Maiores provisões e outros efeitos mantém resultado fraco
O resultado do 4T22 do Santander veio abaixo das nossas expectativas e do mercado, com lucro líquido de R$ 1.689 milhões (-45,9% t/t e -47,4% Inter Research) e ROE de 8,3% (-7,3 p.p. t/t e -7,6 p.p. Inter Research). Os principais efeitos para o fraco desempenho vieram (i) da maior despesa com provisões, que avançou 18,6% t/t por conta do maior provisionamento devido a um “evento subsequente no atacado” (exposição do banco à Americanas); (ii) NII com clientes em queda de 2,6% t/t causada pela desaceleração da carteira de crédito vindo da maior seletividade do banco nas concessões e maior foco em produtos com garantia como consignado e imobiliário e (iii) resultado com tesouraria ainda com saldo negativo devido à sensibilidade negativa com a taxa de juros do banco, mas começou a indicar tendência de melhora marginal. Apesar do banco estar atuando em uma mudança de mix de crédito para linhas colaterizadas, ainda não vimos as vantagens dessa estratégia serem refletidas nos indicadores de qualidade de crédito, que continuam mostrando deterioração, e em consequência da estratégia só observamos as receitas no NII com clientes reduzirem devido à característica de menor risco/retorno desse mix. O provisionamento sobre o evento subsequente no atacado também nos indica maior nível de despesas com provisões nos próximos trimestres, onde entendemos que o atual provisionamento de 30% não deve ser suficiente para cobrir os riscos da exposição total para uma companhia em Recuperação Judicial. Mantemos nossa recomendação Neutra para os papéis do Santander (SANB11) com preço-alvo de R$ 34/unit.
NII fraco com mix menos rentável e tesouraria ainda com saldo negativo. O Santander reportou um NII de R$ 12.517 milhões (-0,6% t/t e -1,1% Inter Research) com um desempenho fraco causado tanto pela redução na margem com clientes, quanto pelo resultado ainda negativo na margem com mercado. A margem com clientes reportou saldo de R$ 13.781 milhões (-2,6% t/t e -2,6% Inter Research), em linha com a maior seletividade do banco na concessão de crédito e o maior foco em um mix mais colateralizado como consignado e imobiliário. A margem com mercado foi de -R$1.265 milhões, ainda sentindo efeito da sensibilidade negativa do banco com a curva de juros, mas melhorou marginalmente e mostra que a tendência pode continuar de melhora marginal nos próximos trimestres.
Despesas com PDD sentem impacto de “evento subsequente no atacado”. As despesas com provisões totalizaram R$ 7.364 milhões (+18,6% t/t e +13,8% Inter Research) com impacto do evento subsequente no atacado na carteira PJ (exposição do caso Americanas). Segundo a companhia, o provisionamento foi parcial e se considerarmos o que foi divulgado pela lista de credores da Americanas onde o Santander tinha uma exposição de R$ 3,7 bilhões, e ao observarmos o maior avanço nos níveis de rating de crédito o nível E foi o de maior variação em dezembro/22 versus setembro/22, sugerindo uma provisão de cerca de 30% para o caso Americanas, totalizando R$ 1,1 bilhão onde entendemos que não houve maior conservadorismo do banco e que o provisionamento deve ser amenizado ao longo dos próximos trimestres. Com o aumento das provisões e a fraca margem financeira bruta, o banco divulgou uma margem financeira líquida de R$ 5 bilhões (-19,3% t/t e -16,7% Inter Research).
Carteira de crédito avança em linhas colaterizadas e qualidade de crédito ainda em níveis elevados. A carteira de crédito totalizou R$ 489.687 milhões (+1,1% t/t) com crescimento de +2,7% na Pessoa Física e -0,3% na PJ. Apesar do banco enfatizar a seletividade na concessão de crédito e o foco em um mix em linhas colaterizadas, observamos um crescimento de +5,8% t/t no cartão de crédito, causado também pela sazonalidade do período, mas também observamos o bom crescimento do consignado +3,7% t/t) e do crédito rural (+4,6% t/t). Nos indicadores de qualidade de crédito o banco reportou uma inadimplência de 3,1% (+10 bps t/t) com a PF reportando 4,3% no 4T22 permanecendo estável, já na PJ o indicador foi de 1,4% (+10 bps t/t). Segundo o banco as novas safras de crédito com mix maior em linhas com garantia tem apresentado uma inadimplência de 2,3%, mas por outro lado, quando observamos os atrasos (inad 15 a 90 dias) a pressão é maior com taxa de 4,5% (+20 bps t/t) e 6,3% na PF (+20 bps t/t) e de 2% na PJ (+10 bps t/t). O índice de cobertura permaneceu em níveis saudáveis com 230% e o custo do risco avançou bem devido à provisão causada pelo evento subsequente no atacado e reportou taxa de 5,2% no 4T22 (+70 bps t/t).
Bom desempenho em serviços e Opex pressionado em pessoal e administrativo. As receitas com serviços do banco totalizaram R$ 5.075 milhões (+7,2% t/t) com destaques para as receitas com seguros (+23% t/t), cartões (+7,2% t/t) e consórcios (+26,4% t/t). Em cartões o avanço foi atribuído à sazonalidade do período com as vendas de final de ano, em seguros o maior volume de vendas e seguro prestamista com ampliação do consignado para novos convênios. Já em consórcios a mudança regulatória na contabilização das receitas acabou beneficiando a linha. As despesas gerais do banco totalizaram R$ 6.049 milhões (+6,3% t/t) com destaque para o avanço de 7,6% t/t nas despesas administrativas e +4,8% t/t nas despesas com pessoal, que foram impactadas pelo dissídio ocorrido em setembro do ano passado e reajustes inflacionários em serviços de terceiros e maior processamento de dados. Com isso e atrelado a menor receita no período, o índice de eficiência do banco no 4T22 piorou para 40,6% (+3,2 p.p. t/t).