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Gabriela Joubert

Publicado 22/nov

O Soft Landing realmente está aí?!

Nas últimas semanas, conhecemos os números referentes ao 3T23 das empresas norte-americanas que, em sua maioria, trouxeram resultados acima do esperado pelo mercado, porém sinalizando, mais uma vez, um trimestre menos exponencial à frente. Das quase 500 empresas que já reportaram, 82% bateram o consenso, com destaque para o setor de Comunicação, onde mais de 90% das empresas superaram as expectativas dos analistas. No geral, os resultados das companhias têm refletido a robustez observada na economia norte-americana que cresceu cerca de 5% no 3T23, a despeito da política monetária restritiva adotada pelo FED que levou os juros de praticamente 0% a mais de 5% em poucos meses.

Ao longo da temporada, não observamos as grandes revisões quando comparado aos últimos períodos e os resultados confirmaram mais um trimestre forte e números resilientes. Os lucros tiveram crescimento de 6,3% a/a, no geral, acima das expectativas iniciais de avanço de 1,6% a/a. Quando excluímos as empresas de Energia, que tiveram números recordes em 2022, o avanço nos lucros corporativos foi de 11,6% ante mesmo período do ano passado.

Os destaques positivos da temporada ficaram por conta das Magnificent Seven (exceto por Tesla, que decepcionou com margens deterioradas resultante de uma estratégia de volume sobre preço), além do setor financeiro, em especial JP Morgan e Berkshire Hathaway.

Apesar do forte avanço nos lucros corporativos tanto na comparação anual (+6,3%) quanto na trimestral (+7,8%), as receitas tiveram comportamento mais ameno, com cerca de 60% dos números reportados batendo as expectativas versus mais de 80% das companhias superando o consenso no bottom line. Ajustado pela inflação, o crescimento foi negativo nos últimos 12 meses. Nos calls de resultados, predominou a mensagem de cautela para os próximos trimestres, o que levou a consequentes revisões para baixo nos guidances das empresas e nas projeções dos analistas. Dentre os principais ajustes negativos, destacam-se os setores de Saúde, Materiais e Consumo discricionário.

Os dados da economia americana no terceiro trimestre reforçam sua resiliência, com a rara combinação de atividade forte e inflação desacelerando. A produção industrial avançou 1,3% no trimestre, o que equivale a uma alta anualizada de 5,3%. As vendas no varejo avançaram 2,2% no trimestre, equivalente a um crescimento anualizado de 9,1%. Com isso, o desempenho do PIB no terceiro trimestre foi fortíssimo, com alta anualizada de 4,9%, muito acima das expectativas. O mercado de trabalho também manteve desempenho robusto, com a economia americana tendo adicionado 700 mil novos empregos no terceiro trimestre, com uma taxa de desemprego média de 3,7%, historicamente baixa. Esses dados são surpreendentes, especialmente quando consideramos que o banco central americano manteve as taxas inalteradas no patamar de 5% ao ano, indicando que a política monetária não tem desacelerado a economia, ainda.

Por outro lado, a taxa de inflação continua sua tendência de desaceleração, mas em patamar ainda elevado, tendo acumulado alta de 1,2% no trimestre, o que equivale a uma taxa anualizada de 4,88%, acima da meta. Com os dados de inflação de outubro já divulgados, vemos a continuidade dessa tendência, com a inflação acumulada em 12 meses alcançando 3,2%. Portanto, os números reportados pela economia corroboram os dados do terceiro trimestre, os quais foram amplamente consistentes com a ideia de um soft landing ou pelo menos um no landing, ou seja, de que a economia americana deverá escapar de uma recessão.

Por conta disso, o mantra do Fed de que as taxas de juros terão que ficar elevadas por mais tempo para trazer a inflação de volta à meta foi finalmente internalizado pelo mercado ao longo do terceiro trimestre, com os juros longos tendo aumentado 107, 115 e 119 pontos base nos vencimentos de 10, 20 e 30 anos, respectivamente. Esse movimento foi, justamente, reflexo dos fortes dados econômicos do terceiro trimestre. Se a economia não está desacelerando fortemente, é sinal de que não haverá auxílio vindo pelo lado da demanda para reduzir a inflação. Nesse caso, o aperto monetário deve persistir até que a inflação retorne à meta. A grande questão é se os bons dados do terceiro trimestre são apenas reflexos da elevada defasagem da política monetária, que ainda não atingiu em cheio a economia real.

Os dados de outubro sugerem um enfraquecimento mais intenso da economia no quarto trimestre, portanto, a continuidade dessa tendência será colocada à prova nos próximos meses. Essa também foi a sinalização das empresas e devemos ver as receitas mantendo a tendência de fraco crescimento para o 4T23, uma vez que o repasse de preços está limitado pelo menor poder aquisitivo do consumidor que já gasta menos quando comparado ao passado.


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