Carteiras


Market Strategy - Asset Allocation Mar.25

GAbi Joubert perfil 2

Gabriela Joubert

Publicado 05/mar

Palavra da Estrategista – Mar.25

A dúvida é pior que a certeza

A ressaca pós-carnaval veio antes este ano. Nem a temporada de balanços no exterior melhor que o esperado foi suficiente para impulsionar as bolsas norte-americanas que sentiram o baque das correções nos papéis de tecnologia. O resultado da Nvidia, apesar de acima das expectativas, não gerou a empolgação esperada, e o S&P 500 encerrou o mês em queda de 1,5%.

Pela ótica macroeconômica, os dados continuam mostrando robustez. O mercado de trabalho não dá sinais de piora, conforme payrollque veio acima das expectativas para o mês. O PIB também segue forte e esperamos em crescimento de 2,4% para o ano. Consequentemente, a inflação se mostra persistente e janeiro tivemos uma surpresa negativa, com o CPI vindo em 0,5%, somando 3% em 12 meses. Esta junção de fatores vem tornando a vida do Federal Reserve mais difícil e já vemos o mercado precificando entre um e dois cortes para este ano, porém apenas no segundo semestre.

Ao mesmo tempo, as políticas do novo governo quanto à imigração e tarifas seguem trazendo ainda mais incertezas ao cenário e o índice VIX, que mede a volatilidade dos mercados, chegou ao seu maior nível no ano, próximo ao patamar de 20 pontos.

Cenário de desaceleração passa a ganhar força

No Brasil, o risco fiscal voltou a pesar nas decisões de investimentos e a bolsa brasileira recuou, devolvendo parte dos lucros do ano. Pesou também os resultados de algumas empresas grandes, como Petrobras, que reportou números aquém do esperado, puxando o índice para baixo no final do mês.

No cenário macroeconômico, os sinais de desaceleração da economia passam a ganhar um pouco mais de força, conforme já havíamos visto nos números da indústria, varejo e serviços. Se confirmado, poderíamos ver o Bacen encerrar seu ciclo de alta antes do previsto.

No entanto, o mercado de trabalho segue saudável, o que poderia ainda trazer pressão de preços, mantendo a inflação acima da meta e, com isso, as expectativas ainda desancoradas.

De qualquer maneira, ainda vemos os prêmios em patamares elevados, refletindo as incertezas com a equalização das contas públicas.

Bons investimentos!

O custo da dúvida - Mais incertezas, mais volatilidade

Fevereiro seguiu o compasso de indefinição do início do ano, com investidores prorrogando algumas tomadas de decisões enquanto mensuram os reais impactos das políticas do novo governo Trump, seja pela imposição de tarifas, pela redução de impostos ou pelo processo de desregulamentação da economia.

Novamente, as conversas sobre tarifas voltaram ao radar, com provável início de cobranças de 25% sobre Canadá e México, mas agora incluindo também a União Europeia. Vimos Trump se aproximando mais de Rússia e avançando em conversas para por fim à Guerra na Ucrânia. Quanto à relação com China, as posições parecem mais controversas. Ao mesmo tempo que as restrições de compartilhamento de tecnologia continuam, assim como as ameaças de tarifas, Trump acenou para mais investimentos chineses em território americano. Essa posição ajudou a melhorar o otimismo com China, que já vinha chamando atenção desde o fator DeepSeek no início do mês passado.

No campo macroeconômico, o consenso aponta para juros ainda altos no primeiro semestre, uma vez que para a inflação acima da meta, mercado de trabalho aquecido e o crescimento econômico forte poderiam limitar a atuação do Fed no que tange a flexibilização da política monetária. No entanto, aqui, vale ressaltar que a queda recente na confiança mostra um certe desconforto com as incertezas com o novo governo, o que, se consolidado, poderia afetar as decisões futuras de consumo e investimentos.

Asset Allocation Mar.2025 - Incertezas e volatilidade, mas também oportunidades

O cenário está colocado e enquanto houver dúvida e volatilidade, há também oportunidades. No Brasil, mantivemos nossa alocação reforçada na renda fixa, sem novidades, com juros e IPCA+ dominando os portfólios. O call de desaceleração, se consolidado, poderá levar a alguma correção nos prêmios atuais, com mercado antecipando encerramento antecipado do ciclo de alta. Mas, ainda assim, teremos juros altos por um tempo, favorecendo a posição em pós-fixado. Ao mesmo tempo, a inflação persistente e os prêmios próximos a 7% abrem oportunidade imbatível no longo prazo. Só ressaltamos, novamente, a importância de se observar a qualidade dos emissores. Taxas mais altas significam custos mais altos para quem está pagando a dívida.

Já para a bolsa brasileira, o atual nível em 7,2x preço sobre lucro coloca o Ibovespa entre as bolsas mais baratas do mundo. O início do ano foi mais favorável, com a volta do capital estrangeiro, mas o fiscal prevalece assombrando os mais precavidos. Porém, àqueles com mais apetite, seguimos vendo oportunidades nos segmentos mais defensivos, com as boas e velhas pagadoras de dividendos. Nesse sentido, bancos, seguradoras, elétricas e algumas exportadoras entram no nosso rol.

Ressaltando a importância da diversificação em moeda forte, continuamos otimistas com a renda fixa internacional, já que o Feddeve demorar um pouco mais para seguir cortando os juros. No entanto, mantemos preferência para o médio prazo e focamos em emissores investmentgrade, prezando pela menor volatilidade e maior segurança. Na Bolsa, reforçamos nossa preferência por setores como o financeiro, a indústria e também saúde. Nesse sentido, vemos no Dow Jones uma boa opção para quem quer uma exposição mais concentrada, tentando aproveitar alguns triggers para o ano vindos da nova administração Trump e se eximindo da forte concentração das Big Techsnos portfólios.

Cenário Doméstico - Menos estresse, mas sinais de desaceleração ganham força

Fevereiro manteve a tendência observada em janeiro, com redução do estresse observado em dezembro. A taxa de câmbio chegou a ficar abaixo de R$5,70 com um noticiário mais ameno e um ambiente externo mais favorável, entretanto, a retomada da discussão da implementação de tarifas por parte do governo americano fez com que o dólar ganhasse força na última semana do mês. No geral, a conjuntura econômica apresentou leve melhora em fevereiro. A inflação medida pelo IPCA-15, apresentou melhora nos núcleos e na inflação de serviços, mas ainda em patamares elevados que ensejam cautela.

Entretanto, os dados de atividade reforçam a tendência de desaceleração. Tivemos, pelo segundo mês consecutivo, indústria, varejo e serviços apresentando variação negativa no mês, o que sugere que a piora nas condições financeiras estão começando a serem sentidas na economia real. 

Com isso, observou-se a curva de juros fechar ao longo do mês, refletindo a visão de que uma desaceleração da economia permitirá que o Copom não tenha que levar a taxa Selic a patamares tão altos. De fato, a curva já começa a precificar cortes nos juros no final do ano, em linha com o nosso cenário, que projeta um crescimento de 1,55% do PIB em 2025, o que permitiria que a Selic encerrasse o ano em 14,25%.

O risco para o cenário continua sendo o fiscal. O arcabouço fiscal prevê o zeramento do déficit em 2025. Mesmo com o pacote fiscal anunciado em dezembro, estimamos que o governo encerrará 2025 com um déficit de R$70 bilhões, o que demandaria novas medidas fiscais. Outro risco é a possível reação do governo à desaceleração da economia, aliada à perda de popularidade, o que aumenta a probabilidade de medidas que possam trazer nova rodada de deterioração para o mercado.

Cenário Internacional - Economia americana continua mostrando sua resiliência

No âmbito internacional, tivemos uma redução da incerteza, com Trump adiando a imposição de tarifas sobre o México e o Canadá, o que levou o mercado a acreditar que essas tarifas podem não ser implementadas. Entretanto, nos últimos dias Trump voltou a afirmar que tais tarifas serão implementadas em março, adicionando volatilidade ao mercado.

No geral, tivemos mais um mês em que a economia americana demonstra sua resiliência. Em janeiro, o mercado de trabalho adicionou 143 mil novos empregos, com o desemprego recuando para 4%, ao passo em que os salários continuam crescendo acima de 4% anualizados, o que é inconsistente com a meta de inflação de 2% ao ano. A inflação foi uma surpresa negativa em janeiro, com alta de 0,5% frente a dezembro, acompanhada de aceleração no núcleo que avançou 0,4%, indicando elevado grau de persistência do processo inflacionário.

Com a inflação persistente, o Fedse viu na situação de pausar o ciclo de cortes. Para retomá-los será necessário uma de duas condições: ou a inflação apresenta um progresso mais firme em direção à meta, ou o mercado de trabalho piora de maneira significativa. Nenhuma dessas condições deverá ser satisfeita no curto prazo. O mercado de trabalho dá sinais de acomodação em patamar robusto, com a média móvel de 3 meses de adição de emprego alcançando 240 mil por mês, crescendo pelo terceiro mês consecutivo, enquanto a inflação não dá muitos sinais de que irá desacelerar de maneira significativa no curto prazo, em meio às incertezas sobre as tarifas de importação.

Portanto, não há urgência para o Fedretomar o ciclo de cortes. Os dois cortes adicionais, previstos pelo próprio Fedem dezembro, ainda seriam razoáveis, mas não estritamente necessários.

Renda Fixa - Uma melhora aparente ou uma aparente melhora?

Nas últimas semanas, observamos um alívio significativo nas taxas de juros no Brasil, especialmente na parte média e longa da curva futura. Em nossa última edição da newsletter de Renda Fixa, abordamos a possibilidade desse cenário de queda, especialmente em relação ao segundo semestre do ano. Entretanto, é importante ressaltar que o panorama ainda é bastante incerto e marcado por volatilidade.

Com a compressão da curva de juros, os títulos públicos IPCA+ tiveram um desempenho positivo no mês, apresentando uma rentabilidade em torno de 2%. Os títulos prefixados acompanharam essa tendência, alcançando uma performance de 1,7%. Em comparação, o CDI registrou uma rentabilidade de aproximadamente 1,3% no mesmo período.

Quando analisamos um intervalo de tempo mais longo, como os últimos 12 meses, os títulos pós-fixados mostraram um desempenho superior em relação aos prefixados e híbridos. É importante destacar que o IMA-B5+ teve uma queda de 6% nos últimos 12 meses, o que representa um resultado negativo nesse cenário.

Para os meses à frente, nossa expectativa é de que continuemos enfrentando um cenário repleto de volatilidade e incertezas, especialmente em relação ao fechamento ou não da curva de juros. Identificamos três pilares principais que devem contribuir para essa volatilidade: o resultado fiscal e as ações do governo, as pressões inflacionárias e as influências do mercado externo.

Ibovespa - Ressaca pós-carnaval

A bolsa brasileira ficou em clima de ressaca no mês de fevereiro, com queda de 2,6% após o inesperado retorno positivo no início do ano. Tivemos dessa vez diversos ventos contrários e acabamos acompanhando a cautela global. Primeiro com o mercado reagindo à intensificação das tarifas de Trump ao México e Canadá e deixando a Europa sob aviso. O clima de retaliação e novas preocupações inflacionárias por lá acabou derrubando as bolsas em Wall Street o que chegou até nós, tendo em vista que nosso movimento de alta no ano estava sendo praticamente capitaneada pelo investidor estrangeiro. Não bastasse os ventos contrários do exterior, tivemos por aqui movimentos em ministérios por parte do governo que deixaram os investidores ainda mais receosos com o comprometimento com medidas de maior austeridade fiscal, que segue sendo uma preocupação para o mercado.

A temporada de resultados do quarto trimestre vai seguindo seu rumo, com alguns resultados mistos, caso de Petrobras que trouxe prejuízo inesperado pelo mercado, mas com a Vale trazendo boas tendências na redução dos custos, apesar do prejuízo também registado no trimestre. Por outro lado, entre os bancões, apesar dos resultados terem superado as expectativas, vimos o mercado manter a preocupação com a qualidade de crédito no Banco do Brasil e a sustentabilidade do atual nível de rentabilidade e entre os principais temas no o setor, o Bradesco mostra ainda uma recuperação lenta e o Itaú seguiu sendo o bestin classdos incumbentes.

Ações do setor de papel e celulose foram destaque de queda no mês passado, seguido pelos setores de transporte e logística, óleo e gás e financeiro reagindo tanto a aspectos micro voltados à temporada de resultados e também aos movimentos macro do mercado.

Março começa com um clima de ressaca pós-carnaval, com um cenário no exterior não muito favorável diante das tarifas e tensões com a guerra comercial e na Ucrânia e com investidores locais de olho na temporada de resultados e nos movimentos do governo.

Real Estate - Custos de construção sinalizam alerta no Brasil e EUA

Desde o último relatório, vimos indícios de desaceleração nos preços de imóveis e aluguéis no Brasil, porém sem tendência conclusiva. O pipeline da construção demonstrou sinais de abrandamento motivados pelo segmento do MCMV, e continua o desafio de saciar uma demanda robusta apesar do patamar historicamente saudável de lançamentos de imóveis.

Nos EUA, percebemos alguns sinais de aquecimento marginal, com financiamentos se tornando mais atrativos desde o último relatório e condições de oferta indicando um mercado mais apertado, com imóveis vendendo mais rápido do que nas leituras anteriores e um pipeline da construção mais sólido do que anteriormente visto. Tais mudanças, porém, foram marginais e ainda não constituem quebra de tendência para a conjuntura recente do mercado, que continua marcado por falta de apetite e ausência de pressão nos preços de imóveis.

No tema de custos, por outro lado, notamos aceleração do INCC motivada pelos custos de trabalho, que aqueceram nacionalmente apesar de um mercado de trabalho perdendo momento. Apesar do preço de materiais se manter benigno no Brasil, vimos indícios mais notáveis de pressão nos materiais dos EUA, situação provavelmente motivada pela guerra comercial que deverá deixar insumos chave, como o aço, mais caros. É possível que hajam repasses para o Brasil, mas não vemos tal situação por ora.

Fundos Imobiliários - Fundos recuperam, mas ainda em meio a incertezas

Vimos alguma recuperação ao longo do mês de fevereiro, com uma agenda um pouco mais esvaziada quanto aos fatores que contribuíam para a volatilidade no setor. Mas, apesar da leve recuperação, ainda vemos a continuidade do cenário desafiador à frente.

A possibilidade de retomada das discussões sobre tributação de dividendos, juntamente com a pressão ainda presente da conjuntura macroeconômica atual devem continuam impactando a classe. Os juros ainda em patamares elevados seguem como um limitador. No entanto, o cenário de desaceleração da atividade, se concretizado, poderia por fim ao ciclo de alta nos juros antecipadamente, trazendo algum alívio, mesmo que momentâneo ao segmento.

O movimento de retorno ao trabalho presencial vem ganhando força em diversas empresas, pressionando positivamente o segmento de lajes corporativas. Grandes corporações anunciaram o fim do home office, indicando uma clara tendência de volta aos escritórios. Esse cenário impulsiona os FIIs focados em escritórios, que vinham sofrendo com altos índices de vacância desde a pandemia. Já se observam sinais de recuperação. Há sinais positivos para fundos com portfólios bem localizados e de alta qualidade, que tendem a manter vacância menor e maior poder de reajuste nos aluguéis devido à demanda elevada por espaços premium.

Como citamos na última análise, o momento segue de cautela, buscando aproveitar as oportunidades de price tobook valueabaixo de 1, porém visando aqueles fundos mais estruturados e com boa gestão afim de evitar mais desafios pelo caminho

Receba nossas análises por e-mail