Sólido resultado mesmo com provisões adicionais e guidance indicando desafios para 2023
O resultado do 4T22 do Itaú Unibanco foi positivo e retirando os efeitos de provisionamento de perda de crédito para o caso específico, teria sido acima das nossas expectativas, apresentando um lucro líquido de R$ 8,4 bilhões (+4% t/t e +4,2% Inter Research) e ROE de 21% (estável t/t e -0,8 p.p. Inter Research). Efetivamente o Itaú reportou um lucro líquido de R$ 7.668 milhões (+5,1% t/t e -4,9% Inter Research) e ROAE de 19,3% (-1,7 p.p. t/t e -0,8 p.p. Inter Research). O desempenho no trimestre foi pautado pelo bom resultado no NII com clientes, beneficiado pelo maior volume de crédito no período, além de melhor margem com passivos vindo da maior taxa de juros e maior saldo médio, apresentando também crescimento da carteira na América Latina. Na ponta positiva também observamos estabilidade na receita com serviços, que foi beneficiada pelo segmento de cartões dada a sazonalidade do período, que compensou a queda nas receitas com o banco de investimentos. Além disso, o resultado com seguros avançou bem (11,4% t/t) com a boa evolução dos prêmios ganhos e receitas com previdência. Por outro lado, o custo do crédito subiu saindo de 3,8% no 3T22 para 4,4% no 4T22, devido ao maior provisionamento relacionado ao caso específico no Atacado no Brasil, que foi 100% provisionado gerando impacto de R$ 1.307 milhões no custo do crédito e R$ 719 milhões líquidos de impostos. Entendemos como adequado o provisionamento do banco dado os elevados riscos de recuperação de crédito do caso, o que limpa o balanço para 2023 em relação ao caso. O índice de capital Tier I (utilizado pelo banco para política de distribuição de proventos) atingiu 13,5%, régua mínima para o banco pagar maiores dividendos. Portanto, caso haja contínua melhora do indicador e caso o banco ache adequado, podemos futuramente ter um maior nível de payout, que hoje está em 25%.
Sólido 2022, mas guidance indica desafios em 2023. O resultado de 2022 foi sólido para o banco, enquanto pares privados sofreram mais com a deterioração da qualidade e da desaceleração do crédito, o Itaú superou o guidance em NII com clientes e atingiu o topo em tesouraria, que compensou a pressão no custo do crédito, despesas não decorrentes de juros e o crescimento abaixo do guidance da carteira de crédito. Para 2023, o Itaú divulgou seu guidance projetando um crescimento single digit para a carteira de crédito (entre 6% e 9%) e com maior pressão no custo do crédito (entre R$ 40,5 bi e R$36,5 bi para a PDD expandida), mas por outro lado, é esperada uma compensação no NII com clientes que deve crescer entre 13,5% e 16,5% e um resultado com tesouraria entre R$ 2 bi e R$ 4 bi. Considerando a faixa média do guidance para todas as projeções, o banco pode reportar um lucro líquido de cerca de R$ 36,5 bi em 2023 o que significaria um ROAE em torno de 21%. Em linha com o que esperamos para o banco neste ano. Mantemos nossa recomendação de Compra para os papéis do Itaú Unibanco (ITUB4) com preço-alvo de R$ 35.
NII crescendo com maior volume e taxas, custo de crédito pressiona com caso específico no atacado. A margem financeira reportou saldo de R$ 24.975 milhões (+4,5% t/t e +2,3% Inter Research) com boa evolução do NII com clientes (+3,6% t/t e +1,5% Inter Research) que foi direcionado pelo maior volume de crédito e aumento da margem na América Latina. Além disso, a margem com mercado avançou 44,9% t/t com maiores ganhos na gestão de ativos e passivos e na América Latina e destacamos que o Itaú vs Bradesco e Santander foi o único a apresentar saldo positivo em 2022 nesta linha. A taxa média da margem com clientes foi de 8,7% com avanço de 10 bps t/t. Apesar do bom desempenho nas receitas, o custo do crédito (PDD expandida) evoluiu 22,7% t/t, registrando R$ 9.805 milhões, acima do esperado devido à 100% de provisão da exposição do banco ao caso específico no Atacado. Com isso, o custo do risco avançou 60 bps t/t registrando 4,4%, nível elevado para a média do banco, mas pontual devido ao caso específico. Desta forma a margem financeira líquida foi de R$ 15.170 milhões (-4,6% t/t e -3,7% Inter Research) com o NIM reportando 5,1% (-40 bps t/t), onde esperamos que o banco recupere nos próximos trimestres devido ao efeito pontual do caso específico.
Receitas com cartões compensando desempenho mais fraco do banco de investimentos e despesas com pessoal sentem efeito do acordo coletivo. Em serviços o banco mostrou um resultado praticamente estável com receitas totais de R$ 10.427 milhões (+0,2% t/t e -2,6% Inter Research) basicamente refletindo o bom resultado com emissão e adquirência em cartões com a sazonalidade do período, que compensou o fraco desempenho do banco de investimentos e conta corrente. Por outro lado, o segmento de seguros mostrou forte avanço de 11,4% t/t e em linha com o esperado, com maiores prêmios ganhos e receitas com previdência. Nas despesas não decorrentes de juros, o banco reportou alta de 4,5% t/t causadas ainda pelo efeito do reajuste salarial ocorrido em setembro de 2022, além do aumento da despesa com participação nos resultados, maiores despesas com processamento de dados e telecomunicações.
Carteira e Qualidade de crédito. A carteira de crédito totalizou R$ 1.141,5 bilhões com crescimento de 2,7% t/t e 3,7% a/a, com destaque para o segmento de pessoas físicas, que avançou 3,7% t/t e 20,3% a/a e na qual o banco cresceu 5,2% t/t no crédito imobiliário, 4,9% t/t em cartões de crédito e 3,5% t/t no crédito pessoal, seguindo a tendência do mercado de maiores avanços nestes segmentos, mas ressaltamos o foco do banco no crédito imobiliário, que inclusive cresceu 23,8% a/a, enquanto o crédito pessoal cresceu 28,5% a/a e o cartão de crédito 20,5% a/a. A inadimplência total no banco foi de 3,0% mostrando um avanço da deterioração de 20 bps t/t, com as operações no Brasil apresentando taxa de 3,4% e mesmo avanço de 20 bps t/t, causado principalmente pela piora no segmento de pessoas físicas em cartão de crédito e financiamento de veículos, seguido do segmento de MPMEs que reportou taxa de 2,4% com avanço de 10 bps t/t. Apesar disso, na America Latina e em Grandes empresas a taxa de inadimplência permanece em mínimas históricas. Apesar do avanço gradual da inadimplência, ainda observamos uma solidez e percebemos maior qualidade crédito no Itaú versus os pares privados de grande porte. O banco vendeu R$ 278 milhões de créditos ativos, o que não fosse a venda, a inadimplência total do banco seria de 2,97% (versus 2,95% reportado). Sua cobertura da inadimplência ficou em 212%, com leve queda de 3 p.p. t/t e o NPL creation avançou 10 bps t/t registrando 0,9% no total, causado pelo maior atraso na América Latina no período.