Desaceleração continua e PJ contribui com maior inadimplência
Concessões de crédito somaram R$421,9 bilhões em fevereiro, apresentando queda de 9,5% na comparação com janeiro. Na comparação com o mesmo período do ano passado, as concessões cresceram 5,32% e no acumulado em 12 meses crescem 17%. A queda das concessões vai em linha com a expectativa de desaceleração no crédito da economia brasileira após a eclosão do rombo das Lojas Americanas, o que, devido à exposição dos grandes bancos, tem levado a um maior rigor na concessão de crédito. Além disso, cabe ressaltar que esses dados são anteriores aos episódios bancários observados nas economias americana e europeia, o que pode ter impacto adicional na concessão de crédito na economia brasileira via o canal de incerteza, aumentando o custo de crédito.
As concessões de crédito livre recuaram 9,6% no mês, alcançando R$384 bilhões. Entre as pessoas físicas, o montante alcançou R$217,6 bilhões, uma queda de 10,3% na comparação com janeiro. Destaque para o crédito pessoal consignado, que recuou 22,5% no mês. Lembrando que esses dados são anteriores ao corte no teto da taxa de juros do crédito consignado aos beneficiários do INSS. No dia 13 de março, o governo federal reduziu o teto dos juros do consignado do INSS de 2,14% para 1,70% ao mês, o que levou aos bancos pararem de ofertar essa linha de crédito. No dia 28 de março, o governo federal recuou e estabeleceu o limite para 1,97% ao mês. Portanto, devemos observar uma contração ainda mais forte dessa linha de crédito nos resultados de março. Por fim, a inadimplência na pessoa física ficou estável em fevereiro, em 6,1%, maior valor desde outubro de 2016.
Entre as pessoas jurídicas as concessões de crédito livre recuaram 8,7% no mês, alcançando R$166 bilhões. Destaque para o recuo de 8,9% no desconto de duplicatas e recebíveis e de 22,1% no capital de giro, indicando uma desaceleração da atividade entre as empresas, fruto da política monetária altamente contracionista. Por fim, a inadimplência entre as empresas aumentou 0,1 ponto percentual, alcançando 2,4%, maior valor desde março de 2020.
Financiamento imobiliário recuou 9,2% no mês, aprofundando tendência negativa. Já são três meses consecutivos de queda nessa linha de crédito, com destaque para os financiamentos com taxas de mercado que recuou mais de 15% no mês. E esse recuo se dá a despeito da queda nas taxas de juros dos financiamentos imobiliários, que recuou 1,2 ponto percentual.
De maneira geral, os dados de fevereiro foram em linha com a expectativa de desaceleração do mercado de crédito. A combinação de política monetária altamente contracionista, atividade econômica desacelerando e maior cautela por parte dos bancos, tornou as concessões mais custosas. De fato, o índice de custo do crédito aumentou 0,6 ponto percentual no mês, alcançando o maior valor desde maio de 2017. A perspectiva para os próximos meses é que essa desaceleração continue podendo ser acentuada pelos eventos recentes nos Estados Unidos e na Europa. Por outro lado, devemos observar melhorias quando o banco central der início ao ciclo de cortes na Selic.
Inadimplência avança com maior contribuição do segmento PJ, com destaque para companhias de grande porte. A inadimplência total foi de 3,3% (30 bps acima da média pré-pandemia avançando 11 bps m/m e 79 bps a/a, com o segmento PF reportou taxa de 4,1% quase estável contra janeiro (+4 bps m/m) e avançando +75 bps a/a com maior contribuição dos segmentos de cartão de crédito e veículos no crédito livre e do imobiliário no direcionado. Já o segmento PJ reportou taxa de 2,1%, avanço de 22 bps m/m e 79 bps a/a, ficando apenas 30 bps abaixo da média pré-pandemia, mantendo a tendência de deterioração. Os segmentos que mais contribuíram para o avanço foram os de cartão de crédito corporativo, capital de giro no crédito livre e imobiliário no direcionado. Ao compararmos a inadimplência no segmento PJ por porte, observamos a saída da estagnação das empresas de grande porte de uma taxa de 0,2% em janeiro para 0,5% em fevereiro, já em MPMEs a taxa segue deteriorando saindo de 3,4% em janeiro para 3,6% em fevereiro.