juros no país só devem reverter a tendência altista a partir de 2024.

Com isso, os índices globais iniciam semana entre perdas e ganhos, impulsionados por papéis ligados à economia chinesa, mas limitados por ações do setor de tecnologia, majoritariamente. Na Europa, o movimento de alta dos juros dos bancos centrais traz nova preocupação aos bancos centrais da região: o custo mais elevado dos repagamentos de bonds que podem incorrer, inclusive em perdas financeiras, conforme sinalizado pelo Banco Central Europeu.

Ao longo da semana, mercados acompanham atentos às notícias da China sobre estímulos, revisões das políticas de lockdown e os impactos na recuperação econômica do país. Ao mesmo tempo, agentes se preparam para decisões dos bancos centrais nas próximas semanas, em especial na zona do euro e por fim, monitoram diversos dados de atividade nos Estados Unidos, em busca de sinais que possam definir os próximos passos do FED.

Confira na edição desta semana!

América: Dados e discursos mistos renovam incertezas.

Mesmo com sinais mais favoráveis quanto ao ritmo inflacionário no país, as falas mais recentes de dirigentes do FED sinalizando que os juros no país deverão se manter em patamar elevado ao longo de todo o próximo ano, revertendo apenas em 2024. Quando comparado aos demais ciclos de alta dos juros norte-americanos, o momento atual mostra ritmo acelerado e movimento mais célere, ficando atrás apenas do observado no ciclo de 1999, durante a crise financeira global.

Com juros mais altos, devemos observar maiores impactos das despesas financeiras nos balanços das companhias, principalmente as mais alavancadas, durante todo 2023. Com expectativas de demanda mais fraca, custos ainda elevados, mesmo que em tendência de desaceleração, e despesas financeiras mais altas, os lucros das companhias devem retrair, forçando cortes e rebalanceamentos de guidance e expectativas para o próximo ano.

Do lado da atividade, a confiança do consumidor no país bateu a mínima em quatro meses, com a população menos propensa a gastos com supérfluos em meio a receios de inflação ainda alta. Os efeitos dos juros mais elevados continuam a ser vistos no mercado imobiliário que, novamente, viu preços das casas recuar na comparação anual. Contudo, as expectativas mais positivas quanto ao mercado de trabalho, que deve continuar aquecido, dissipam um cenário recessivo para o próximo ano.

Ásia: estímulos ao setor imobiliário e possível flexibilização da política anti-covid animam o início da semana.

As ações do setor imobiliário recuperam parte das perdas do ano, após a CSRC (China Securities Regulatory Comission) reverter regra antiga no setor que proibia novas emissões de ações de empresas já listadas. Com isso, a partir de agora, as incorporadoras poderão acessar o mercado de capitais para levantamento de recursos a serem utilizados para reforço do capital de giro, pagamento de dívidas ou aquisição de ativos, como novos terrenos. A medida vem adicionar a outras três já anunciadas que incluem crédito mais baixos no setor e juros mais baixos às instituições financeiras que adquiram títulos destas companhias. O conjunto de medidas visa fortalecer os balanços das companhias e transformar o setor, precavendo riscos e auxiliando na manutenção do pipeline de projetos e lançamentos das grandes construtoras, reduzindo a onda de boicotes de pagamentos de hipotecas no país por obras em atraso.

Apesar do plano de resgate, a demanda no segmento continua a dar sinais de enfraquecimento. O interesse em terrenos para construção tem diminuído a cada mês, assim como as obras iniciadas no país. Sem dinheiro, as construtoras vêm atrasando entregas de imóveis e a população, que em sua maioria já possui a casa própria, tem deixado de pagar hipotecas dos imóveis não entregues. Além disso, a confiança do consumidor continua deteriorando, dificultando a recuperação do apetite por novas moradias.

Europa: Juros mais elevados, custos de dívida mais altos.

Na Alemanha, a inflação desacelerou para 11,3% em novembro (de 11,6% em outubro), apesar de ainda estar próxima do pico, o que foi recebido pelo mercado como mais um ponto em favor de uma política mais dovish do BCE. Enquanto a inflação na Europa segue em patamar histórico, os bancos centrais continuam com sua missão de controlar a alta de preços via elevação dos juros. O BCE aumentou em 200 bps sua taxa de juros nos últimos três meses, para 1,5%, em movimento agressivo para conter a inflação na região. As apostas para a próxima reunião em dezembro giram em torno de 50 e 75 bps, e mercados já precificam um período mais longo de juros mais elevados.

As altas taxas de juros já começam a preocupar os bancos centrais que, após anos de políticas econômicas expansionistas que levaram a um volume elevado de emissão de dívidas, tem agora que lidar com juros mais altos e custos maiores de re- pagamento destes papéis.

Mesmo assim, o sentimento econômico na zona do euro apresentou sinais de melhora em novembro, avançando para 93,7 pontos (de 92,7 pontos em outubro), acima das expectativas. Destaque para serviços que subiu 2,3 pts. As expectativas de inflação por parte do consumidor também tiveram forte melhora, mesmo com os desafios correntes de preços de energia e alimentos, potencializados pela chegada do inverno.

Flashing Forward:

Esta semana, a agenda nos Estados Unidos está repleta de indicadores de atividades que serão acompanhados de perto pelos agentes econômicos e pelo FED. Dentre eles, o PCE de outubro, Novos Pedidos de Seguro-Desemprego, além do Payroll e taxa de desemprego. Mas, antes, o Livro Bege na quarta-feira. Na Zona do Euro, sai também dados de preços ao consumidor.


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