Cenário macro afeta público-alvo
Revisamos as nossas estimativas para C&A e atualizamos o nosso modelo de fluxo de caixa descontado, de forma a incorporar: (i) nossas premissas macroeconômicas atualizadas; (ii) uma revisão na expansão orgânica e (iii) transferência do horizonte de investimento do final de 2022 para o final de 2023. Como consequência, alteramos o preço-alvo de R$7,00 YE22 para R$3,70 YE23 e a recomendação de compra para neutra.
Utilizamos o modelo de fluxo de caixa descontado de 10 anos e WACC de 12,65%. O valor terminal foi constituído com crescimento de 5,0% na perpetuidade, com 2/3 de peso e pelo método do múltiplo de saída, com 1/3 de peso e EV/EBITDA = 4,5x no último ano da projeção.
Tese de Investimento
A C&A é uma das mais populares redes de vestuário do Brasil. Ela procura criar, distribuir e vender moda, incluindo roupas, acessórios, sapatos para mulheres, homens e crianças através da sua rede nacional de lojas físicas e plataforma online. Também oferecem produtos eletrônicos e relacionados, como smartphones, relógios, acessórios, cosméticos e perfumaria, classificados pela C&A como produtos fashiontronics. Sua plataforma online, além dos produtos próprios, conecta produtos de parceiros (sellers), posicionando a companhia também como marketplace. Seu público-alvo é composto, majoritariamente, por mulheres jovens (entre 18 e 35 anos) de classe B e C, e suas principais concorrentes são Riachuelo, Renner e Marisa.
As principais alavancas de crescimento da companhia são: (i) a abertura de lojas físicas, dado o fragmentado mercado de moda no Brasil; (ii) o desenvolvimento do ecossistema digital e plataforma omni; (iii) a modernização das lojas existentes e; (iv) explorar a oferta de produtos financeiros.
Entrando em forma
i) Com market share aproximado de 4%, atrás apenas de Lojas Renner e Riachuelo, a C&A mira a expansão orgânica. A companhia busca aberturas de novas lojas em todas as regiões do Brasil, seja nos shoppings ou em ruas com alto tráfego de pedestres. Em comparação com mercados mais desenvolvidos, a concentração do mercado de vestuário demonstra perspectiva favorável de consolidação (EUA 35%; Reino Unido 24% e; Espanha 29%). Até mesmo a concentração de mercado de outros setores no Brasil evidencia esse potencial de crescimento (Farmácias “top 3” 35%; Supermercados “top 5” 33% e; Eletroeletrônicos “top 5” 66%).
ii) Os consumidores estão se habituando a comprarem com recorrência no canal digital. Segundo pesquisa da Neotrust, o varejo online continua com tendência de crescimento, mesmo após a flexibilização das restrições devido à pandemia e a retomada gradual do comércio físico. Apenas no quarto trimestre de 2021, foram realizados 101,6 milhões de pedidos, contra 86,6 milhões em 2020. O faturamento atingiu R$ 46,4 bilhões em 2021, contra R$ 38,7 bilhões em 2020.
Apesar do crescimento do comércio eletrônico brasileiro no último ano, sua penetração ainda é relativamente baixa comparada com outros países. De acordo com o eMarketer, 52,1% das vendas na China devem ter sido feitas por ecommerce em 2021. O número é superior ao apresentado em 2020, no qual a porcentagem de vendas online fechou em 44,8%. Em segundo lugar, atrás da China, está a Coréia do Sul. Para 2021, o país deverá transacionar 28,9% das vendas no varejo online. Os Estados Unidos aparecem em terceiro lugar, com 15%. Devido a essa baixa penetração no Brasil, acreditamos que existe uma oportunidade para o ecommerce brasileiro crescer a uma taxa mais elevada que o mercado varejista no geral.
Para capturar share nesse mercado, a C&A vem desenvolvendo sua plataforma. Flexibilizar as operações, implementando soluções que utilizem as lojas físicas como hubs de distribuição é o core de sua estratégia omni. Ela, por exemplo, permite que o usuário use um aplicativo para achar determinado produto em uma loja específica, reserve o produto para provar na loja, compre e receba-o em casa. O objetivo das estratégias omni-canal é melhorar a experiência do usuário e o reconhecimento da marca, impulsionando as vendas gerais da rede, tanto offline quanto online.
iii) A renovação do portfólio de lojas visa a melhoria de conversão, com avanço na experiência do cliente e também alavancando a marca.
iv) Por último, explorar as soluções financeiras, que são serviços prestados por meio das lojas e do app, onde os clientes pode adquirir o C&A Pay, bem como realizar o pagamento das faturas e acessar o SAC. Em novembro de 2021, a C&A recomprou o direito de oferecer os serviços financeiros até então explorados pelo Bradesco. O C&A Pay visa uma experiência mais rápida e fácil de contratar, com integração com o
programa de relacionamento da companhia. O cartão digital tem formato private label, ou seja, só pode ser utilizado para aquisição de produtos C&A, oferecendo parcelamento sem juros e contratação de seguros e assistência.
Riscos
Os principais riscos para a C&A envolvem: (i) falha na capacidade de prever e responder às novas tendências da moda com agilidade; (ii) falha na capacidade de atrair novos clientes e manter os atuais; (iii) deterioração do cenário macroeconômico, impactando a renda, emprego, crédito e câmbio e (iv) falha na avaliação da abertura de novas lojas, provocando sobreposição e, portanto, canibalização do faturamento.
Prévia do 3T22
Esperamos uma acomodação nas vendas, seguida por recomposição de margens e prejuízo no bottom line. O resultado de C&A será divulgado hoje, após o pregão.
Julho é um mês promocional, agosto de meia estação e em setembro se inicia a coleção de primavera, porém o frio se prolongou e o consumidor, abastecido, adiou as compras. Dessa forma, esperamos o impacto da demanda reprimida, aliado ao fato de que o 2T22 foi um trimestre atípico, com inverno rigoroso e antecipado. A receita líquida consolidada esperada é de R$ 1.353 mm (+1% a/a).
Com remarcações abaixo da média, esperamos recomposição de margem bruta, que deve totalizar 47,0% (+2,3 p.p. a/a).
A margem EBITDA deve sentir um pouco a desalavancagem, mas recupera-se na base comparativa, chegando a 11,2% (+4,7 p.p a/a).
Por fim, o resultado financeiro, com Selic elevada, deve pressionar o resultado líquido. É esperado um prejuízo financeiro de R$ 88 mm. Com isso, o bottom line reverte o lucro na mesma base do ano passado e chega a R$ -67 mm (-127,2,6% a/a).