Carteiras


Inter Strategy - Eleições norte-americanas e o dólar

GAbi Joubert perfil 2

Gabriela Joubert

Publicado 04/nov4 min de leitura

Assunto da semana: Eleições norte-americanas

Desde a semana passada, parece que não se fala em outra coisa a não ser as eleições norte-americanas. Quem vai comandar a maior economia do mundo nos próximos quatro anos? A democrata Kamala Harris ou o republicano Donald Trump? E, neste momento, você deve estar se perguntando: que cargas d’água eu tenho a ver com o que se passa lá nos Estados Unidos? Não vai fazer diferença nenhuma na minha vida se um ou outro vencer.

É, em partes vocês está certo! Na nossa rotina nada muda. Vamos ter que continuar a acordar cedo para trabalhar, vamos continuar tendo que fazer exercícios, beber água e usar protetor solar. Mas, um olhar mais clínico nos faz ver que também não é bem assim.

Por mais que estejamos distantes, o resultado das eleições nos Estados Unidos pode, sim, afetar um pouco a nossa vida aqui. Afinal, estamos falando da maior potência econômica global e, sendo este mundo cada vez mais globalizado, não tem como não nos afetar.

Vamos aos acontecimentos recentes. Nas últimas semanas, foi só Trump aparecer liderando as pesquisas que os juros futuros voltaram a subir, o dólar se fortaleceu perante outras moedas e alguns setores se destacaram mais que outros, como por exemplo os criptoativos (eita, que lá vai o Bitcoin de novo!). As eleições norte-americanas acontecem oficialmente dia 05/11, mas o resultado deve demorar alguns dias (talvez semanas) para sair, tamanho o acirramento entre os dois candidatos. Fizemos um relatório especial sobre as eleições e o impacto nas principais variáveis macroeconômicas, como PIB, volatilidade, o S&P 500 e o câmbio, e é neste último que vamos focar hoje.

Dólar a R$ 5,80: vai ter Disney?

Nas últimas semanas, o dólar americano ganhou força ante outras moedas globais, conforme o mercado começou a se posicionar para uma eventual vitória de Trump. Alguns analistas acreditam que um governo Trump II poderia trazer mais inflação, em razão de suas políticas mais expansionistas, especialmente com redução de impostos e aumento de tarifas sobre produtos importados. Com isso, o Fed (banco central norte-americano) não conseguiria cortar os juros na velocidade esperada e isso levaria a um patamar de juros um pouco maior do que o mercado estava precificando até então.

Bom para os americanos que tem visto sua moeda se valorizar ainda mais, o que faz com que bens importados fiquem mais baratos, ou até mesmo viajar para o exterior fique ainda mais fácil do que de costume.

Por outro lado, para o resto do mundo, ir para os Estados Unidos está cada vez mais caro. E no nosso caso não é diferente. Desde o início do ano, o real desvalorizou mais de 15% ante o dólar. A pressão vem do exterior, já que, como falei, o dólar tem se valorizado ante praticamente todas as moedas globais. Mas para o real existe ainda o efeito interno. O Risco Fiscal. Por aqui, o cenário local tem pesado até mais que o externo, fazendo com que nossa moeda se desvalorizasse a ponto de ultrapassar recentemente o patamar de R$ 5,80 para cada US$ 1.

A inflação local e o risco país são grandes pressionadores do poder aquisitivo do real. Só para vocês terem uma ideia, desde 1994 quando de sua concepção, o real já desvalorizou cerca de 80%.

Desse jeito, a tão almejada viagem para a Disney vai se tornando um sonho cada vez mais distante.

E como fica o dólar com as eleições?

É natural seguirmos vendo volatilidade em meio a um cenário tão incerto como o vivenciado agora. As últimas pesquisas do fim de semana já mostraram Harris à frente de Trump, mas na margem de erro. De qualquer maneira, ainda teremos muitos dias de discussão, já que qualquer um dos lados deverá questionar os resultados em eventual derrota, o que poderia fazer com que as eleições se arrastassem durante alguns dias (ou talvez até semanas).

De acordo com as movimentações recentes, toda vez que o pêndulo vai para o lado de Trump o dólar se fortalece, quando ele pende para Harris, o dólar perde força. Por que isso acontece?

Na verdade, mais que ligado a um partido ou outro, o dólar está fortemente relacionado à política monetária adotada pelo Fed, ou seja, o patamar de juros da economia. Quando o cenário é de juros mais altos, como vimos nos últimos anos, o dólar tende a se fortalecer perante outras moedas, pois investidores vão querer investir nos Estados Unidos e, para isso, precisam comprar dólar. O contrário também é verdadeiro.

Em momentos de ciclo de cortes nos juros, investidores saem dos Estados Unidos (vendem dólar) em busca de oportunidades que rendam mais no resto do mundo. Assim, vemos o dólar depreciar. Este é o movimento que poderemos ver daqui para frente por conta do ciclo de cortes anunciado pelo Fed(essa semana tem decisão de juros, fiquem de olho!). Mas, esse processo de desvalorização do dólar vai depender da magnitude de cortes que o Fedirá entregar e isso ainda está incerto.

Voltando para o cenário eleitoral, quero chamar atenção para um gráfico que usamos na nossa edição especial de eleições. Linhas azuis refletem período de governos democratas, enquanto vermelhas refletem liderança republicana. Apesar do vai e vem, uma coisa é fato: o dólar segue ganhando valor ao longo dos anos. Este é um reflexo da potência macroeconômica que são os Estados Unidos. No fim, uma economia forte e consolidada acaba sendo fundamental para manter o poder aquisitivo de sua moeda

Por esta razão, é importante também considerarmos a diversificação de moeda em nosso portfólio. Deter uma parte de nossos investimentos em moeda forte pode impactar positivamente o retorno ao longo do tempo.

Eu até fiz uma série de vídeos falando sobre isso. Corre lá no nosso canal do YouTube – Investir no Exterior.

Bons investimentos e conte com a gente!


Compartilhe essa notícia

Receba nossas análises por e-mail