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Gabriela Joubert

Publicado 16/abr2 min de leitura

Economia forte nos Estados Unidos coloca em dúvida ritmo de cortes nos juros

Depois de doze recordes desde o início do ano, as bolsas norte-americanas entram em compasso de espera, enquanto investidores processam os dados recentes de inflação e aguardam os números a serem reportados pelas companhias referentes à temporada de balanços do 1T24.

O ritmo persistente da inflação neste início de ano, com o CPI (inflação ao consumidor) de março vindo acima das expectativas, elevou as incertezas do mercado quanto ao apetite do FED para cortar os juros ainda este ano. Se no fim de 2023 as apostas centralizavam em até seis cortes ao longo deste ano, atualmente o que vemos são os investidores céticos de que o FED consiga entregar até mesmo os três cortes previstos na última ata do FOMC sobre a reunião de março. De fato, a economia norte-americana demonstra resiliência, assim como o mercado de trabalho que ainda sinaliza condições apertadas, apesar da desaceleração.

Os dados de payroll vieram novamente acima do esperado e os salários arrefecem, mas continuam contribuindo para que o consumo local se mantenha em nível saudável. Os preços dos aluguéis, outro fator importante na contabilização das métricas inflacionárias, mantém a tendência de alta, uma vez que o atual patamar dos juros tem tornado mais difícil a compra de um imóvel. Por fim, os preços das commodities voltaram a subir, podendo colocar ainda mais pressão nos preços dos insumos.

Em resumo, o mercado, que já havia descartado a possibilidade de uma recessão nos Estados Unidos, agora passa a questionar até mesmo a tese de um soft landing e começa a precificar um no landing at all. O resultado?! Inflação e juros mais altos por mais tempo.

Nos últimos dias, dados de atividade, com destaque para Vendas ao Varejo, surpreenderam positivamente, reforçando a leitura do mercado sobre o rumo da política monetária do FED. Até mesmo os números do mercado imobiliário, no qual se esperava arrefecimento devido ao alto patamar de juros na economia, tem surpreendido até mesmo os mais céticos. A confiança do setor continua elevada, mesmo com as condições apertadas do mercado de crédito.

Dado o novo cenário, investidores agora voltam a atenção aos resultados das empresas para a temporada do 1T24. De acordo com as estimativas da Bloomberg, o consenso espera que os lucros das empresas do S&P 500 cresçam 4% a/a. Quando olhamos para as empresas de tecnologia, projeta-se uma alta ainda mais significativa, de cerca de 20% quando comparado ao 1T23. Contudo, ainda mais impressionante, quando afunilamos para as empresas focadas em Inteligência Artificial, as expectativas de aumento dos lucros chegam a 40% a/a.

Os grandes bancos já deram o kick off na temporada. Na última sexta-feira, os resultados do JP Morgan bateram, de longe, as expectativas do consenso, com lucros impulsionados por tarifas mais altas e pelo crédito. O mesmo vimos para Wells Fargo e Citibank, ambos superando as estimativas, com balanços refletindo melhores receitas com tarifas e cenário de juros mais altos beneficiando a receita financeira. No entanto, todos os três bancos mantiveram o guidance de NIIs para o ano, uma vez que as taxas de juros mais restritivas têm começado a surtir algum efeito nas projeções para o restante do ano.

Nos últimos trimestres, a economia em Goldilocks tem ajudado os resultados dos bancos. Até mesmo o mercado de trabalho ainda forte tem auxiliado na manutenção das tendências de consumo das famílias, implicando em níveis ainda altos de contratação de crédito. Mas, a inflação persistente tem reduzido as apostas de início da flexibilização de política monetária em breve e os clientes têm investido mais, aproveitando do momento, e retirando liquidez do mercado. O primeiro trimestre também teve ajuda do mercado de investimentos. As receitas com originações de operações de crédito avançaram, ajudando a impulsionar os resultados. Mas mesmo esta linha de negócios pode arrefecer se os juros se mantiverem altos por muito tempo.

Dando continuidade, Goldman Sachs, Morgan Stanley e Bank of America divulgaram seus balanços esta semana, com desempenho similar a seus pares. Os resultados foram impulsionados por números melhores que o esperado tanto no banco de Investimentos quanto nas receitas com juros, fazendo com que os lucros batessem as expectativas de Wall Street. No entanto, o desempenho acima do esperado não foi suficiente para segurar a queda dos papéis na última semana.

O resultado dos bancos é utilizado como um termômetro da economia e neste sentido poderíamos esperar bons números para os demais setores referentes ao desempenho dos primeiros três meses do ano. No entanto, como falamos, as expectativas dos analistas estão mais otimistas que nos trimestres anteriores, colocando um desafio maior às empresas para surpreender positivamente o consenso. Além disso, o bull market parece demandar um catalisador que abra espaço para correções no curto prazo. Os juros das Treasuries já corrigiram desde o início do ano, mas os índices norte-americanos caminharam em direção contrária, puxados, principalmente, pelo setor de Tecnologia, mas não só ele. No acumulado do ano, o subíndice de comunicação do S&P 500 avança cerca de 16%, seguido por Consumo Discricionário e Energia, que sobem 13% e 12%, respectivamente.

Por este motivo, reduzimos nossa exposição ao mercado acionário na alocação tática deste mês, conforme vemos espaço para correções dos ativos de risco, até que o caminho para o ritmo de corte de juros do FED fique mais evidente. Até lá, mercado vai aproveitando as oportunidades de investimento com excelente retorno e baixo risco no curto prazo, enquanto Cash remains as king!


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