Investimentos no Exterior


Temporada de Balanços 4T23

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Gabriela Joubert

Publicado 28/fev5 min de leitura

Temporada surpreende e bolsas sobem, apesar da revisão da curva de juros

A temporada de balanços do 4T23 praticamente chega ao fim e os resultados reportados pelas empresas, em sua maioria acima do esperado pelo consenso de Wall Street, beneficiaram os índices locais, levando S&P 500 a patamar recorde. Não só as empresas de tecnologia, com frisson da Inteligência Artificial, mas também demais setores surpreenderam positivamente. De acordo com a Bloomberg, os analistas projetavam um crescimento de 1% nos lucros das empresas antes do início da temporada e conforme os balanços foram divulgados, vimos essa estimativa saltar para 7,7% no fim do período. No entanto, já se observa revisões para baixo para as projeções de 2024, resultante das mensagens das próprias empresas sobre manter a cautela e conter a euforia, tendo em visa um cenário de juros ainda elevados para o restante do ano.

O S&P 500 bateu novo recorde e manteve a tendência de alta observada desde novembro de 2023, quando Jerome Powell, presidente do FED, sinalizou ao mercado que o ritmo de desaceleração da inflação poderia levar a cortes nos juros em breve. Além disso, os resultados de Nvidia na última semana deram novo impulso não só aos mercados norte-americanos, mas também a outros índices globais, como o STOXX, na Europa, e o Nikkei, no Japão, também em maior nível dos últimos anos.

O múltiplo P/L S&P 500 está em 24,5x, acima da sua média dos últimos 5 anos (22,3x), média que ainda considera um patamar incomumente elevado de 2020-2021, em cerca de 27x. Excluído este período, a média fica até mais baixa, em cerca de 18x. Com o fim da temporada, os investidores voltam sua atenção aos dados macroeconômicos e à realidade de juros médios maiores que o esperado no início do ano. A desaceleração da inflação favorece uma visão mais expansionista da política monetária pelo FED, contudo a força da economia e as condições ainda apertadas do mercado de trabalho demandam cautela da instituição em prol da manutenção da ancoragem das expectativas. Para os próximos meses, poderemos ver alguma correção dos índices, a depender da evolução dos dados macroeconômicos, da leitura do FED quanto a esses números e do apetite do mercado para seguir com a euforia que tem tomado conta desde o fim do ano passado, a despeito do cenário ainda desafiador de juros e crédito à frente.

No cenário macroeconômico, o quarto trimestre apresentou continuidade no processo de desinflação, com a inflação americana encerrando 2023 com alta de 3,3%, bem abaixo dos 6,4% observados em 2022. E mesmo com a taxa de juros inalterada e permanecendo no patamar de 5,25%-5,50% durante todo o trimestre, a atividade econômica não apresentou deterioração, pelo contrário. Ao longo do 4T, a economia americana adicionou um total de 680 mil novos empregos, encerrando 2023 com uma taxa de desemprego historicamente baixa em 3,7%. O PIB não decepcionou e cresceu a uma taxa anualizada de 3,2% no quarto trimestre, totalizando um crescimento de 2,5% em 2023, longe da recessão que muitos temiam. O cenário de desinflação perfeita refletiu em um maior otimismo ao longo do trimestre, que alcançou seu ápice na reunião do FOMC em dezembro, que, apesar de não ter alterado a taxa de juros, deu uma sinalização de afrouxamento iminente da política monetária. Com isso, os investidores capitalizaram e observamos um forte mercado de alta no final de 2023. Para 2024, a expectativa é de continuidade do processo de desinflação e do início de flexibilização da política monetária. O mercado iniciou o ano apostando fortemente no início do ciclo de cortes em março, entretanto, o Fed deixou claro na reunião de janeiro que março está fora de cogitação. Além disso, tivemos uma inflação em janeiro acima do esperado, com uma dinâmica não muito benigna, o que, associado à continuidade de um mercado de trabalho forte, pode trazer maior volatilidade para os preços ao longo do primeiro trimestre. Nosso cenário base é de início do ciclo de cortes em junho, entretanto, isto está condicionado à não reaceleração da inflação, que hoje é o grande risco incorrido pelos investidores.

A seguir, um resumo da temporada de balanços do 4T23

Das mais de 475 empresas que já reportaram seus balanços na temporada, cerca de 76% superaram o consenso dos analistas, bem acima da média histórica de 72%. Quando olhamos as expectativas dos analistas antes do início da estação, víamos um consenso mais cauteloso, em razão dos efeitos dos juros mais elevados nos balanços das empresas, seja via resultado financeiro, seja pelo lado da retração do crédito ou pelo impacto na ponta final, na demanda. No entanto, estas estimativas foram revisadas para cima, ao passo que as empresas traziam resultados melhores que o esperado, tanto no top quanto no bottom line, contrariando as expectativas de uma economia que pudesse desacelerar por conta do patamar restritivo da política monetária.

Olhando pelo escopo dos grandes setores, o destaque positivo da temporada sem dúvidas ficou por conta do setor de tecnologia. Com mais de 91% dos balanços divulgados, cerca de 90% superaram as expectativas de Wall Street. Nos destaques, Nvidia apresentou números muito acima do esperado, fazendo com que os seus papéis subissem mais de 16% após a divulgação do balanço, tornando-a a quarta maior empresa em valor de mercado no mundo, ficando atrás apenas de Microsoft, Apple e Saudi Arabian Oil Co. Só em 2024, os papéis da empresa sobem mais de 50%. E a sinalização da própria empresa de que a tecnologia da Inteligência Artificial chegou em um ponto de inflexão, contribuiu para que outras empresas do setor também fossem beneficiadas, levando a níveis recordes nas bolsas globais.

Outra surpresa positiva na temporada, o setor de Industrials superou em 82% as expectativas, com recuperação da demanda beneficiada pelos setores de commodities, em especial agrícola, e o setor de Óleo&Gás, com maior necessidade de máquinas e equipamentos. Além disso, o setor vinha descontado perante os pares, prejudicado nos últimos anos pelos altos custos em razão da disrupção da cadeia de suprimentos global, que pressionou margens das empresas. O segmento de consumo não discricionário também surpreendeu, com mais de 86% das companhias trazendo números acima do esperado, mostrando a força da economia norte-americana, apesar dos juros mais elevados, ajudada pelos altos salários e condições ainda apertadas no mercado de trabalho.

Na contramão, o setor de Real Estate esteve entre os piores desempenhos. A demanda por imóveis comerciais segue pressionada por conta da mudança de padrão de trabalho dos americanos, que seguem em home office em grandes centros, prejudicando o desempenho dos Commercial Real Estate, importantes veículos de investimentos neste setor. Além disso, a escassez de imóveis usados disponíveis no mercado tem alterado a dinâmica do sub-segmento residencial, apontando este como um grande vencedor para os próximos anos, em substituição a crise nas lajes corporativas.


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