Panorama Econômico
Sanções à Rússia geram alta nas commodities, preocupando banco centrais ao redor do mundo
No Brasil, março começou com resultado do PIB do 4T21 melhor do que o esperado, +0,5% na comparação trimestral e 4,6% no ano frente a 2020. Após mês de janeiro mais fraco, afetado pela onda de Omicron, indicadores relativos a fevereiro mostraram recuperação da atividade e resiliência do emprego mesmo após as subsequentes altas de juros. Destaque para o setor de serviços, que deve ter caminho menos tortuoso pela frente enquanto construção e indústria, principalmente bens duráveis, devem enfrentar os maiores desafios nos próximos meses. Além disso, IPCA-15 de março ficou novamente acima expectativa e esperamos uma forte alta do índice no mês em 1,35%, resultado dos reajustes de combustíveis e alta dos alimentos. Apesar da nova surpresa inflacionária, o BC vem reforçando a mensagem de que pretende encerrar o ciclo de alta na próxima reunião em maio, com a Selic chegando em 12,75%. Apesar dos sustos e surpresas ao longo de março, o fluxo financeiro surpreendeu positivamente, levando a queda no dólar e fechamento das curvas de juros no fim do mês.
Para o cenário externo, a guerra na Ucrânia completou um mês e o principal impacto ainda é a alta das commodities no mercado global, apesar de um certo alívio observado nas últimas semanas, com o avanço das negociações para tentar colocar fim no conflito. O CRB, índice global de commodities, subiu 10% em março e acumula alta de 27% em 2022. Entre as commodities agrícolas, milho, trigo e soja tiveram altas não só pelo impacto direto na produção da Ucrânia, mas pela expectativa de escassez de fertilizantes exportados pela Rússia. A alta dos alimentos preocupa no médio e longo prazo, mas no curto prazo, o mercado segue de olho nos preços do petróleo, que fechou o mês cotado a $107/barril. Apesar de bem abaixo do pico de $127, alcançado ao longo do mês, acumula alta de 38% no ano, e deve adicionar pressão inflacionária em diversos países.
A Bolsa em Março
Fluxo estrangeiro beneficia Bolsa no mês
O conflito entre Rússia e Ucrânia continuou trazendo impactos nos mercados internacionais e, após as sanções ocidentais impostas à Rússia, a alta nos preços do petróleo, que continua acima de US$ 100/barril, e nas demais commodities como o minério de ferro, beneficiaram os mercados emergentes mais ricos em recursos naturais, o caso do Brasil por exemplo. Assim, a bolsa brasileira foi beneficiada com um fluxo estrangeiro, que só nos três primeiros meses do ano registrou cerca de R$ 92 bilhões (até 28/03), valor próximo aos R$ 104,2 bilhões registrados em todo o ano passado.
Desta forma, o índice encerrou pelo 4o mês consecutivo em alta, registrando 6,1% a 120.011 pontos e apresentando o melhor trimestre desde 2020 (+14,5%), enquanto o S&P500 avançou 3,6% no mês (-5,2% no trimestre). As ações do setor de utilities, commodities e financeiro se destacaram dentre as altas no mês. O setor financeiro por sua vez, também vai colhendo um movimento direcionado pela alta da taxa Selic, que atingiu 11,75% na última reunião do Copom.
Abril inicia ainda com incertezas, apesar de em menor nível, enquanto a guerra na Ucrânia permanece sem resolução, o que continua pressionando os preços das commodities e a inflação ao redor de todo o globo. Fato que pressionou a Opep+ a estabelecer um modesto aumento na produção para maio, em 432 mil barris diários, e os Estados Unidos a usarem por alguns meses sua reserva estratégica de petróleo em cerca de 1 milhão de barris por dia por seis meses, a partir de maio, visando conter maiores avanços no preço da commodity.
Apesar do avanço do petróleo, as ações locais do segmento custam a brilhar
Mesmo com os importantes avanços que vimos nos preços das commodities lá fora, em especial o petróleo, quando observamos as maiores altas na bolsa no mês, não enxergamos as representantes do setor no ranking. As interferências no controle da Petrobras, tanto com mudanças na gestão quanto na tentativa de política de controle de preços não foi bem vista pelo mercado, que acabou penalizando os ativos do setor.
Interessante notar que apesar do bom momento das commodities em geral, no mês o destaque ficou por conta de outros setores, como o Varejo, que viu recuperação após as consecutivas quedas desde o ano passado, indicando que talvez estejamos chegando a um ponto de inflexão no segmento.
De fato, ativos voltados ao mercado interno têm ganhado preferência nas últimas semanas. O setor financeiro, atual campeão em rentabilidade no ano, segue beneficiado pela escalada nos juros, que tem contribuído para a recuperação do spread bancário, deteriorado desde o início da pandemia.
Destacamos também o segmento de Utilities que vem refletindo um cenário mais favorável da crise hídrica que assolou os ativos no ano passado, bem como índices inflacionários mais altos, que impactam positiva e diretamente as receitas de diversas empresas no setor.
Desempenho da Carteira
Carteira avança além do Ibovespa em mês positivo para quase todos os setores
Mesmo com os desafios observados ao longo do mês, com guerra influenciando preços de commodities e elevação dos juros nos Estados Unidos, o Ibovespa teve desempenho acima de seus pares internacionais e a carteira conseguiu bater o benchmark, mais uma vez, com a estratégia de diversificação cumprindo devidamente o seu papel.
Os destaques positivos ficaram por conta de GGBR4 impulsionada pelo avanço dos preços do aço no período, bem como digestão dos bons resultados apresentados para o 4T21 e mercado ainda favorável, especialmente para a indústria norte-americana. SBFG3 e BBSE3 também foram destaque, subindo mais de 10% cada, com a primeira refletindo resultados bem acima do esperado no último trimestre do ano, e a segunda, o bom momento de recuperação das seguradoras.
Na ponta negativa, SAPR11 e BBAS3 decepcionaram, em movimento de rotatividade de ativos e preferência por ativos menos defensivos no mês.
Carteira Retorno – Abril
Ausência de más notícias pode ser boa notícia
Mesmo com o cenário de guerra ainda em curso e colocando pressões nos preços dos insumos, vislumbramos que um momento de inflexão possa estar próximo.
Apostando na redução de incertezas com panorama praticamente dado de juros nos Estados Unidos e avanços nas conversas entre Rússia e Ucrânia que, em um eventual cessar- fogo, poderiam trazer os preços de algumas commodities a níveis menos especulativos, optamos por balancear nossa carteira, elevando a relevância de ativos com maior exposição ao mercado interno, sem deixar de lado a participação das commodities.
Mantivemos SAPR11 no segmento de Saneamento, mas substituímos EQTL3 por AESB3 visando a capturar a retomada das geradoras.
Assim, mantivemos VALE3, GGBR4 e JBSS3 na carteira, uma vez que, mesmo com eventual correção de preços, estas companhias poderiam se sobressair em razão de suas estratégias de diversificação e posição de mercado
Em bancos, estamos reduzindo o número de ativos no portfólio, excluindo ITUB4, mas mantendo BBAS3, BBSE3.
No segmento de Varejo, mantivemos VIVA3, apostando na resiliência do comércio de luxo e nos drivers do alta-renda, mas substituímos SBFG3 por CRFB3, iniciando exposição ao segmento alimentício. Ainda, optamos por incluir MOVI3 na lista, aproveitando continuidade do movimento de recuperação no setor.