Desaceleração e deterioração continuam tendência. Atenções ainda no crédito livre em linhas sem garantia
Concessões de crédito somaram R$490,3 bilhões em março no dado dessazonalizado, apresentando queda de 1% na comparação com fevereiro. No trimestre, o recuo foi de 0,4% em comparação com o mesmo período do ano passado, e no acumulado em 12 meses crescem 15%, abaixo dos 18% observados no mês anterior. O cenário das concessões continua sinalizando desaceleração, o que era antecipado dado os eventos creditícios observados desde janeiro e as diversas recuperações judiciais também observadas no primeiro trimestre, o que tem levado a um maior rigor na concessão de crédito.
As concessões de crédito livre recuaram 2,1% no mês, alcançando R$432 bilhões, na série com ajuste sazonal. No acumulado em 12 meses, o crescimento foi de 14,6%, desacelerando em relação a fevereiro, quando o crescimento foi de 17,8%. Entre as pessoas físicas, o montante alcançou R$250,1 bilhões no dado sem ajuste sazonal, uma alta de 8,7% na comparação com março de 2022. Destaque para o crédito pessoal consignado e para o crédito pessoal total, que recuaram 5,65% e 4,90%, respectivamente, ambos na comparação com março de 2022. Boa parte dessa queda no crédito pessoal foi fruto do limite imposto à taxa de juros máxima cobrada pelos bancos aos empréstimos consignados do INSS, que basicamente interrompeu essa modalidade de concessão ao longo de março. Por conta disso, observou-se uma redução de 33% na comparação com março de 2022. Por fim, a inadimplência na pessoa física aumentou 0,1 p.p em março, alcançando 6,2%, maior valor desde outubro de 2016.
Entre as pessoas jurídicas as concessões de crédito livre alcançaram R$220,7 bilhões no dado sem ajuste sazonal. Na comparação com março de 2022, as concessões recuaram 7,7%. Destaque para o recuo de 3,8% no desconto de duplicatas e recebíveis e de 11,6% no capital de giro, indicando uma desaceleração da atividade entre as empresas, fruto da política monetária altamente contracionista. Por outro lado, cartão de crédito avançou 51% na comparação com março de 2022. Por fim, a inadimplência entre as empresas ficou estável em 2,4%, maior valor desde março de 2020.
Concessões de financiamento imobiliário recuaram e alcançaram R$ 14,5 bilhões no dado sem ajuste sazonal. Na comparação com março de 2022, houve recuo de 10,9% nas concessões. Já são quatro meses consecutivos de queda nessa linha de crédito, com destaque para os financiamentos com taxas reguladas que recuou mais de 15% na comparação com o mesmo período do ano passado. Por outro lado, as concessões a taxas de mercado tiveram forte expansão, de 18% na comparação com março de 2022, e esse avanço se dá a despeito do aumento nas taxas de juros que avançou 1,5 ponto percentual.
De maneira geral, os dados de março foram em linha com a expectativa de desaceleração do mercado de crédito. A combinação de política monetária altamente contracionista, atividade econômica desacelerando e maior cautela por parte dos bancos, tornou as concessões mais custosas. De fato, o índice de custo do crédito aumentou 2,8 pontos percentuais em comparação a março de 2022, e está no maior valor desde maio de 2017. A perspectiva para os próximos meses é que essa desaceleração continue, em particular porque o Banco Central não dá sinais de que iniciará o corte na taxa de juros num futuro próximo, aumentando as pressões sobre o mercado de crédito.
Saldo continua desacelerando e inadimplência mantêm deterioração e cartão de crédito segue em nível recorde. Crédito Direcionado e de instituições públicas crescem versus livre e consignado. O saldo de crédito continua reportando desaceleração em março com crescimento de 12% a/a (vs. 12,7% a/a em fev/23) com arrefecimento em PF e PJ, principalmente no crédito livre. A inadimplência totalizou 3,3% em março e se manteve estável versus fev/23, com PF estagnada em 4,1% e PJ em 2,1%, mas segue mostrando tendência de deterioração no crédito livre em PF (6,2% +10 bps m/m) e PJ (2,5% +10 bps m/m) com destaque para o cartão de crédito que segue em nível recorde, enquanto o crédito direcionado compensou com quedas de 10 bps em PF e PJ registrando 1,5% e em ambos os segmentos. As instituições públicas têm andado na contramão do ciclo de crédito e mostrado maior crescimento versus os players privados e mostraram crescimento de 13,8% a/a em março (-10 bps vs. Fev/23) versus um crescimento de 10,9% a/a (-116 bps vs. Fev/23) dos players privados.