Muitos ajustes e qualidade de crédito ainda deteriora, mas com sinais de melhora
O resultado do Santander no 2T23 veio abaixo das nossas expectativas e do consenso de mercado, com lucro líquido de R$ 2,3 bilhões (+7,9% t/t e -9,6%% Inter Research) com ROAE de 11,2% (+0,7 p.p. t/t e -1,2 p.p. Inter Research). De modo geral, nossa impressão foi negativa para o bottom-line, a começar pelos efeitos pontuais que esperávamos como: i) a reversão de provisão da PDD gerando efeito positivo de R$ 1,5 bi; ii) receita com a venda de 40% da Webmotors gerando efeito positivo de R$ 1,1 bi; e iii) aumento de passivos fiscais (lei 9.718/1998 referente ao PIS/Cofins) da ordem de R$ 2,4 bi, onde praticamente os efeitos pontuais se compensaram não trazendo efeito relevante para o resultado. Contudo alertamos que dos R$ 4,2 bi retirados do contingenciamento de passivos fiscais no 1T23 para reforçar o PDD, apenas R$ 2,6 bi foram feitos neste trimestre, e ainda faltam R$ 1,6 bi que podem ser provisionados nos próximos trimestres, o que pode ocasionar em mais reversões da PDD, consumindo o índice de cobertura do banco, que caiu de 244% no 1T23 para 214% neste trimestre. Além disso, o lucro líquido ainda é beneficiado por impactos positivos da compensação tributária de JCP no resultado.
No operacional vimos uma breve indicação de boas tendências para o futuro. Com o NII performando praticamente em linha com o esperado e melhorando na comparação com o trimestre anterior, destacamos a melhora substancial no resultado com tesouraria refletindo as expectativas de melhora nesta linha à medida que a curva de juros vai fechando. Apesar da inadimplência ainda evoluir em um ritmo gradual de 10 bps no trimestre, impulsionado pela Pessoa Física, vimos boas tendências nos indicadores de atraso que caíram substancialmente na Pessoa Física de 6,5% para 5,9%, além de uma NPL formation que segue mostrando tendência de queda ajudado pelas renegociações, porém ex-renegociações, o indicador segue pressionado. Em serviços, o resultado foi dentro do esperado, com receitas com seguros, cartões, conta corrente e com mercado de capitais perfomando melhor que o 1T23, sazonalmente mais fraco. A eficiência do banco segue deteriorada, dados os menores níveis de receitas em razão da seletividade atual do banco no crédito e maiores despesas administrativas pressionadas pela inflação e pessoal.
NII em linha com o esperado e indica tendência positiva na tesouraria. A margem financeira bruta do Banco foi de R$ 13.579 milhões (+3,3% t/t e -0,5% Inter Research) com efeitos positivos na margem com clientes que registrou R$ 14.422 milhões (+0,7% t/t e -0,2% Inter Research) e forte melhora do resultado negativo com tesouraria de - R$ 843 milhões (-28% t/t e +5,4% Inter Research). Na margem com clientes observamos a mesma tendência observada nos trimestres anteriores com crescimento desacelerando devido ao mix de carteira mais colateralizado. Desta forma, os spreads seguem reduzindo e registraram taxa de 9,9% (-20 bps t/t). Na margem com mercado vimos efeitos positivos esperados com a redução da curva de juros.
Inadimplência ainda pressiona e reversão de provisão consumiu cobertura. As despesas com provisões do banco foram menores no trimestre com saldo de R$ 5.980 milhões (-11,6% t/t e -12% Inter Research), resultando em um menor custo do risco de 3,9% no 2T23 (-60 bps t/t), o que não conversa com a inadimplência ainda pressionada do banco. Contudo, o Santander precisou reverter cerca de R$ 1,4 bilhão para fazer frente ao contingenciamento de passivos relacionados a casos judiciais. Desta forma, com uma inadimplência de 3,3%, que avançou 10 bps t/t impulsionada pelo segmento PF, que registrou 4,8% (+30 bps t/t), o banco viu sua cobertura cair de 244% no 1T23 para 214%. Por outro lado, observamos um sinal positivo na qualidade de crédito vindo da inadimplência de 15-90 dias que mostrou forte queda nas pessoas físicas de 6,5% para 5,9%.
Carteira mantém seletividade e cresce em mix colateralizado. A carteira de crédito do banco reportou saldo de R$ 499,3 bilhões, com queda de -0,2% t/t, sustentada por praticamente uma estabilidade na Pessoa Física de 0,2% e Financiamento ao consumo de 0,6%, enquanto na PJ houve queda de 0,9%. As linhas onde o banco mostrou mais crescimento do seu mix foram Consigando e Imobiliário, mantendo a estratégia atual do banco de crescer no crédito colateralizado.