Macroeconomia


BRF | Resultado 1T22

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Gabriela Joubert

Publicado 05/mai8 min de leitura

Resultados do 1T22 deturpam visões para o ano

O 1T22 da BRF nos surpreendeu negativamente, no qual por mais que já esperado um forte avanço dos custos, os resultados foram mais corrosivos do que a nossa expectativa, refletindo também os ajustes na cadeia produtiva realizados pela companhia. Para a receita, conforme esperávamos, esta foi beneficiada pelos preços em patamares ainda elevados, mesmo em período sazonal desfavorável para volumes, fechando em R$ 12.041 mm (+11,7 R/E, -12,3% t/t e 13,7% a/a). Destacamos que no período, o segmento Halal teve uma performance robusta, o que suavizou os efeitos negativos dos outros segmentos. No caso dos custos, a alta geral da cadeia produtiva, com destaque para avanço dos preços dos grãos, impactou na margem bruta da empresa, que caiu subitamente para 9,2% (-10 p.p. R/E, -13,6 p.p. t/t e -11,5 p.p. a/a). Em vista disso, vimos uma redução do EBITDA para R$ 152 mm (-84,1% R/E, -91,4% t/t e -88,2% a/a), ante os R$ 1.761 mm no 4T, ficando bem abaixo das nossas expectativas, com uma margem de 1,3% (-7,6 p.p. R/E, -11,6 p.p. t/t e -10,9 p.p. a/a). Por fim, a companhia reportou um prejuízo líquido de R$ 1.546,5 mm, acumulando nos 12 meses uma perda de R$ 1.052 mm.

Desse modo, vemos que o cenário para BRF continua desafiador, com custos no radar, estimulado pela tendência dos preços dos grãos se manterem elevados, além da vulnerabilidade das operações da BRF aos efeitos inflacionários e perda do poder de compra da população brasileira. No relatório publicado, a companhia pontou que após desafios no mês de janeiro, foi introduzido ajustes em sua cadeia, a procura de uma simplificação de suas operações, de modo a otimizar os seus processos produtivos e proporcionar uma estrutura de capital mais sólida para companhia. No entanto, como o resultado desse movimento ainda é incerto, vemos que o cenário econômico global volátil, além de sua estrutura de capital e perspectiva de custos elevados pelo menos até o 1S22, estremecem a nossa visão para performance da BRF. Em vista disso, optamos por revisitar novamente nosso modelo e colocamos BRFS3 em revisão.

Brasil. A perda do poder de compra da população em cenário inflacionário, assim como dificuldades produtivas para os avicultores, foram fortemente evidenciados nos resultados das operações da BRF no Brasil. No qual, por mais que a receita tenha ficado levemente acima do nosso projetado, com um top line de R$ 5.883 mm (+7,2% R/E, -12,3% t/t e 13,7% a/a), os custos nos resultados da companhia acresceram intensamente, fechando o trimestre com uma margem bruta de 3,3% (-19,7 p.p. t/t e -18,3 p.p.), ante a 23% no 4T. Por fim, o segmento Brasil, que compõe mais de 50% da receita, fechou o trimestre com um EBITDA negativo de R$ 411 mm, frente a positivos R$ 865 mm no 4T. Para o ano, acreditamos que o cenário macroeconômico e de custos no Brasil ainda são preocupantes, o que sinaliza a dificuldade de recuperação do segmento.

Ásia. No 1T22, conforme esperado, o segmento foi prejudicado pela redução da demanda chinesa, em razão da recuperação do rebanho no país, o que proporcionou dados de preço e volumes inferiores para BRF, principalmente para proteína suína. Em vista disso, a receita líquida do trimestre veio em R$ 1.210 mm (+3,9% R/E, -17,5% t/t e -16,7% a/a), com custos superando o top line, em razão das dificuldades logísticas e obstáculos na produção. Desse modo, foi apresentado uma margem bruta negativa em -1,5%, frente a 12,1% t/t, enquanto o EBITDA fechou também negativo em R$ 80 mm (-196,2% t/t e -132,3% a/a).

Halal. Dentre os segmentos, o Halal foi o único destaque positivo do trimestre, ficando acima de nossas expectativas, no qual vimos um avanço do volume que se estabeleceu em 215 mil toneladas (+9,8% R/E, +8,9% t/t e 20,5% a/a), além dos efeitos positivos do recente repasse de preços feito pela BRF na Turquia e valores do frango no mercado externo, o que trouxe uma receita de R$ 2.657 mm (+14,6% R/E, 9,4% t/t e 27% a/a). Nesse caso, custos se mantiveram controlados, com margem bruta de 21,3% (-0,1 p.p. t/t e 2,6 p.p. a/a, ao passo que vimos um EBITDA robusto de R$ 391 mm (+29,6% t/t e +100,4% a/a), assim como uma margem de 14,7% (2,3 p.p. t/t e 5,4 p.p. a/a).

Exportações Diretas. Mesmo com redução do volume exportado em detrimento dos altos custos e impasse produtivo, os preços atrativos no mercado externo proporcionaram uma receita estável de R$ 1.630 mm (+16,8% R/E, -15,2 t/t e +27,8%), estimulado pela escassez de proteína de frango, em consequência da guerra entre Rússia e Ucrânia e início da gripe aviária no Hemisfério Norte. Contudo, custos de toda cadeia produtiva e volatilidade das commodities também pressionaram as margens, no qual foi apresentado uma Margem EBITDA de 7,3% (-7,0 p.p. t/t e +6,6 p.p. a/a).

Outros Segmentos. No 1T22, sinergia entre a Mogiana e Hercosul, recentemente adquiridas, remediou a receita da BRF, entretanto, custos também avançaram, o que levou a companhia a fechar o trimestre com uma margem EBITDA de 15,7% (-5,0 p.p. t/t e -9,6 p.p. a/a).

Endividamento e Resultado Financeiro. No 1T22 a BRF reportou um resultado financeiro negativo em R$ 744 mm (+114,8 R/E, +10,9% t/t e +28,4% a/a), em reflexo ao avanço das despesas em 28,3% t/t e -6,5% t/t, assim como resultado negativo de operações com derivativos em R$ 1.498 mm (403,6% a/a). No que tange o endividamento, o follow on efetuado no 1T amenizou a dívida líquida, que fechou em R$ 12.588 mm (-27,4% t/t) e consequente alavancagem de 2,83x, ante a 3,12x no 4T, assim como prazo médio da dívida em 8,6 anos.

Resultado. Por fim, em reflexo às dificuldades da cadeia e resultado financeiro, a BRF fechou o trimestre com um prejuízo líquido de R$ 1.546 mm (-260% t/t), bem abaixo de nossas expectativas de R$ 148 mm. Para o ano, temos uma perspectiva ainda desafiadora para BRF, com empecilhos da macroeconomia global e pressão dos custos ainda significativas, além de incertezas diante da administração companhia. Entretanto, por outro lado, a mudança no conselho, ajustes nas operações e restruturação da visão 2030, simbolizam um possível endireitamento da recuperação da BRF no médio prazo.


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