Renda Variável


Inter Research | Bancos – Revisão e Prévias 3T

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Matheus Amaral

Publicado 21/out9 min de leitura

Resumo

Revisitamos nossos modelos e premissas para o setor bancário, incorporando os resultados do primeiro semestre de 2022 das companhias do setor, bem como atualizamos nossas expectativas para o 2S22 e 2023. Trouxemos também neste relatório nossas prévias para os resultados do 3T22.

Desaceleração traz foco na qualidade do crédito para 2023. 3T22 deve vir em linha com o 2T22

O 1o semestre de 2022 trouxe um cenário positivo para os bancos com lucros superando expectativas do mercado, com a elevação das taxas de juros, com a Selic atingindo 13,75%, e pudemos observar os spreads em ascensão compensando o aumento do custo do risco, já que a inadimplência se comportou em ritmo de normalização no setor. A inadimplência, por sinal, foi e deve continuar sendo o centro das atenções do mercado, isso porque a carteira de crédito continua crescendo de maneira robusta no ano, mas influenciada principalmente pelas linhas sem garantia de maior risco como crédito pessoal, cartão de crédito e cheque especial, trazendo pressão nos indicadores de qualidade de crédito. Isto posto, observamos em alguns bancos o segmento de pessoas físicas já apresentando uma inadimplência em níveis pré-pandemia, caso do Santander e Bradesco, enquanto o Itaú e o Banco do Brasil se aproveitam da sua boa qualidade de crédito. Por outro lado, players concentrados na pessoa física e com pouca diversificação do crédito com linhas garantidas podem sentir maior pressão vinda do custo do risco. Os resultados com serviços e seguros também foram positivos, impulsionados pelo maior TPV em cartões e seguros com forte desempenho comercial e melhor resultado financeiro.

O 2o semestre de 2022 pode trazer uma desaceleração do crédito, já que vimos dados até agosto mostrando essa tendência, mas com linhas sem garantia na pessoa física ainda reportando maior crescimento entre as demais. No crédito para pessoa jurídica, devemos observar um movimento positivo vindo do segmento MPME por conta da nova rodada do Pronampe. A deterioração da qualidade de crédito continua trazendo pressão no setor, o que pode afetar o apetite das instituições e o custo do risco. O mercado espera um pico da inadimplência até o final deste ano, mas seguimos atentos aos indicadores de qualidade de crédito como renegociações, write-offs e venda de carteira. Em serviços, a tendência observada no 1S22 deve continuar, com maior TPV em cartões gerando boas receitas de emissões e adquirência e, em seguros, continuamos observando um forte desempenho comercial e bom resultado financeiro aliado a uma baixa sinistralidade na maioria dos ramos, mas o ramo auto deve continuar pressionando as seguradoras que atuam no segmento. Os bancos têm mostrado bom controle em Opex, mas esperamos uma pressão no 2S22 vindo do reajuste coletivo dos bancários.

Cenário macro no exterior deve trazer desafios para 2023. O cenário macroeconômico para o Brasil traz uma perspectiva de estagnação da taxa de juros que pode durar até o 2T23 e a partir daí o movimento de flexibilização monetária deve iniciar. Neste sentido, nós observamos como um cenário positivo para os bancos no curto prazo, já que alivia a pressão do custo de captação e acomoda os spreads em níveis elevados, já que as taxas das operações de crédito devem seguir com estoques em níveis maiores. Apesar do cenário deflacionário no Brasil e de expectativas de queda dos juros por aqui, no exterior as incertezas são maiores, já que a inflação nas principais economias ainda se mostra elevada e as expectativas ainda são de aperto monetário, o que pode pressionar a atividade doméstica refletindo uma desaceleração global e, por sua vez, contaminar a demanda de crédito.

Crédito deve desacelerar em 2023. Com expectativas de forte desaceleração global e arrefecimento da atividade por aqui, o crédito deve também reduzir o ritmo de crescimento no ano que vem vis-à-vis o forte crescimento esperado para 2022 e com efeitos da política monetária restritiva resultando em expectativas para o crescimento do crédito em 8% para o ano que vem, segundo a Febraban. Com perspectivas de um juro estagnado em 13,75% até o 2T23, esperamos a mesma tendência dos resultados no 2S22 para o ano que vem de melhores spreads para as instituições financeiras, que devem compensar o maior custo do risco atrelado ao ambiente de cautela com a deterioração da qualidade de crédito, já que o endividamento das famílias vem reportando taxas acima da média histórica. Segundo a pesquisa Peic da CNC, o nível de endividamento já era de 79,3% em setembro/22.

No geral, apesar dos efeitos cíclicos no setor, esperamos um ano de resiliência na alta rentabilidade das instituições financeiras, que vão se aproveitar de um mix da carteira com maior spread. Sobre os efeitos competitivos, continuamos observando uma pressão concentrada na redução das tarifas em conta corrente, vindo dos neobanks e do Pix. Em termos de opex os bancos devem continuar realizando ajustes finos para a estrutura física com a redução/transformação de agências em unidades de negócios e ajustes de pessoal.

Por fim, alteramos nossa recomendação de neutra para Compra para o Itaú Unibanco com preço-alvo de R$ 35 FY23 (R$ 31 FY22 anterior). Mantemos nossa recomendação de Compra para o Banco do Brasil com preço-lavo de R$ 52 FY23 (R$ 54 FY22 anteriormente) e mantemos nossa recomendação como Neutra para o Bradesco com preço-alvo de R$ 25 FY23 (R$ 26 FY22 anteriormente) e Neutra para o Santander com preço-alvo de R$ 37 FY23 (R$ 36 FY22 anteriormente)

Banco do Brasil: Em um novo patamar

Revisamos nossas estimativas para o Banco do Brasil (BBAS3) e atualizamos nosso modelo de dividendos descontados. Estamos mantendo os bons resultados obtidos no NII, principalmente no resultado com tesouraria do banco, melhor controle de opex e também uma boa qualidade de crédito, apesar de uma leve deterioração diante do cenário esperado. Por outro lado, estamos considerando uma normalização do custo do risco devido à normalização da inadimplência e da estratégia do banco em atuar em linhas de maior risco/retorno. Desta forma, alteramos nosso preço-alvo para R$ 52,00 FY23 (anteriormente R$ 54 FY22) e mantemos nossa recomendação de Compra.

O Banco do Brasil manteve um forte resultado no 1S22, superando nossas expectativas e as do mercado, o que ocasionou em uma revisão do guidance de 2022 para um lucro líquido entre R$ 27 a R$ 30 bilhões, quando esperavam R$ 23 a R$ 30 bilhões. Acreditamos que o resultado em 2022 pode vir no topo do guidance, já que o banco deve se aproveitar de uma melhora nos spreads e de uma baixa necessidade de maiores provisões, mesmo que a tendência para o 2S22 seja de aumentar o custo do risco, já que houve um provisionamento abaixo do NPL Formation no 1S22, que contribuiu fortemente para os resultados recordes e um ROAE de 21% no 2T22. Ainda assim, o banco desfruta de uma boa qualidade de crédito e de uma cobertura da inadimplência ,acima dos pares privados, o que mantém o banco confortável para seguir com a estratégia de crescer sua carteira em linhas mais arriscadas como crédito pessoal e cartão de crédito.

Carteira crescendo em linhas clean e com boa qualidade. Nossa expectativa é de que o banco mantenha o crescimento da carteira de crédito para o ano que vem, contando com cautela, mas avançando em sua estratégia para crescer a carteira pessoa física, além de manter sua liderança no segmento rural e consignado. Esperamos também que o segmento MPME traga bom crescimento ao banco, com programas como o Pronampe ajudando a expansão nesta linha. A qualidade de crédito pode ter alguma pressão.

NII positivo com alívio no custo de captação. A margem financeira do Banco do Brasil acaba sendo mais sensível ao aumento da taxa de juros devido ao seu portfólio possuir a característica de menores taxas, dada a boa qualidade de ramos como rural e consignado, por exemplo. Por outro lado, a medida que a expectativa para o ano que vem seja de estagnação da taxa de juros e queda para o 2S23 os spreads devem melhorar conforme os estoques vão sendo reperfilados com taxas maiores e seguindo a estratégia do banco de crescer em linhas sem garantia, além do custo de captação se acomodar nas taxas atuais.

Sustentabilidade do ROAE acima de 20%? Não esperamos um ROAE acima de 20% para o banco para o próximo ano, isso porque temos expectativas de maiores despesas com provisões, dado que o banco tem provisionado cerca de 75% do seu New NPL e esse nível deve normalizar para cerca de 100%, devendo pesar no resultado atual. Apesar disso, o banco tem controlado seu Opex e desempenhado bem em outras despesas, se beneficiando também de superávit na Previ, o que deve continuar impulsionando os resultados operacionais. Entendemos que a administração deve ser capaz de manter uma boa gestão dos custos resultando em uma melhora da eficiência. Com isso, o banco continua com um balanço sólido e desempenho positivo para o ano que vem, com um ROAE em torno de 18%, melhor que no passado.

Valuation. Para o nosso preço-alvo de R$ 52 FY23 utilizamos o modelo de dividendos descontados, considerando um custo de capital de 14,4%, um crescimento no longo prazo de 4,5% e um payout no último estágio de 78%. Consideramos que o Banco do Brasil se mostra descontado tanto em relação ao nosso target quanto em múltiplos, negociando a 0,8x seu valor patrimonial e a 4x seu lucro líquido, o que ainda oferece uma boa oportunidade versus o seu risco. Além disso, estimamos um dividend yield de cerca de 9% para 2023.

Banco do Brasil | Prévias 3T22: Resultados robustos, mas custo do risco deve pressionar

Esperamos um lucro líquido de R$ 7.143 milhões (-8,5% t/t e +39% a/a) no 3T22, com ROAE de 18,7% (-2 p.p. t/t e +4,4 p.p. a/a). Os resultados devem ser direcionados por um melhor NII com clientes, bem como forte resultado com tesouraria, beneficiado pela sua posição com títulos indexados à Selic. Contudo, na margem líquida, as despesas com PDD devem pressionar, vindo da normalização do provisionamento do banco. Também esperamos um crescimento com serviços e tarifas com seguros mantendo um bom resultado e administração de fundos beneficiando os números. Por outro lado, o Opex deve ser pressionado pelas despesas com pessoal por conta do reajuste salarial da classe dos bancários ocorrido em setembro. Por fim, os outros resultados devem continuar sendo beneficiados por superávit na Previ.

Bradesco: Segmento de seguros deve seguir como diferencial

Revisamos nossas estimativas para o Bradesco (BBDC4) e atualizamos nosso modelo de dividendos descontados com base nos últimos resultados. O Bradesco tem reportado resultados com boa manutenção da sua rentabilidade, em torno de 18%, o que entendemos que vem sendo mais pressionada pelo segmento de crédito, onde a inadimplência tem performado acima das expectativas no segmento de varejo, em linhas sem garantia. Além disso, os resultados com tesouraria sentiram mais os efeitos da abertura da curva e acreditamos que daqui para frente, com acomodação no cenário de juros, devemos ver melhoria nesta linha. Por outro lado, o banco vem compensando nos spreads a pressão tanto do custo do risco quanto do menor desempenho na margem com mercado. Destacamos o segmento segurador, que começa a ver uma inflexão nos resultados, principalmente beneficiado pelo resultado financeiro da seguradora, já que os segmentos auto e saúde ainda enfrentam um cenário de sinistralidade elevada, mas que entendemos que devem começar a reduzir à medida que os prêmios vão sendo reprecificados. Com isto, acreditamos que o Bradesco deva se beneficiar conforme o segmento segurador melhore sua rentabilidade. Alteramos nosso preço-alvo para R$ 25,00 FY23 (anteriormente R$ 26 FY22) e mantemos nossa recomendação Neutra.

Resultado positivos no 1S22, mas com boas perspectivas pela frente. O Bradesco reportou um resultado em linha com nossas expectativas no 1S22 e que vão indicando a superação do guidance, já ultrapassando o teto até o 1S do crescimento da carteira de crédito, NII com clientes e resultado com seguros, apenas com as despesas com PDD sinalizando ficar na faixa alta do guidance. O banco deve reportar com segurança um ROAE de 18% em 2022 mesmo com uma pressão maior no custo do risco devido a maior pressão na inadimplência em pessoas físicas.

Crédito crescendo em linhas mais arriscadas, mas vemos boa evolução no Rural. O crescimento anual (jun/22 vs jun/21) do banco no crédito mostrou avanço de 17,7% com destaque para cartões de crédito (+46,4%), crédito pessoal (+20,9%), CDC/veículos (+16,7%) e Rural PJ (+32,1%). Com o crescimento nestas linhas, o banco acaba se beneficiando de um mix de carteira mais rentável, mas por outro lado também vê uma inadimplência mais pressionada, necessitando de um maior custo do risco e tem sido esta a tendência não só para o banco, mas para o mercado com a normalização da inadimplência. O custo do risco do Bradesco normalizou para 2,5% no 2T22 vs 1,9% no 2T21 e ainda abaixo do pré-pandemia, que registrava 2,7% no 2T19.

Seguros com boas perspectivas. O segmento de seguros, que costumava representar 30% dos lucros do Bradesco, no 2T22 representou 25%, mostrando notável melhora desde os impactos da pandemia no setor, principalmente nos segmentos de cobertura pessoal e saúde. Com a normalização da sinistralidade no ramo de cobertura pessoal, mas ainda alguma pressão em saúde e auto, o braço segurador tem experimentado melhores resultados e uma recuperação gradual, impulsionada também por melhores resultados financeiros e, agora, esperamos que uma reprecificação nos prêmios emitidos, dado à elevada sinistralidade no ramo auto, continuem a beneficiar os resultados para os próximos trimestres e para o ano que vem.

Valuation. Para o nosso preço-alvo de R$ 25 FY23 utilizamos o modelo de dividendos descontados, considerando um custo de capital de 13,8%, um crescimento no longo prazo de 4,5% e um payout no último estágio de 74%. Consideramos o Bradesco descontado tanto em relação ao nosso target quanto em múltiplos, negociando a 1,2x seu valor patrimonial e a 6x seu lucro líquido, abaixo da média histórica. Estimamos um dividend yield de cerca de 5,5% para 2023, que é pouco atrativo frente aos pares. Em termos de potencial de valorização vis-à-vis a solidez nos resultados e a preferência do mercado por outros players, preferimos manter nossa recomendação como Neutra.

Bradesco | Prévias 3T22: Spreads e serviços sustentam bom resultado

Esperamos um lucro líquido de R$ 7.174 bilhões (+1,9% t/t e +6% a/a) com ROAE de 18,5% (0 p.p. t/t e +0,1 p.p. a/a). O resultado deve ser direcionado pela evolução dos spreads contribuindo para o NII, mas pressionado pelo avanço das despesas com PDD, correspondendo ao aumento do mix da carteira com linhas de maior risco e ao indicador de inadimplência, que esperamos que figure em 3,6% no 3T22. Esperamos bom avanço nas receitas com cartões, com maior TPV no período e um segmento avançando pouco por conta da ainda elevado nível de sinistralidade nos ramos auto e saúde. Vemos bom controle em Opex que deve sofrer algum impacto do acordo coletivo com efeitos em setembro nas despesas com pessoal.

Itaú Unibanco: Best in class

Revisamos nossas estimativas para o Itaú Unibanco (ITUB4) e atualizamos nosso modelo de dividendos descontados com base nos últimos resultados. O Itaú tem vivenciado uma mudança cultural sendo implementada desde a gestão de Milton Maluhy, o que tem feito o banco reduzir o nível burocrático e agilizar o processo de tomada de decisões, além de transformar a base de sistemas legados para cloud, o que pode gerar ganho de eficiência no médio e longo prazo. Não só isso, o banco tem conseguido atingir boa evolução em termos de NPS, o que corrobora sua estratégia atual de centralidade no cliente. Aqui, acreditamos que ainda há um bom caminho para percorrer, considerando os competidores, principalmente os neobanks que atuam neste sentido, beneficiando o cliente e abrindo mão de determinadas tarifas bancárias que ainda são cobradas em excesso pelos grandes bancos. Contudo, o Itaú mostra que não está parado, após o desinvestimento na XP, o banco reforçou sua atuação no varejo em investimentos com a plataforma Íon (ainda em ramp up, mas mostrando boa evolução), adquiriu a Ideal corretora para atender clientes de alta frequência e adquiriu a Avenue, corretora que dá acesso a investimentos estrangeiros para brasileiros. Recentemente, para clientes de alta renda, o banco zerou a taxa de corretagem, o que mostra apetite para atacar ramos mais rentáveis do varejo em detrimento de tarifas que os neobanks já não cobram. No 1S22, o banco recuperou seu habitual nível de rentabilidade em torno de 21% com resultados sólidos e desempenho melhor que os pares privados, crescendo sua carteira de crédito e inadimplência normalizando em um pace saudável. Por outro lado, na abertura de rentabilidade, o segmento de Investment Bank tem gerado maiores retornos que o de Crédito atualmente, devido ao que vemos no mercado com o aumento do custo do risco. O Itaú tem reforçado sua posição de liderança e de qualidade em seu balanço, se mostrando em nossa visão o best in class dos incumbentes. Alteramos nosso preço-alvo para R$ 35,00 FY23 (anteriormente R$ 31 FY22) e alteramos nossa recomendação para Compra.

Excelentes resultados no 1S22 e solidez para um cenário mais desafiador no crédito. O Itaú nos surpreendeu com a alta qualidade do seu balanço em seu resultado do 1S22. Vimos o banco recuperar a rentabilidade acima de 21%, suportado por um mix de carteira mais rentável com linhas de crédito mais arriscadas em crescimento, mas também por uma boa qualidade na carteira de crédito, que deteriorou frente a 2021, mas normaliza em um ritmo melhor que os pares privados. Também vimos suas receitas com serviços, principalmente em Cartões com emissão, com boa evolução dado o maior TPV e adquirência na Rede conquistando share e lucratividade, além de um Investment Bank se beneficiando das emissões em renda fixa no mercado. Ainda observamos uma pressão nas receitas com conta corrente vindo do Pix e de redução de tarifas dado ao cenário competitivo. Em termos de opex, o banco tem avançado abaixo da inflação, onde temos visto ajustes finos vindo da transformação de agências para unidades de negócios e redução de duplicidade de agências em algumas regiões. Entretanto, em pessoal, o banco continua com pressão do acordo coletivo da classe dos bancários e avanço em número desde jun/21, com aumento de cargos de TI. Mesmo assim, o banco melhorou seu índice de eficiência, com a contribuição do forte avanço das receitas totais.

Crédito com mix mais rentável trazem maior NII para 2023. Esperamos que o crédito continue mostrando crescimento nas linhas sem garantia como cartão de crédito, cheque especial e crédito pessoal (ex-consignado). Aliado a isso, o banco também continua reforçando sua atuação no crédito imobiliário, que traz maior qualidade à carteira. Desta forma, podemos esperar uma margem financeira avançando em 2023 com reperfilamento dos estoques a maiores taxas e custo de captação acomodado, o que deve compensar o aumento do custo do risco.

Valuation. Para o nosso preço-alvo de R$ 35 FY23 utilizamos o modelo de dividendos descontados, considerando um custo de capital de 12,9%, um crescimento no longo prazo de 4,5% e um payout no último estágio de 77%. Consideramos o Itaú ainda descontado tanto em relação ao nosso target quanto em múltiplos, negociando a 1,6x seu valor patrimonial e a 8x seu lucro líquido esperado para 2023, abaixo da média histórica. Estimamos um dividend yield de cerca de 3% para 2023, que ainda é pouco atrativo e reflete a atual posição de capital abaixo dos 13,5% habituais de CET1, régua utilizada para o pagamento de proventos. Alteramos nossa recomendação para Compra, suportada pela qualidade e solidez do balanço do Itaú.

Itaú Unibanco | Prévias 3T22: Spreads contribuindo para o resultado

Esperamos um lucro líquido de R$ 7.956 milhões (+3,6% t/t e +17,4% a/a) no 3T22 com um ROAE de 20,7% (-0,1 p.p. t/t e +1 p.p. a/a). O resultado deve ser direcionado pelo avanço nos spreads que devem continuar beneficiando o NII com clientes, apesar de um resultado com tesouraria mais fraco, mas ainda positivo e em linha com o último trimestre. O NII deve compensar o aumento do custo do risco que deve refletir o mix da carteira, a qual continua avançando nas linhas sem garantia. Apesar do crescimento da carteira, podemos esperar um menor apetite no ritmo de originação em cartões, devido à deterioração da qualidade de crédito, deixando mais restrita a concessão de crédito para clientes com perfil conhecido, em detrimento da atuação no mar aberto. As receitas com cartões, tanto em emissão quanto em adquirência, devem continuar trazendo boa performance e seguros também seguindo o bom desempenho esperado para o setor com melhor resultado financeiro e menor sinistralidade. O Opex deve sentir algum efeito do acordo coletivo em setembro, mas lembramos que o banco vem crescendo suas despesas abaixo da inflação.

Santander: Desafio na qualidade do crédito

Revisamos nossas estimativas para o Santander (SANB11) e atualizamos nosso modelo de dividendos descontados com base nos últimos resultados. O Santander vinha de um histórico de resultados acima dos pares com rentabilidade em média de 23%, mesmo em um momento em que os bancos estavam mais cautelosos e realizando maiores provisionamentos. Em 2022, o banco passou a reportar uma tendência de maior deterioração na qualidade do crédito, concentrada nas linhas sem garantia, o que tem pressionado os números do banco, mas que ainda vê bons resultados operacionais em serviços, controle de custos que compensam a sensibilidade negativa com a curva de juros no resultado com tesouraria e o maior custo do risco. O banco vem de uma agenda de aquisições em diversas áreas para reforçar o ecossistema e a oferta de serviços. Após a gestão de Sérgio Rial, o novo CEO Mario Leão tem o desafio de manter a cultura e o legado de fortes resultados em um momento de desaceleração esperada para o crédito em 2023. Alteramos nosso preço-alvo para R$ 37,00 FY23 (anteriormente R$ 36 FY22) e mantemos nossa recomendação como Neutra.

Pressão em tesouraria e qualidade do crédito desafiaram os resultados no 1S22. O primeiro semestre para o Santander foi um semestre com resultados pressionados pelo desempenho negativo da tesouraria que segue uma sensibilidade natural e negativa da sua carteira com a abertura da curva de juros. Além disso, como a exposição do banco é maior em linhas sem garantia e no crédito ao consumo – que possuem naturalmente maior inadimplência – o banco reportou um avanço maior que os pares na inadimplência em pessoa física e esse fator acabou pressionando o custo do risco. O crédito mostrou desaceleração, refletindo o ajuste ao cenário mais cauteloso e saiu de um crescimento de 7,5% a/a em mar/22 para 6,5% em jun/22, ainda sustentado pela carteira pessoa física, que cresceu 11,9% a/a no 2T22 ante um crescimento de 15,7% a/a no 1T22. Apesar da desaceleração no crédito, o banco mostrou bom desempenho no NII com clientes com maiores spreads e um bom desempenho com serviços e controle dos custos operacionais e mesmo com pressão no resultado vindo do custo do risco, o Santander segue reportando uma rentabilidade em torno de 20% e pagando um payout agressivo.

Tesouraria pode voltar a ajudar em 2023 e crédito mantendo bom spread podem compensar maior custo do risco. Esperamos que o banco tenha um resultado modesto em 2023, impulsionado pelo maior spread vindo de um mix mais rentável da carteira e de uma acomodação do custo de captação. A margem com o mercado deve também favorecer os resultados, já que as expectativas de acomodação da curva de juros tendem a beneficiar esta linha para o banco que desempenha negativamente com a abertura da curva. Por outro lado, o banco continua com um desafio na qualidade de crédito, o 2T22 mostrou uma melhora no ritmo do avanço da inadimplência nas linhas sem garantia e deve mostrar uma maior cautela na concessão. Em serviços, esperamos que a tendência positiva no resultado com cartões continue e que o segmento de seguros siga trazendo bons resultados. O Santander demonstra bom controle de Opex e deve continuar apresentando um dos melhores indicadores de eficiência do setor. Além disso, a estratégia de varejo em investimentos com o Santander AAA deve trazer um ritmo de crescimento nos resultados com custódia e corretagem.

Valuation. Para o nosso preço-alvo de R$ 37 FY23 utilizamos o modelo de dividendos descontados, considerando um custo de capital de 13,7%, um crescimento no longo prazo de 4,5% e um payout no último estágio de 73%. Consideramos o Santander descontado tanto em relação ao nosso target quanto em múltiplos, negociando a 1,3x seu valor patrimonial e a 6,5x seu lucro líquido esperado para 2023, abaixo da média histórica. Estimamos um dividend yield de cerca de 9% para 2023, que se torna atrativo versus seus pares privados, dado a sua política mais agressiva em payout. Ainda mantemos nossa recomendação como Neutra, por entendermos que a rentabilidade do banco pode ser um fator sensível na sua precificação atual e há o desafio de manter-se nos patamares atuais.

Santander | Prévias 3T22: Resultados sob pressão

Esperamos um lucro líquido de R$ 3.947 milhões (-3,4% t/t e -5,4% a/a) com um ROAE de 19,8% (-0,8% t/t e -1,5% a/a). O resultado mais fraco deve vir direcionado pelo desempenho negativo em tesouraria e pelo maior no custo do risco, o que deve pressionar sua margem financeira líquida. Esperamos que as despesas com provisões aumentem, seguindo a evolução da carteira no mix mais arriscado e o desempenho da inadimplência, que deve subir levemente, e esperamos uma taxa de 3,0% no 3T22. Nos serviços, devemos ver um bom desempenho vindo das linhas de cartão de crédito com maior TPV no período e em seguros, com forte desempenho comercial observado no setor contribuindo para as comissões. Em termos de opex, devemos ver alguma elevação nas despesas com pessoal com efeitos no mês de setembro do acordo coletivo da classe dos bancários, mas por outro lado o banco pode ajustar suas despesas através do movimento de fusão de agências e transformação em lojas.

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