Renda Variável


Prévias Consolidadas 3T22

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Gabriela Joubert

Publicado 20/out10 min de leitura

Receitas em melhor nível compensam custos ainda elevados

A temporada do 3T deve refletir o que vimos no cenário macroeconômico: enquanto no mercado externo os juros mais altos e inflação comprometem o crescimento econômico global, arrefecendo a demanda para as exportadoras, no mercado interno as projeções são mais otimistas, com PIB melhor que esperado e inflação desacelerando, ajudando na recuperação dos balanços das empresas focadas no mercado doméstico. Devemos ver receitas avançando, parcialmente compensando custos ainda elevados, mas desacelerando, o que poderá se traduzir em ganhos de margens. No destaque, os setores de Óleo&Gás seguem beneficiados por preços mais elevados do petróleo nos mercados internacionais, assim como os preços da celulose, que juntamente com a demanda interna ainda forte de papel, devem impulsionar os números das empresas de Papel&Celulose.

A expectativa de desaceleração da atividade no 3º trimestre se materializou, mas o ritmo de crescimento ainda foi maior que o esperado. Após crescer 1,2% no 2º trimestre, o PIB deve ter subido 0,7% no trimestre findo em setembro. Os destaques de alta foram os setores de serviços. Transportes e serviços às famílias ainda crescem recuperando o espaço perdido durante o longo período de restrições impostas pela pandemia. A construção também segue mais resiliente, ainda impulsionada pelo financiamento imobiliário disponível, com taxas mais baixas atreladas ao SFH. E na indústria, o setor de máquinas e equipamentos também teve desempenho positivo, motivado pelo bom momento das commodities, incluindo a expectativa de uma safra recorde em 2022/23. A maior desaceleração foi observada no varejo e na produção industrial de bens de consumo. A alta da Selic e o crédito mais escasso desestimulou o consumo no trimestre. No setor financeiro, também vemos uma liquidez menor, reflexo da desaceleração da economia, e a inadimplência ainda cresce no segmento pessoa física.

Para o 4º trimestre, o desempenho deve seguir mais estável, mas descartamos a possibilidade de recessão. A taxa de juros em patamar restritivo deve limitar a atividade, mas a economia tende a seguir mais resiliente. Dois fatores corroboram para essa avaliação. Primeiro, o setor externo, que também desacelera, mas ainda é favorável para o Brasil. As exportações estão robustas e o patamar de preços de commodities é bastante favorável para a produção brasileira. Segundo, o mercado de trabalho teve forte crescimento no último trimestre e a massa salarial está 7% maior, o que deve sustentar um bom patamar de consumo das famílias à frente.

O ano de 2022 tem sido de muitos desafios, mas a recente queda da inflação trás perspectivas positivas também para o médio prazo. Não só o BC encerrou o fim do ciclo de alta da Selic, mas em se confirmando a atual tendência de desinflação, no começo de 2023 discutiremos o início do afrouxamento monetário, o que pode beneficiar as empresas e incentivar novos planos de investimento no próximo ano.

Bancos

Os resultados do 3T devem vir em linha com o 2T, ainda de olho na inadimplência na pessoa física concentradas em linhas sem garantia. A margem financeira deve continuar beneficiada pelo maior spread, compensando o aumento do custo de crédito com maiores PDDs em função do aumento da inadimplência e do crescimento da carteira com um mix de maior risco. No crédito, devemos ver um mix da carteira crescendo nas linhas sem garantia como cartão, cheque especial e crédito pessoal e de modo geral o crescimento deve continuar robusto, mas desacelerando. Em termos de Opex esperamos leve pressão neste trimestre vindo do reajuste salarial ocorrido em setembro, mas fora isso bancos têm controlado bem os custos com crescimento abaixo da inflação. As demais receitas devem continuar beneficiadas pelo segmento de cartões com maior volume transacionado e bancos com maior exposição no ramo de seguros devem também mostrar bons resultados nestas linhas. Destacamos que os resultados do Itaú que devem continuar mostrando boa solidez e indicadores de qualidade de crédito melhor que os pares, mantendo o banco como best in class do setor. O Banco do Brasil deve mostrar um bom resultado, mas esperamos que as despesas com PDD normalizem e pressionem o resultado neste trimestre. Por outro lado, o Santander e o Bradesco devem ainda mostrar resultados com tesouraria mais fracos e com pressão na deterioração da qualidade de crédito, mas esperamos alguma compensação em spreads. (Matheus Amaral, especialista de Bancos e Serviços Financeiros).

Construção

Alheio ao estresse global, o setor de construção tem se beneficiado da melhora da conjuntura doméstica que, diante do fim do ciclo de alta da Selic e dados positivos de atividade, contribuem para um melhor otimismo do segmento. Para o 3T22, as construtoras devem reportar um maior apetite no volume de lançamentos em conjunto com estabilidade na VSO, os quais devem sustentar números sólidos nas vendas. No período, esperamos que a queda das commodities já tragam um alívio nas margens das construtoras, uma vez que o movimento de estabilidade no custo dos materiais e aumento do preço médio dos imóveis já deve ser gradualmente reconhecido no resultado. (Gustavo Caetano, especialista em Construção).

Elétricas

Em relação ao setor elétrico, para o terceiro trimestre, as expectativas no geral são positivas. Tendo em vista a sazonalidade mais seca do trimestre por conta do inverno, e após o robusto período de chuvas registrado no início do ano, os reservatórios que compõem o SIN mantiveram ao longo do período um elevado volume, o que possibilitou bom nível de geração hídrica, além de uma constante redução dos custos médios operacionais das companhias, fator que pode beneficiar as geradoras. Além disso, com redução das chuvas, vemos também uma maior disponibilidade de ventos, o que pode favorecer empresas que atuam no segmento de geração eólica, como Omega Energia (MEGA3) e AES Brasil (AESB3). Para as distribuidoras, o cenário atual de consumo de energia também é favorável. Com um bom desempenho dos indicadores de atividade econômica, principalmente entre os setores comercial e industrial, os níveis de consumo de energia apresentaram avanço no período, o que pode traduzir em resultados favoráveis para as companhias de distribuição. Assim, nossa top pick do setor segue sendo Energias do Brasil (ENBR3), dada a sua forte presença em grandes centros urbanos. Por fim, no segmento de transmissão, o trimestre marca a entrada no ciclo de RAP 2022-2023, no qual as empresas realizaram os reajustes inflacionários de seus empreendimentos. (Rafael Winalda, especialista em Utilities).

Frigoríficos

Para o 3T22 temos uma visão mais amena para o setor, no qual, de um lado, o cenário para exportadoras se mantém robusto, no entanto, por outro, as operações nos Estados Unidos se aproximam do seu ponto de inflexão, o que deverá trazer margens mais comprimidas para o segmento. Para o Brasil, a demanda doméstica continua enfraquecida, com perda do poder de compra interferindo na aceitabilidade dos preços. Contudo, a preferência pela carne de frango se destaca nesse período, juntamente com a demanda externa, o que deve amparar as operações da Seara. No caso da BRF, o seu processo de recuperação e incertezas operacionais nos proporcionam uma visão mais cética para companhia nesse trimestre. As exportações de carne bovina no período apresentaram um trimestre robusto, com melhor oferta de animais e demanda sazonal forte da China em busca de formação de estoques para o Ano Novo Chinês, enquanto preços se mantiveram elevados, beneficiando a Minerva e operações na América do Sul da JBS e Marfrig, que devem apresentar margens superiores nesses segmentos. Nos EUA, o gradual aumento do preço do boi vivo impulsiona os custos dos frigoríficos, ao passo que o barbecue season, que já tinha sido postergada para o 3T, não apresentou um desempenho tão positivo com cenário econômico mais incerto no país. (Manuela Granja, especialista em Frigoríficos)

Óleo & Gás

Esperamos um 3T22 ainda forte para as petrolíferas, uma vez que o petróleo Brent, preço de referência internacional, na média, ainda permanece em patamar elevado, em cerca de US$ 97 no período. Apesar de uma queda de quase 13% t/t, ainda vemos um avanço de mais de 30% a/a. O conflito entre Rússia e Ucrânia, restrições de oferta, gargalos em na cadeia de suprimentos ainda em razão do Covid-19 e, recentemente, cortes de produção da OPEC são fatores que impulsionam o preço para cima, beneficiando diretamente as empresas brasileiras, que ainda devem apresentar fortes resultados, em nossa opinião. Já em termos de produção, o Brasil produziu cerca de 4 mm de barris de óleo equivalente (petróleo + gás), um aumento de 4% a/a e quase 9% t/t, o que deve se refletir no crescimento na produção das companhias abertas. (Rafael Winalda, especialista em Óleo e Gás).

Papel & Celulose

Seguindo o observado ao longo do ano, devemos ver um trimestre mantendo o ritmo de recuperação, com preços realizados de celulose avançando, conforme os anúncios de aumentos foram implementados, além de demanda ainda forte em praticamente todos os mercados de atuação. Os estresses na cadeia produtiva, além dos efeitos negativos climáticos e o maior custo de produção seguem removendo capacidades do cenário, contribuindo para um mercado ainda desequilibrado. Com isso, esperamos receitas avançando no segmento de celulose, mais que compensando o crescimento nos custos de insumos, que seguem pesando negativamente, em especial insumos e madeira, com maior representatividade de terceiros. No segmento de Papel e Embalagens, as dinâmicas de mercado continuam favoráveis, em especial no mercado interno, onde vemos demanda forte tanto para caixas de P.O., papel cartão e papel para embalagens. Os preços devem seguir refletindo os aumentos anunciados no início do ano e os custos, mais controlados, deverão levar a expansão de margens nos negócios. Esperamos que a Suzano e a Kablin apresente resultados fortes, com celulose contribuindo bem, enquanto Irani deve ter mais um trimestre consistente, uma vez que opera já em plena capacidade. (Gabriela Joubert, especialista de Papel e Celulose).

Saúde

As empresas do setor de saúde tiveram boa performance operacional em 2021. Nota-se que o fluxo de pessoas em hospitais, laboratórios, clínicas e farmácias cresceu desde o segundo semestre de 2020, fruto da retomada dos procedimentos eletivos e demanda reprimida de exames que foram adiados devido à pandemia. Isso fez com que a receita atingisse patamares elevados, entretanto, os custos e despesas também tiveram um aumento relevante em todos os segmentos, impactados pelo efeito inflacionário no preço dos insumos, aluguéis e pessoal em toda a cadeia. Acreditamos que essa tendência de faturamentos altos acompanhados de gastos também elevados se estenda para o 3T22. Já́ a participação das receitas e gastos com Covid-19 nos resultados das companhias deve seguir perdendo relevância, assim como vimos nos últimos trimestres (exceto 1T22, devido ao surto da variante Ômicron). Além disso, vale destacar que a pressão dos gastos com despesas financeiras deve continuar relevante, prejudicando a lucratividade e se tornado um dos maiores detratores de margem, principalmente para as empresas mais alavancadas. Neste contexto, esperamos que os segmentos de farmácias e farmacêuticas sigam figurando como destaque operacional neste trimestre, assim como vimos no 2T22, com o faturamento ainda sendo favorecido pelo alto nível de demanda e pelo reajuste de medicamentos de 10,9% aprovado pela CMED, que entrou em vigor em abril. (Breno de Paula, especialista de Saúde).

Seguradoras

O setor deve reportar um top line positivo vindo de um forte desempenho comercial observado nos últimos dados mensais da Susep, principalmente nos ramos rural e automotivo, que vêm reprecificando apólices de acordo com o maior risco observado na alta sinistralidade vista no 1S22. Por outro lado, seguradoras que atuam no ramo automotivo devem sentir a sinistralidade em níveis elevados. Vimos nos últimos dados mensais uma normalização dos sinistros no ramo rural, os quais estavam muito elevados no 1S22 e, com prêmios em crescimento no ramo por conta dos riscos elevados e ajustes de preços de commodities, esperamos melhores resultados para as companhias neste segmento. De modo geral, o trimestre deve ser positivo para as seguradoras que atuam no modelo bancassurance, mais expostas ao segmento de cobertura pessoal, que deve continuar colhendo melhores margens com a normalização da sinistralidade por conta do controle de óbitos por covid-19. Além disso, o resultado financeiro também deve continuar incrementando resultados com a taxa de juros em níveis elevados. Destacamos mais uma vez bons resultados para a BB Seguridade, que deve apresentar um melhor desempenho operacional na Brasilseg e, consequentemente, na BB Corretora, além de melhores resultados financeiros, com exceção da Brasilprev que pode apresentar um resultado mais fraco neste trimestre. A Porto Seguro deve mostrar um top line positivo com forte crescimento, mas ainda esperamos um nível elevado de sinistralidade que deve pressionar os seus resultados. Já o IRB Brasil deve continuar mostrando desempenho negativo vindo da sinistralidade ainda elevada, com efeitos do rural e efeitos de despesas de retrocessão mais elevadas neste trimestre. (Matheus Amaral, especialista de Bancos e Serviços Financeiros).

Shoppings

Para o 3T22, esperamos que as companhias de shoppings apresentem uma leve desaceleração nas vendas em relação ao 2T22, podendo ser explicada por um efeito sazonal acrescido de um cenário inflacionário simultâneo a uma alta taxa de juros. No fluxo de visitas, a expectativa ainda não é de uma totalidade em relação ao período pré-pandêmico sendo ainda impactado, principalmente, pela lenta recuperação dos cinemas. Apesar dessa desaceleração, estimamos que as companhias entreguem dados operacionais resilientes com um bom repasse de aluguéis concomitante a um controle na taxa de ocupação e na inadimplência. Sendo assim, entendemos que as empresas entreguem bons níveis de receitas com a continuidade do repasse de aluguéis e a elevação no preço médio dos estacionamentos. Vale destacar que, em nossa visão, preferimos as companhias que têm como público-alvo o segmento de alta renda, cuja sensibilidade à inflação é menor e possuem menor necessidade de crédito. Com isso, destacamos a Multiplan – que além de possuir um portfólio premium, entrega uma diversificação com o empreendimento Golden Lake – concomitante a Iguatemi, que se beneficia da depreciação cambial junto com inflação global, uma vez que torna a compra de bens de luxo mais atrativas no Brasil em comparação à compra externa. Por fim, entendemos que as duas companhias estão sendo negociadas com um atrativo P/FFO de 14,6x – Multiplan – e 12,2x – Iguatemi-. (Gustavo Caetano, especialista em Construção).

Siderurgia & Mineração

As empresas de mineração devem lidar com resultados impactados por preços médios realizados menores na base trimestral, em razão da queda dos preços do minério de ferro nos mercados internacionais, bem como a queda dos prêmios de qualidade, espelhando um cenário de arrefecimento de demanda na China. Do lado positivo, devemos ver volumes de vendas maiores que o 2T22, uma vez que a produção não tem mais efeito de chuvas que impactaram o primeiro semestre na região sudeste, principalmente. Contudo, os custos devem seguir pesando nas margens, principalmente pela exposição maior de minério de terceiros. Já para as siderúrgicas, devemos ver volumes desacelerando, com ambiente externo mais desafiador para as exportações, mas as receitas devem vir em linha com o 2T, beneficiadas pelos aumentos de preços feitos no 1S22 e ainda surtindo efeito neste trimestre. Os custos serão o grande vilão do trimestre, uma vez que a queda das commodities leva mais tempo para refletir nos balanços das companhias, pressionando as margens neste trimestre de receitas mais moderadas. Destacamos a Gerdau para o trimestre, que deve apresentar bons resultados, beneficiados pela seu portfólio mais diversificado e posição geográfica diversa. (Gabriela Joubert, especialista de Siderurgia e Mineração).

Transporte & Logística

Para o trimestre encerrado em setembro de 2022 esperamos que as companhias de transporte continuem a apresentar satisfatórios resultados operacionais, todavia as despesas financeiras devem machucar a última linha da DRE à medida que incorporam, quase que totalmente, os níveis mais altos do ciclo de juros. No Rent-a-Car a demanda deve permanecer aquecida, com a alta temporada de julho puxando o aluguel eventual e elevando volumes e ticket médio. Já no GTF, tanto de veículos leves como de pesados, esperamos continuidade do resiliente crescimento que vem sendo suportado pela subpenetração do mercado atual. Quanto às companhias de logística, nossa expectativa é de bons volumes de serviços, bem como elevação das margens advinda de alívio das pressões inflacionárias e repasse de custos ainda represados. No que tange a compra e venda de veículos leves e usados, esperamos arrefecimento da evolução dos preços, movimento que deve ocorrer em razão da retomada mais forte da produção e demanda pressionada pela restrição de crédito e já elevados níveis de preço. Por fim, a margem de Seminovos de veículos leves deve seguir o processo de normalização observado no último trimestre, reduzindo-se à medida que os ativos apreciados recentemente são renovados. Para veículos pesados, esperamos um processo de normalização mais demorado, devido ao ciclo de negócios mais longo e efeitos do EURO 6 a partir do ano que vem. (Diego Bellico, especialista em Transporte e Logística).

Varejo & Consumo

Esperamos resultados mistos para o 3T22. No varejo alimentar, apesar do controle da inflação de alimentos, os preços ainda seguem altos. A capacidade de repasse das varejistas é integral e isso alavanca as receitas das companhias. Ademais, os planos de expansão seguem em ritmo forte, com novas aberturas que já devem contribuir marginalmente no faturamento. As margens devem vir em linha com o último trimestre. As despesas com pessoal, sobretudo relacionados às novas lojas, pressionam o operacional, que deve ser compensado pelo menor valor de aluguéis em relação a receita. Para o vestuário, o resultado deve vir pressionado. O 2T22 veio muito forte, com frio antecipado e datas comemorativas. Esse movimento, abasteceu o consumidor, que não foi as compras com a mesma força no 3T22. Além disso, o efeito sazonal de troca de coleção também contribui para um ritmo de vendas mais fraco. Consequentemente, esperamos margens mais pressionadas, pelo efeito das remarcações das roupas de frio remanescentes. Por fim, o ecommerce deve vir em linha com o 2T22. O aumento de fluxo em lojas de ruas e shoppings, apesar de ainda com ritmo menor que o pré pandemia, garante o efeito conversão, alavancando o GMV. As companhias também vêm investindo na linha de crediário, sobretudo nas regiões norte e nordeste. As margens também deverão ser próximas ao do 2T22, com controle de custos e despesas, sobretudo no take rate, linha de pessoal e aluguéis. (Breno de Paula, especialista de Varejo e Consumo).

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