PetroReconcavo tem gás para liderar o mercado, mas custos e capex decepcionam.
A PetroReconcavo (RECV3) apresentou o relatório de cerificação de reserva para 2023, contemplando números para seus atuais três polos, Miranga, Riacho da Forquilha e Remanso + BTREC, com novas expectativas de produção, custos, capex, entre outros. Do lado negativo, nos chamou atenção a elevação dos investimentos, bem como custos dos projetos, além da menor produção para 2023 e 2024, o que deteriorou parte do valor que projetávamos para a empresa.
Do lado positivo, houve um aumento considerável das reservas 1P e 2P da empresa, principalmente no que tange ao gás, evolução deste de quase 20%, correspondendo agora a quase 45% do total das reservas. Entendemos que o gás será uma avenida de crescimento considerável não só para a companhia, mas para o Brasil como um todo, o que certamente nos leva a crer em melhores resultados futuros. Outro fator positivo foi o crescimento da expectativa de produção pós-2024, a partir de quando os projetos devem ganhar maior tração.
De modo geral, o somatório destes fatores ainda foi negativo para a empresa, em nossa opinião. Alteramos o preço-alvo da PetroReconcavo (RECV3) de R$ 35/ação para R$ 31/ação, visando o final de 2023, porém, mantendo a recomendação de compra, uma vez que os riscos já foram incorporados no papel, mas de forma demasiada, abrindo um poço de oportunidade para compra.
Um gás novo?
Uma das principais mudanças positivas para PetroReconcavo neste atual relatório de certificação de reservas foi o importante incremento das reservas de gás, sendo quase 20% em reservas provadas (1P) e pouco mais de 15% em prováveis (2P). A evolução a reforça na liderança do mercado de gás brasileiro, trazendo maior oportunidade de eficiência operacional, visto que dentre as três juniors, a PetroReconcavo já era a empresa com maior exposição ao gás, sendo menos volátil do que as outras, uma vez que a cotação do gás é mais resiliente.
Já em termos de óleo, a mudança não foi tão relevante. Cerca de 2% adicionais em reservas provadas e 1% menor em reservas prováveis. Porém, vemos estes números também como positivos, visto que as reservas são líquidas da produção incorrida ao longo de 2023, ou seja, mesmo com todo o volume que foi produzido ao longo do ano, as reservas de petróleo permanecerem estáveis.
Assim, no geral, mantemos a visão positiva para RECV3, uma vez que vemos como confirmada a longevidade da empresa, com (i) uma taxa de reposição (Reservas adicionadas/Produção) de 3x, (ii) relação reservas 2P/Produção atual de 28 anos, (iii) relação 1P/2P muito confortável de 80% e, como já tínhamos dito, (iv) as reservas de gás correspondem a quase 45% do total.
Custos para cima!
Em nossa opinião, o principal fator negativo do novo relatório são os incrementos de custo de desenvolvimento e capex. Em relação ao primeiro, a despesa total de capital (US$) dividida por reservas incrementais, passou de US$ 5,59 para US$ 8,96, expansão de quase 60%, em reflexo a projetos mais complexos, bem como aumento dos custos devido à pressão de inflação vivenciada no mundo.
Já com relação ao Capex, este passou de US$ 650 mm para mais de US$ 1 bi (+63%), e se considerar os custos com abandono, os valores passaram de US$ 750 mm para US$ 1,15 bi (+54%). Assim, o somatório de custos mais elevados com maiores investimentos desdobra-se em retornos menores, o que explica em parte a forte oscilação recente do papel.
Não o bastante, a curva de produção também apresentou um deslocamento, com expectativas menores de produção para 2023 e 2024 em 4% e 10%, respectivamente. Mas, nos anos seguintes a empresa passa a ter melhor performance, visto os incrementos das reservas e evolução dos projetos. No que tange a nossa expectativa de produção, aplicamos um fator de desconto de 10% para a parte incremental da curva 2P.
Valuation: a soma das partes
O novo relatório de certificação de reservas também leva em consideração uma curva esperada do preço do barril de petróleo bem mais elevada que a anterior, e bem acima do que consideramos como preço líquido da PetroReconcavo em nossa modelagem e da atual curva futura para a commodity. Em parte, optamos pelo conservadorismo, mas nos questionamos se apregoando um cenário mais pessimista, qual seria o impacto nos projetos e na produção da empresa nos próximos anos.
No que tange ao nosso valuation propriamente dito, aumentamos a taxa de desconto (WACC), que passou de 11% para 13,6%, incorporando novas premissas macroeconômicas, bem como maiores riscos de execução dos projetos. Ajustamos aos novos patamares de produção, custos e capex, mas mantemos ainda curva esperada do preço do petróleo, saindo de US$ 80/barril até o valor terminal de US$ 65/barril.
O somatório destes nos retorna um preço-alvo de R$ 31/ação, visando o final de 2023, em contraponto aos R$ 35/ação anteriores. Optamos por manter a recomendação de compra, uma vez que os riscos já foram incorporados no preço do ativo, bem como acreditamos que o atual patamar de preços considera apenas as reservas 1P.