Incerteza ainda foi fator importante no cenário doméstico. Apesar da aprovação da PEC da Transição e da montagem dos ministérios, ainda há muito ruído sobre os próximos passos da política fiscal. Com o fim iminente do teto de gastos, existe a expectativa sobre qual será a nova âncora fiscal, cujas discussões ainda não começaram. Consequentemente, a curva de juros foi bastante pressionada ao longo do mês, indicando pouco espaço para o início no corte da Selic, pelo menos no primeiro semestre de 2023 devido ao risco de desancoragemda inflação. Por sua vez, a inflação tem apresentado uma dinâmica positiva, dando sinais de que a política monetária tem sido eficaz em induzir o processo de desinflação, com a média dos núcleos caindo e a inflação de serviços bem controlada. Portanto, não fosse a questão fiscal, a discussão sobre o início do ciclo de cortes na Selic já teria começado.
Atividade econômica dá sinais de desaceleração. A atividade surpreendeu em 2022 e o crescimento do PIB deve ficar acima de 3%. Boa parte do bom desempenho foi fruto do forte crescimento do setor de serviços. Entretanto, os dados mais recentes apontam para desaceleração no setor, consequência da piora das condições financeiras. Com isso, observa-se desaceleração no ritmo de novas contratações. Os indicadores antecedentes também vão nessa direção. Apesar da alta observada em dezembro nos índices de confiança, a média móvel já mostra que o pico foi atingido e que devem cair nos próximos meses. Portanto, o cenário para 2023 exige cautela.
A Bolsa em dez/22 | Cenário político pressiona ativos locais e lá fora, juros mais altos por mais tempo
A esperança de que as festividades trouxessem o bom-humor do Natal para os mercados infelizmente não se concretizou e no mês, o Ibovespa encerrou em queda de 2,45%, finalizando o ano pouco abaixo dos 110 mil pontos.
O mercado local se viu a mercê dos imbróglios políticos locais, processando os nomes dos novos 37 ministros do novo governo que toma posse em 01 de janeiro, além de contabilizando os efeitos da PEC da Transição nas contas públicas e o risco fiscal que voltou a pairar entre as preocupações para o próximo ano. Com isso, o FOCUS trouxe revisão para cima das projeções de inflação para 2023 e as expectativas de cortes na SELIC já no primeiro semestre arrefeceram.
Lá fora, o processo de reabertura da China que animou as bolsas no mês anterior trouxe ponto de atenção com o aumento significativo no número de novos casos de covid e os impactos na recuperação econômica no país. Enquanto isso, no restante do mundo, os bancos centrais reforçaram o tom mais hawkish em suas falas, refletidos também nas decisões mais agressivas em suas políticas monetárias.
Desempenho Dez/22 | Definições, mas cautela prevaleceu
Apesar das oscilações e dos desafios enfrentados ao longo do mês, nossa carteira ficou 1,01 pontos acima do Ibovespa, beneficiada pela estratégia de manter um portfólio mais defensivo frente aos impasses que ainda perdurariam no cenário político até a definição da PEC no Congresso e Senado e a nomeação do corpo ministerial para o próximo governo.
Dentre os destaques positivos, a BBSE3 apresentou a maior alta no período, avançando mais de 7%, beneficiada pelas expectativas de continuidade dos bons resultados. Na sequência, PRIO3 contribuiu com desempenho positivo de 3,22%, com a maior preferência pelos papéis do setor, em detrimento à líder Petrobras com os ruídos políticos diminuindo o apetite pelos papéis agora. Por fim, KLBN11 avançou 1,5%, refletindo um dólar mais comportado e os fundamentos ainda sólidos tanto para a celulose nos mercados internacionais, quanto para papel no mercado doméstico.
Na ponta negativa, vimos GGBR4 liderando as perdas no mês, conforme as incertezas com China se elevavam e as projeções de recessão nos Estados Unidos ganhavam força. Também RDOR3 contribuiu negativamente, cedendo mais de 4% no mês.
Carteira Jan/23 | Um novo ano, mas estratégia mais defensiva continua
Para o início do ano, optamos por aumentar um pouco mais a exposição ao risco em nossas recomendações, mas ainda mantendo uma carteira mais conservadora e diversificada. O mês de janeiro tende a ser um período de reposicionamentos e com a posse do novo governo, mercados atentarão para a mensagem a ser passada ao longo do discurso oficial.
Mantivemos como representante de Consumo ASAI3, ainda apostando na resiliência do setor de Alimentos diante de inflação que desacelera, mas ainda pressiona.
No setor de Utilities, mantemos ENBR3 e EQTL3, garantindo uma exposição mais defensiva no portfólio.
No setor financeiro, seguimos com BBSE3 e PSSA3 representando as seguradoras, além de ITUB4, o bestin class dentre os incumbentes.
Para o setor de Saúde, substituímos RDOR3 por HYPE3, apostando na recuperação da companhia para os próximos meses.
Já para as commodities, KLBN11 e PRIO3 continuam no portfólio, mas substituímos GGBR4 por CSNA3, em virtude de um momento mais propenso para esta última, que se encontra muito descontada perante os pares.