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Inter Dica | Entendendo os riscos no mercado

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Matheus Amaral

Publicado 23/set4 min de leitura

Entendendo os riscos no mercado e por que a Evergrande afeta seus investimentos

O recente caso envolvendo problemas de liquidez relacionados ao pagamento de parte de uma dívida da Evergrande, gigante chinesa do ramo imobiliário, trouxe maior volatilidade ao mercado e uma nova onda de aversão a risco, que logo foi apaziguada por um acordo da companhia com um credor local para evitar o calote previamente anunciado. Desde o anúncio da companhia na semana passada, quando mencionou estar sob grande pressão para honrar seus compromissos com credores, os mercados globais têm enfrentado um momento de maior volatilidade devido às incertezas relacionados à uma possível falência da companhia, que possui uma dívida de US$ 300 bilhões, cerca de 1,4 milhão de imóveis a serem entregues e emprega cerca de 200.000 pessoas com impactos indiretos de 3,8 milhões de empregos na China.

Este momento de mercado, nos fez trazer no Inter Dica de hoje um assunto para guardar no bolso quando se trata de investimentos em renda variável, mas que também vale para sua carteira de modo geral. Quais riscos afetam sua carteira? Por que, mesmo com fundamentos inalterados das empresas, um fator exógeno afeta relevantemente os preços de suas ações no mercado? E como é importante ter calma para não tomar decisões precipitadas em momentos como estes.

A definição de risco para o mundo financeiro gira em torno da probabilidade de um resultado ou retorno real de um investimento ser diferente do retorno esperado. Ou seja, a possibilidade de perder parte ou todo o investimento realizado. Quantitativamente o mercado atribui o risco, como o desvio padrão (volatilidade) de um valor em comparação a sua média histórica, desta forma, um alto desvio padrão significa um alto risco ou que aquele ativo possui uma alta volatilidade.

Veja como se comportou o VIX (informalmente chamado de “índice do medo”, um ETF reflete a volatilidade implícita extraída dos preços das opções relacionadas ao S&P 500 para os próximos 30 dias) durante o pico da pandemia de COVID-19 em 2020 e na última semana após o caso Evergrande, que elevou um pouco a volatilidade no mercado, mas ainda não causou maior percepção de risco quanto outros eventos.

É importante lembrar que todo e qualquer investimento possui um risco, seja ele com maior ou menor probabilidade de ocorrência, de maior facilidade ou complexidade de mensuração. Esses riscos possuem diferentes características e impactam de maneiras diferentes seus investimentos, estejam eles aplicados em renda fixa ou renda variável. Existem duas categorias básicas de riscos, que são eles: sistemáticos e não sistemáticos.

Sistemáticos são aqueles riscos que afetam todo o mercado de modo geral e são guiados por fatores políticos, macroeconômicos, como taxa de juros e inflação, cambial, liquidez, risco-país e sociopolítico.

Não sistemáticos são também conhecidos como riscos idiossincráticos, ou seja, que afetam um setor ou uma empresa em específico. Esses riscos em grande parte não são de fácil mensuração e requerem uma análise mais qualitativa, alguns deles podem ser: mudança de gestão em uma empresa, mudanças regulatórias, aumento da competitividade no mercado de atuação. Esse tipo de risco pode ser mitigado geralmente com a diversificação entre os ativos.

Outros riscos também podem afetar um ativo, como o risco de crédito e inadimplência, que podem afetar dois negócios, a empresa que está dando um default (calote) e o banco ou credor que emprestou o dinheiro (contraparte).

Mensurando riscos

A partir de grandes crises no passado, do aumento da volatilidade nos mercados, maior uso de derivativos pelas empresas, investimentos mal sucedidos e até mesmo fraudes, o mercado precisou evoluir suas métricas de mensuração de riscos e com isso vieram algumas ferramentas como VaR, Teste de Stress, Máximo Drowndown, Expected Shortfall, Teoria dos Valores Extremos, entre outros para mensurar os riscos tanto de ativos, quanto de carteiras de investimentos. Podemos dividir a avaliação de riscos em duas abordagens: quantitativa e qualitativa.

Na abordagem qualitativa é feita uma definição das incertezas com uma avaliação de impactos e planos de contenção de riscos em caso de eventos negativos. Ferramentas como análise SWOT, diagramas de causa e efeito, matriz de decisão, teoria dos jogos, entre outros são realizados para mensuração de riscos.

A abordagem quantitativa é mais comum no mercado financeiro e geralmente para ativos mais líquidos. Neste caso, os riscos são mensurados com base em simulações estatísticas e, assim, são atribuídos valores numéricos. Geralmente são usados gráficos, análise de cenário e análise de sensibilidade para a tomada de decisões. Simulações via modelos estatísticos, como Monte Carlo, são comuns para gerar uma distribuição de probabilidade para todos os resultados possíveis e assim avaliar a tendência central por uma média, mediana e pelo desvio padrão (volatilidade) e variância de um determinado ativo. Um tradicional modelo de avaliação de risco quantitativo é o Value at Risk (VaR), que visa medir e quantificar o nível de exposição ao risco financeiro de uma empresa, portfólio ou ativo em um período específico. Essa métrica é muito utilizada por bancos e gestores de portfólios para mensurar a extensão e ocorrência de perdas potenciais em suas carteiras. Geralmente é calculado a partir de retornos históricos, e com abordagens diferentes, como o Método Analítico, Simulação de Monte Carlo ou Simulação Histórica. Uma das críticas ao VaR é que este modelo é uma medida probabilística, e não pode dar certeza quanto à exposição precisa ao risco, mas sim sua distribuição de possíveis perdas se, e quando, elas ocorrem, logo, “cisnes negros” ou melhor, eventos fora do radar não são capturados pelo modelo. A crise financeira de 2008, por exemplo, foi subestimada e expôs os problemas de se usar apenas o VaR como métrica de risco e não considerar eventos de stress ou dar importância à avaliação analítica dos riscos.

O caso da Evergrande é um clássico risco de liquidez/crédito, que poderia ser prevenido se fossem realizados mecanismos mais rigorosos na análise de crédito da companhia antes da cessão dos empréstimos. A empresa alertou para um potencial calote no pagamento de juros da sua dívida, o que gerou cautela no mercado, que passou a se preocupar com o aumento da inadimplência nos bancos e demais credores da companhia e na hipótese de sua eventual falência, que pela sua relevância no mercado imobiliário chinês, elevou o risco para um nível sistêmico, não só na China, mas no mercado global, afetando principalmente grandes forcnecedores de commodities ligados à atividade imobiliária e às expextativas de crescimento econômico do gigante asiático. Por isso os ativos sofreram com uma queda generalizada na última semana. Desta forma, por mais que os ativos por aqui não tenham mudado seus fundamentos, o mercado acabou embutindo incertezas relacionadas a riscos sistêmicos na precificação dos ativos na última semana.


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