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Inter Dica | Urânio

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Gabriela Joubert

Publicado 20/mai7 min de leitura

Hoje em dia, observamos um forte movimento em busca de fontes de energia renováveis, impulsionado não apenas pelo robusto crescimento da demanda energética, mas também por críticas referentes aos impactos ambientais: especialmente sobre combustíveis fósseis e dependência de importação de energia, recentemente intensificada com o cenário de guerra na Ucrânia.

Com o tema em alta, nosso Inter Dica traz uma fonte alternativa de energia notoriamente eficiente, porém ainda muito polêmica: a energia nuclear.

Quando se ouve sobre energia nuclear, o que vem à sua cabeça? Provavelmente, os desastres de Chernobyl e Fukushima ou os eventos com armas nucleares. Contudo, o tema vai muito além disso e já vemos diversos especialistas e até mesmo grandes investidores atuando em favor do uso de energia nuclear como a energia do futuro. Um exemplo seria Bill Gates, que atua inclusive como CEO da TerraPower, empresa focada no fornecimento de energia nuclear repensada (veja o site aqui).

Mas, vamos por partes. Como é produzida a energia nuclear?

A geração da energia nuclear acontece a partir de um processo chamado de fissão nuclear, em que o núcleo de um átomo é partido por um bombardeamento de partículas. Essa fissão nuclear, libera uma grande quantidade de energia, proporcionando uma elevada geração de calor, que por sua vez, faz com que a água dentro do retor evapore, e consequentemente gire a turbina, acorrendo a produção de energia. A “fumaça” que sai de uma usina nuclear, não é fumaça, é vapor da água utilizada para rotacionar a turbina.

E por que energia nuclear?

A eficiência em comparação às demais. As concorrentes - solar e eólica - não conseguem fornecer uma boa carga-base, sendo incapazes de produzir a energia necessária em momentos de alta demanda. Veja a comparação na imagem a seguir:

Fonte: World Nuclear Association, U.S Department of Energy

Vale ressaltar que as usinas nucleares não dependem das variações climáticas, ou seja, faça sol ou faça vento, as usinas funcionarão normalmente. Além disso, a alta densidade de energia (quantidade de energia contida em relação ao espaço) do urânio comparado com as demais – sendo mais exato, a geração de 1 gigawatt de energia solar precisa de 75x mais espaço em comparação a nuclear, e a eólica 360x mais – também é um fator em favor do uso do urânio, uma vez que a energia nuclear precisa de muito menos espaço para produzir muito mais.

Outro ponto a se considerar: diante das crescentes restrições sobre emissão de carbono, a energia nuclear torna-se ainda mais atraente em razão de sua menor emissão por hora:

Fonte: World Nuclear Association.

Com todos os pontos em favor, por que a energia nuclear ainda não é bastante utilizada?

Existem três principais causas para apenas 10,5% da energia global ser nuclear, sendo elas: i) pressão popular; ii) alto investimento e; iii) restrições ao acesso devido ao risco de criação de armas nucleares.

Voltando para 1986, o ano foi marcado por um dos maiores desastres da história: Chernobyl, após um reator da usina apresentar um problema técnico liberando uma nuvem radioativa na atmosfera. O desastre causou 30 mortes diretas e, segundo a OMM, ocorreram 6.000 mortes indiretas recebendo o nível 7 da Escala Internacional de Acidentes Nucleares - INES (que vai de 0 a 7). A solução foi construir uma estrutura de concreto, aço e chumbo para cobrir a área da explosão, sendo, até hoje, um local afetado pela radiação.

O caso mais recente foi o de Fukushima, que sofreu danos nos três dos seis reatores, após um tsunami de grau 9 na escala Richter ter atingido o país. O desastre teve classificação 7 da Escala Internacional de Acidentes Nucleares (INES) e gerou 19.747 mortes - incluindo pessoas que faleceram devido ao desgaste físico causado pela evacuação, forçando 160 mil famílias a deixarem seus lares.

Com todas estas tragédias marcadas na história, você agora deve estar se perguntando: mas, e as mortes causadas pela energia nuclear? São menores do que você imagina:

Fonte: Our World in Data.

Mesmo com mortes por exposição radioativa incluída, o número de mortes na geração de energia nuclear é 442x menor em comparação ao carvão, por exemplo. O risco nuclear é geralmente focado em eventos únicos de baixa probabilidade e alto impacto, em contraste com os impactos da poluição do ar que fornecem um risco longínquo à saúde. O maior problema das usinas nucleares ainda é o lixo radioativo, que são armazenados nas instalações onde foram gerados, em contêineres de concreto e aço, produzindo doses de radiação durante curtos períodos de exposição direta. O lixo pode ter que ficar enterrado nas usinas por anos, aumentando o risco de contaminação no futuro. Porém, esse risco tende a ser minimizado através de reatores tecnológicos, que produzem menos lixo, podendo até ser reutilizado para gerar mais energia.

Discussões atuais!

A Alemanha, que vem reduzindo o uso da energia nuclear desde o acidente em Fukushima, está passando por uma encruzilhada energética. Com o fechamento de usinas nucleares nos últimos anos, o país se tornou ainda mais dependente de combustíveis fósseis, aumentando a emissão de gases provenientes da geração de eletricidade. A principal proposta é a transição para a energia eólica e solar, sendo necessário a instalação de mais de 8 mil turbinas de vento ou 4 milhões de painéis solares para dar conta do fornecimento – vale lembrar que precisa de muito espaço/recursos para a construção. Além disso, sem usinas nucleares, a Alemanha se torna ainda mais dependente do gás natural russo. Com um assunto complexo pela frente, o país se encontra com a energia mais cara e mais poluente da Europa atualmente.

Fonte: Our World in Data.
Fonte: Our World in Data.
Fonte: Our World in Data.

Em resumo, a energia nuclear ainda é um assunto complexo, que deve seguir rendendo muitas discussões sobre sua utilidade/riscos. Hoje, a tecnologia já esta muito avançada em comparação ao último acidente – Fukushima -, com evolução das usinas e mão de obra mais qualificada. A busca por segurança e informação sobre o tema não para de crescer, o que poderá tornar possível uma melhor relação risco e retorno da energia nuclear no futuro.

Fonte: Cameco.

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