Maré de adversidades
O ano foi marcado pelo gradual soft landing das margens nos Estados Unidos, ao passo que as operações no Brasil foram o highlight, com aumento da oferta de animais, exportações recordes e preços robustos. Contudo, com cenário do 4T22 menos amistoso, as expectativas estão mais pessimistas para performance das companhias no último trimestre do ano, visto que a demanda doméstica no Brasil se manteve enfraquecida, sendo pouco impactada pela esperada Copa do Mundo, bem como pela menor procura sazonal da China, o que comprimiu preços. Nos Estados Unidos, as margens devem vir fortemente pressionadas, em espelho a um mix entre custo do animal avançando, queda da produção com estoques ainda fartos, bem como recuo dos preços no varejo.
Arroba do boi contrai quase 8%, mas queda dos preços e demanda ainda enfraquecida pautam o trimestre. Por aqui, a média do Indicador do Boi Gordo da Cepea/B3 recuou 7,89% t/t, cotado em R$ 290,75/@, em resposta ao aumento da disponibilidade do animal, com menor demanda do mercado, dado o fim do período de estocagem para o Ano Novo Lunar pela China. No entanto, apesar de custos suavizados, os preços no varejo também contraíram, com queda de 3,2% da carcaça do boi, em reposta ao poder de compra ainda limitado da população, que refletiu negativamente nas margens do setor. O volume de exportações avançou 62,6% a/a, mas com recuo de 15,6% do preço no t/t. Pontuamos que a base de referência anual agrega período de embargos às importações pela China, o que de certo modo deturpa a análise.
Frango congelado recua 1,3% t/t, enquanto custos se mantiveram em patamares elevados. Com ganhos de volume, o 4T22 foi marcado por um crescimento da competitividade no mercado doméstico, contudo, demanda teve resposta mais fraca do que o esperado. No período, o preço do frango congelado recuou 1,3% t/t, com custos na Região Sul ainda em patamar elevado, apesar de leve recuo de 0,44% no t/t, segundo dados da Embrapa. O volume de exportações avançou 1,1% a/a, mas preços comercializados já começaram a recuar, com Oriente Médio e China estocados, bem como adequação da demanda.
Live Cattle avança, contudo, preços no varejo recuaram, comprimindo ainda mais as margens dos meatpackers. Nos Estados Unidos, o preço do gado vivo avançou 8,2%, ao passo que o cutout recuou cerca de 2%, em resposta aos efeitos das condições climáticas no país, que proporcionaram um desequilíbrio dos estoques. A disputa por market share, sazonalidade negativa e gradual ingresso no ciclo negativo da pecuária, também influenciaram na performance do setor no período. Para aves, a significativa contração do preço da proteína no mercado final, acompanhado de custos em patamares elevados, pressionaram as margens do setor.
BRF (BRFS3): Mais um trimestre difícil
Divulgação de resultados no dia 28/02 | Após fechamento.
Para BRF, esperamos margens inferiores no 4T22, visto que os ganhos com volume não devem superar o recuo dos preços no varejo e custos ainda em patamares elevados. Projetamos uma top line de R$ 14 bilhões, em reflexo à equação de um consumo doméstico enfraquecido, somado a uma sobreoferta e demanda externa inferior, com Oriente Médio e outros consumidores já estocados. Os custos devem se manter elevados, proporcionando um EBITDA de R$ 1.221 mm (-7,6% t/t e -30,7% a/a), além de uma margem de 8,7% (-0,7 p.p. t/t e -4,1 p.p. a/a). Reforçamos que a BRF passa por um processo de restruturação, que esperamos vislumbrar os seus resultados ao longo desse ano, com a nova gestão e adequação produtiva, que busca otimizar as suas operações.
JBS (JBSS3). Dessa vez, diversificação pouco ajudará
Divulgação de resultados no dia 21/03 | Após fechamento.
Para JBS, de modo geral esperamos margens mais comprimidas, com destaque negativo principalmente para Beef North America e Pilgrim’s, levando a uma top line de 91,2 bi ( -7,77% t/t e +1,79% a/a), com EBITDA de R$ 3.552 mm (-62,3% t/t e -69,9% a/a). Nos Estados Unidos, custos avançaram para todas as proteínas, com considerável alta do preço dos animais vivos, enquanto o varejo pouco respondeu. No Brasil, apesar de melhora da oferta de animais, o cenário também não foi favorável, com aumento da competitividade no mercado doméstico e contração das exportações para China.
A Pilgrim’s Pride divulgou o seu balanço do 4T22 no dia 08 de fevereiro, apresentando um resultado enfraquecido, com uma receita de US$ 4.127,4 (-7,64% t/t e 2,19% a/a), e pressionada margem EBITDA Ajustada de 1,5% (-6,2 p.p. t/t e -6,3 p.p. a/a). Os desafios para o segmento se ampliaram no 4T22, indo contra a sazonalidade positiva, em reflexo aos efeitos da inflação, desproporção entre oferta e demanda, recuperação da Europa e volatilidade dos preços, principalmente em espelho as atividades ligadas aos Big Birds.
Marfrig (MRFG3). Inflexão negativa se acentua
Divulgação de resultados no dia 01/03 | Após fechamento.
Com cenário doméstico dos Estados Unidos adverso, vemos que os resultados da Marfrig devem ser fortemente prejudicados pela perda de rentabilidade da National Beef, em concordância com os demais players do mercado. Esperamos uma Margem EBITDA de 5,4%, abalada pelo aumento do Live Cattle no período, assim como pela receita, que foi agravada pela compressão dos preços, aumento da competitividade e demanda sazonalmente mais fraca. Para as operações na América do Sul, apesar de forte contração na arroba, a queda das exportações, somado com o recuo dos preços e demanda ainda em recuperação, tendem a resultar em uma margem EBITDA inferior em quase 1% no t/t, estimada em 9,7%. Por mais que esperemos que o desempenho da Marfrig venha enfraquecido, vemos que a companhia possui vantagens no que tange o seu modelo de negócio, com a comercialização de proteínas de categorias mais premiums, no caso a prime e choice da divisão americana, o que suaviza os impactos em suas margens, frente a seus peers.
Minerva (BEEF3). China e demanda doméstica ditam negativamente no trimestre
Divulgação de resultados no dia 23/02 | Após fechamento.
Apesar das perspectivas estarem mais positivas para Minerva, esperamos um 4T22 mais fraco, indicando a redução das exportações para China, recuo dos preços e cenário interno ainda desafiador. Para o Brasil, período sazonal doméstico favoreceu moderadamente a demanda, contudo, recuo dos preços finais e queda das importações chinesas, com fim da estocagem para o Ano Novo Lular na China, mexeram com os resultados da companhia, levando a uma projeção da receita bruta de R$ 4.204 mm para o segmento. Para os demais países, a contração na demanda, refletiu em uma redução do volume vendido no período e consequentemente preços inferiores. O Uruguai apresentou um cenário menos negativo, beneficiado pela resiliência dos preços dos mercados mais premiumsque o país acessa. Nesse cenário, projetamos uma receita líquida consolidada de R$ 7.488 mm (-11,3% t/t, -0,2% a/a), bem como EBITDA de R$ 664 mm (-17,7% t/t e -9,1% a/a), em espelho a queda dos preços e volume vendidos, que se sobressaíram frente ao recuo do boi vivo, assim impulsionando uma margem de 8,9% (-0,7 p.p. t/t e -0,9 p.p. a/a). Reforçamos que a Minerva é nossa top pick do setor, no qual, apesar de esperarmos um 4T mais desfavorável, continuamos com uma visão positiva para companhia, dado o cenário mais benéfico da América do Sul e gestão operacional da Minerva, o que fomenta as oportunidades de geração de valor e fortalecimento de suas operações.