A companhia divulgou resultado levemente acima do esperado, com sólida geração de caixa e desalavancagem financeira, mas falha de compliance expõe irregularidades em operações comerciais. Com cenário macro adverso e ambiente competitivo dado o aumento de market share dos players estrangeiros (Amazon, Alibaba, Shopee etc.) sugerimos exposição aos outros segmentos do varejo. Reforçamos nossa recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 3,80/ação até o final de 2023.

O faturamento da companhia veio acima das nossas expectativas, com GMV total avançando (+15,5% a/a), suportado por desempenho bom dos canais físico e online. No digital, destacamos a performance do 1P (estoque próprio) que se diferencia dos peers pela escala da operação e cresceu 18% a/a. A margem bruta avançou 250bps a/a devido ao aumento no take rate e da maior representatividade da receita de serviços, que vem ganhando importância a cada resultado.

Margem EBITDA surpreendeu as nossas expectativas, mas veio em linha com o consenso. O efeito diluição de despesas foi o principal responsável pelo descasamento, mas foi evidenciado maior controle em dispêndios com marketing e logística.

Conforme esperado, o patamar atual de juros consumiu o esforço do desempenho operacional. O resultado financeiro (R$ -569 mm) impactou o bottom line da companhia que reportou seu quinto prejuízo seguido (R$ -15 mm).

A sazonalidade do período fortaleceu a geração de caixa no trimestre, com destaque para o giro dos estoques. Destacamos que essa performance combina aumento de giro com ganho de margem, o melhor cenário possível. Frente ao desempenho, a companhia foi capaz de desalavancar seu endividamento, que atingiu -1,6x caixa líquido/EBITDA UDM. Entre as empresas listadas do ecommerce brasileiro esse é o melhor patamar de dívida.

Irregularidades em práticas comerciais foram apresentadas em Fato Relevante após a divulgação dos resultados. A companhia comunicou que recebeu uma denúncia anônima de suposta irregularidade em operação de bonificação com certos distribuidores e fornecedores (envolvendo 3,5% do valor total de compra de mercadorias em 2022). Mais detalhes devem ser expostos no call com os analistas e acreditamos que esse incidente possa ofuscar o resultado da empresa no pregão de hoje.