Nebulosidade generalizada nas operações
A JBS apresentou um resultado fraco no 4T22, abaixo do consenso de mercado, apesar de ficar um pouco acima de nossas expectativas. No trimestre foi visto uma compressão generalizada das margens, com operações de carne bovina nos EUA e PCC indicando forte contração, assim como segmentos do Brasil surpreendendo negativamente. A companhia apresentou um top line em linha com nossas expectativas de R$ 92,9 bi (-6,1% t/t e -4,5% a/a), mas com custos superiores, de modo que a margem bruta fechou em 11,5%, sendo 6 p.p. inferior ao 3T22 e 9,3 p.p. menor no a/a. O EBITDA ficou em R$ 4,6 bi (+29% R/E, -52% t/t e -61% a/a), enquanto a margem recuou 6 p.p. t/t e -9,3 p.p. a/a, em 4,9%.
Vemos que com a difusão do cenário adverso, a diversificação contribuiu para suportar os resultados deste trimestre, ainda indicando números resilientes no consolidado, porém machucados. Margens tendem a se manter pressionadas, com fatores conjunturais incertos prejudicando o desempenho da companhia ao longo do ano. No entanto, continuamos otimistas frente às vantagens competitivas da plataforma multiproteíca e globalmente diversificada da JBS, que devem proporcionar uma maior capacidade de geração de valor ao acionista no médio e longo prazo. Reforçamos também a boa gestão financeira, com resiliente e sólida geração de caixa, o que ameniza os riscos para o ano.
Aproveitamos os recentes resultados para atualizar nossas premissas para 2023, com alteração do preço alvo para R$ 29,00 (ante a R$ 49,00), mantendo a nossa recomendação de Compra. Levamos em conta, em resumo, (i) persistente cenário de custos dos grãos, com gradual melhora ao longo ano, além de (ii) preços mais normalizados, com ajuste entre a oferta e demanda global, assim como (iii) conjuntura da pecuária dos Estados Unidos, com notícias mais amistosas para o ano, mas preço do gado vivo e demais custos pesando no desempenho das operações, sem projeções de rápida melhora. Para o Brasil, apesar de cenário do 1T23 para carne bovina indicar uma situação mais adversa, ainda vemos que a demanda da China e disponibilidade de animais como um fator positivo para o setor. Pontuamos que para o modelo consideramos um WACC de 11,4% e crescimento na perpetuidade de 3%.
Margens pressionadas, com cenário ainda adverso para atividades de carne bovina nos EUA. No trimestre, as operações da Beef North America vieram fortemente prejudicadas, abaixo de nossas expectativas, com uma margem EBITDA de 3,6%, sendo 5,1 p.p. inferior ao t/t e 18,2 p.p. menor do que a/a. Já era esperado um cenário de normalização das margens e 4T sazonalmente mais fraco, contudo, o acentuado avanço do live cattle no período e dificuldade de repasse de preços para o varejo, proporcionaram uma maior absorção de custos pela companhia. Para o ano, as secas no país já indicaram uma melhora, o que deve em um médio prazo beneficiar os custos para os pecuaristas, assim reduzindo a disponibilidade de animais, principalmente de fêmeas, para abate. Assim, com cenário mais estável e menor uso de capacidade pelos frigoríficos, podemos ver uma melhora no cutout, o que pode ajudar na estabilização das margens no ano.
Resultado fraco no Brasil, com margens mais comprimidas do que o esperado. A Seara e Friboi indicaram resultados indigestos, com custos ainda robustos prejudicando o seu desempenho. No trimestre, a Seara apresentou um EBITDA de R$ 703,9 mi (-38,9% R/E, -60,5% t/t e 38% a/a), com margem de 6,4% ante a 11,2% no 4T21. Os custos com a ração do animal continuaram elevados, com avanço do farelo de soja superando a queda do milho no período. Além disso, oversupply de carne de frango no mercado externo, comprimiu os preços comercializados internacionalmente. Para 2023, as projeções estão mais difusas, com incertezas ante ao consumo externo e estabilização da oferta e demanda no mercado global. No Brasil, o poder de compra ainda é um fator adverso, com cenário de crédito, fiscal e político interferindo no quadro econômico do país. No caso da Friboi, o EBITDA do 4T22 ficou em R$ 339,9 mm (-52,1% R/E, -58,8% t/t e 51,2% a/a), com uma margem de 2,4% ante a 5% no 4T21. Já era esperado uma compressão das margens com preços inferiores, mas não nessa dimensão. O 1T23 deve indicar resultados ainda inferiores, com paralisação das exportações para China após caso de atípico de “vaca louca”, assim com período sazonalmente mais fraco, em reflexo aos estoques efetuados pela China para o Ano Novo Lunar. No ano, o cenário continua positivo, com maior disponibilidade de animais amenizando os custos de matéria prima, assim como tendência favorável para demanda chinesa.
Bottom line e endividamento. A JBS divulgou um resultado financeiro acima de nossas expectativas, negativo em R$2,1 bi (29,1% a/a), em espelho a perdas superiores com hedges cambais e juros. A dívida bruta ficou em R$ 92,3 bi (-2,7% t/t e -0,2% a/a), enquanto a líquida avançou 1,2% t/t, em R$ 79,2 bi (1,2% a/a), com considerável regressão do caixa. Em resposta, com EBITDA mais fraco no 4T22, a alavancagem ficou em 2,29x ante a 1,81x no 3T22. Entretanto, a geração de caixa livre se manteve resiliente, com R$ 1.250 mm. Por fim, a JBS apresentou um lucro líquido de $ 2,3 bi (-51,5% t/t e -61,2% a/a), acima de nossas expectativas, fechando o ano com um desempenho ainda robusto de R$ 15,5 bi (-24,5%). No ano, foram distribuídos R$ 4,4 bi (R$ 2/ação) em dividendos.
Avanços em ESG
A companhia ingressou novamente no Índice Carbono Eficiente (ICO2) da B3. A JBS também avançou no ranking de sustentabilidade global do CDP, com nota A-.
E. Em conjunto com o IDH - Iniciativa para o Comércio Sustentável, expandiram a sua parceria para rastrear a produção de bezerros no Brasil, com meta de atingir 1 milhão de animais até 2025.
S. Não houve menção sobre avanços sociais no trimestre.
G. Não houve menção sobre novos avanços na governança no trimestre.
Resultado 4T22