Tudo o que você precisa saber sobre preços dos combustíveis (e um pouco mais).
Como mencionamos, a redução de investimentos no setor nos últimos anos, bem como o conflito entre Rússia e Ucrânia, tem gerado um desbalanceamento entre as dinâmicas de oferta e demanda, impulsionando os preços das commodities nos mercados externos. Outro ponto que corrobora para o entendimento de tal distorção é observar o crack-spread (a diferença proporcional entre o barril de petróleo bruto e o refinado, ou a margem da refinaria), que também subiu consideravelmente pós- pandemia. Entretanto, é importante destacar que o mix do consumo nos Estados Unidos é diferente do Brasil – lá se consome mais gasolina do que diesel. Nesse sentido, observamos que houve um alívio considerável no crack-spread da gasolina (apesar da alta das últimas semanas), enquanto o diesel ainda segue pressionado.
E como esses efeitos se refletem no Brasil?
Atualmente, o Brasil é autossuficiente em produção de óleo bruto, mas as refinarias não conseguem processar toda a demanda de derivados, fazendo-se necessárias importações. Cerca de 25% do diesel e menos de 10% da gasolina são importados. Diante disto, como o produto importado segue a dinâmica de preços mundial, os preços internacionais têm forte influência sobre o mercado brasileiro, principalmente o diesel.
O importador, por sua vez, ao pagar por preços mais elevados, deve ser remunerado por todos os riscos e custos, revendendo então no Brasil a um patamar condizente. Assim, para resolver tal situação, a Petrobras instaurou a Paridade de Preço de Importação (PPI), na qual os preços de suas refinarias nacionais seguem, de certa forma, a flutuação dos mercados internacionais.
O contexto de 2022 foi bem desafiador com a forte elevação dos preços das commodities. Contudo, a Petrobras conseguiu manter sua política de preços, mesmo com certos momentos de elevada defasagem. Entre o final de 2022 e este início de 2023, houve alívio no mercado internacional, de modo geral, permitindo espaços para cortes subsequentes no mercado brasileiro.
Outro fator que contribuiu para a queda de preços no mercado interno foi a remoção do PIS/COFINS por parte do governo, medida adotada à época em prol do princípio da modicidade, conforme pode ser observado no gráfico a seguir. Um ponto importante é que, normalmente, o preço da gasolina no mercado brasileiro é inferior ao do diesel, situação não observada atualmente. Entendemos que o gráfico do crack spread explica essa distorção, uma vez que houve um recuo do crack spread da gasolina, mas não do diesel, refletindo em preços relativamente maiores no mercado externo.
E os preços a partir de agora?
Após o anúncio do atual ministro da fazenda, Fernando Haddad, referente à volta do PIS/COFINS, bem como implementação do imposto de importação e comentário quanto à política de preços da Petrobras, vimos a volatilidade nos papéis da companhia aumentar. Quanto à volta do PIS/COFINS, esta era amplamente esperada e agora conta com um valor de R$ 0,47 por litro para a gasolina, embora a CIDE, outra contribuição, permaneça zerada. O Etanol, por sua vez, terá uma cobrança de R$ 0,02 por litro.
Na ponta final, para o consumidor de gasolina, é valido lembrar que o impacto é inferior a R$ 0,47, uma vez que o tributo é cobrado por litro de gasolina tipo A, mas o consumo é de gasolina tipo C, uma mistura de aproximadamente 73% de gasolina tipo A e 27% de etanol. Ajustando por estes pesos, o impacto final seria pouco inferior a R$ 0,35 por litro.
A novidade na fala do ministro foi o imposto sobre exportação de óleo cru, com alíquota fixada em 9,2%. Como a PEC tem vigência de quatro meses, o intuito deste imposto, segundo Haddad, é a arrecadação de R$ 6,66 bi. Após este prazo, para manutenção deste imposto, a medida precisaria de aprovação no Congresso, o que em nossa opinião, dificilmente acontecerá. Nesse sentido, segundo nossos cálculos, com o atual patamar de exportações, nível do câmbio e preço do barril de petróleo, o governo arrecadaria nestes quatro meses pouco mais de R$ 5 bi.
Por fim, o terceiro ponto levantado refere-se à política de preços da Petrobras. Atualmente, a política segue a PPI, com influência da cotação internacional. No dia 28/02/2023 houve redução de R$ 0,13 na gasolina e R$ 0,08 no diesel. Nosso modelo, atualmente, aponta estabilidade, conforme o gráfico referente ao PPI no tópico anterior, mas este ainda não capturou a queda recente do petróleo Brent, abaixo até de US$ 80 barril.
Entretanto, nos questionamos se a atual política de preços permanecerá. Conforme o último call de resultados da Petrobras e falas recentes do seu atual CEO, Jean Paul Prates, a empresa poderá ter outras diretrizes para a precificação de seus produtos. A depender, tal situação gera ineficiência no mercado, visto que importações tanto de diesel, quanto de gasolina, se fazem necessárias. Caso o patamar utilizado pela estatal petrolífera brasileira seja insuficiente para remunerar os importadores, poderíamos ver uma saída generalizada destes agentes, deixando a companhia com todos os riscos, conforme observado no passado, quando a empresa acumulou consideráveis prejuízos.