4T abaixo das expectativas, fechando ano trágico
A BRF apresentou um resultado abaixo de nossas expectativas, machucado por custos ainda elevados e pressão das despesas, ambas acima do esperado. O resultado das operações no Brasil, somado a estratégia de aumento de volume, aliviou a compressão das margens do segmento Internacional, levando a um top line de R$ 14.769 (+5,4% R/E, 5,1% t/t e 7,6% a/a). Contudo, custos não arrefeceram, mesmo com queda dos grãos, sendo intensificado pelo avanço da soja e seus derivados, combustíveis e mão de obra, o que trouxe uma margem bruta de 16,5% (-1,3 p.p. R/E, -2,0 p.p. t/t e -6,3 p.p. a/a). As despesas também acresceram 18% no ano, com aumento dos gastos com marketing e logística no período, proporcionando avanço das despesas com vendas, além de custo adicional de -567 mm do Acordo de Leniência. Nesse cenário, vimos um EBITDA Ajustado de R$ 1.032 bi (-15,5% R/E, -21,9% t/t e -41,4% a/a), abaixo de nossas expectativas, com margem de 7,0% (-1,7 p.p. R/E, -2,4 p.p. t/t e -5,8 p.p. a/a). Por fim, a BRF reportou mais uma vez prejuízo líquido, superior ao nosso esperado, de -R$ 956 mm, fechando o ano com uma perda de R$ 3.091 mm.
Em ano que deveríamos ver a gradual recuperação de seus resultados, após 1T22 degradante, vemos que a BRF ainda não conseguiu encontrar um ponto de equilíbrio nessa maré de obstáculos. O EBITDA anual ficou em R$ 2.855 mm, queda de 50,4% a/a, sendo o pior resultado desde 2018. Entretanto, apesar de dados inferiores ao esperado, a reestruturação que a companhia ingressa, com possível desinvestimento de suas operações de pet food, acompanhado de melhorias operacionais em busca de uma maior eficiência de suas atividades e ingresso de Miguel Gularte como CEO, é um sinal positivo para BRF, podendo se tornar uma alavanca para sua recuperação e aproveitamento desse potencial imersivo. Contudo, esperamos uma visualização mais concreta dessas mudanças em seu resultado, além de mais esclarecimentos sobre a reestruturação e caminho da companhia. Com nova conjuntura e dados do 4T22, deixaremos o nosso preço-alvo para BRFS3 YE23 em Revisão. Para 2023, pontuamos que a gripe aviária, cenário de grãos e poder de compra da população serão pontos de atenção adicionais para o desempenho da BRF.
Brasil. Melhores resultados. Com aumento de 8,7% t/t do volume vendido, enquanto preço médio se manteve robusto com avanço de 4,8% t/t, as operações no Brasil apresentaram uma receita em linha com nossas expectativas no valor de R$ 7.763 mm (+2,7% R/E, +13,9% t/t e 7,7% a/a). O marketing para comemorativos e Copa do Mundo auxiliou na expansão do market share da BRF no período, beneficiando o seu desempenho. No comparativo trimestral, margem bruta apresenta melhora, mas ainda abaixo no anual. Nesse cenário, o EBITDA ficou em R$ 685 mm (+49,6% t/t e -20,8% a/a), com margem de 8,8% (+2,1 p.p. t/t e -3,2 p.p. a/a). Para 2023, esperamos que as mudanças implementadas pela nova administração da BRF gerem frutos positivos, com recuperação das operações e melhora de margens. Entretanto, riscos referentes à gripe aviária continuam no radar, podendo prejudicar a dinâmica do setor, assim como cenário de aumento da oferta no mercado doméstico, visto a maior competitividade no setor e população com resposta lenta ao consumo.
Internacional. Expansão de oferta estremece resultado no 4T. No período, o segmento indicou perdas aguçadas em todas as regiões, mas com destaque para as Exportações Diretas, que foram fortemente prejudicadas pelo aumento da oferta de proteína de frango no mercado externo, principalmente pelos Estados Unidos e Europa, que ajudou na compressão de 13,5% t/t dos preços, assim apresentando um top line de R$ 2.003 mm (1,9% R/E,-7,7% t/t e +4,2% a/a). Os custos também avançaram, levando a uma margem EBITDA Ajustada de 0,7% (-11,5 p.p. t/t e -13,6 p.p a/a). A companhia sucede em sua busca por novos mercados, no qual apresentaram nove novas habilitações para exportação nesses últimos três meses. Para Halal, a maior competitividade, advinda do ingresso de novos players e volta das exportações da Ucrânia e Polônia, se torna um fator de atenção para o desempenho nesse ano. No 4T22, o segmento sofreu com cenário inflacionário da Turquia, somado a uma maior disponibilidade de produto no mercado doméstico, o que levou a uma receita líquida de R$ 2.759 mm (+20,7% R/E, +3,7% t/t e 13,6% a/a), mas com margem EBITDA Ajustada de 4,5% (-7,6 p.p. t/t e -7,9 p.p. a/a).
Endividamento. Em 2022, o endividamento bruto fechou em R$ 23.643 (-7,9% a/a), com líquido em R$ 14.598 mm (-15,8% a/a), encerrando com uma alavancagem de 3,75x ante a 3,26x no 3T22. Com processo de restruturação da BRF, por meio de diversas melhorias internas e anúncios de desinvestimento, esperamos uma melhora do seu endividamento bruto ao longo de 2023.
Possível desinvestimento do segmento de Pet Food. Em busca de obter uma estrutura de capital mais leve, com meta de 2x para alavancagem, a BRF anunciou na manhã do dia 28 de fevereiro que pretende alienar as suas operações da BRF Pet, Mogiana e Hercosul. Segundo a companhia, o movimento será positivo para desalavancar a companhia, assim como focar no desenvolvimento de seus principais segmentos. A compra da Mogiana e Hercosul foram efetuadas no 2S21, de forma que foi visto o processo de sinergia e seus ganhos operacionais ao longo de 2022. Vemos o movimento de maneira positiva, sendo uma decisão que pode agilizar o destrave de valor de suas atividades, caso concretizado. Contudo, ainda é incerta a dimensão da operação e se será suficiente para aliviar o balanço da BRF.
Avanços em ESG
A BRF foi mantida na carteira do ISE da B3 pelo 16º ano consecutivo.
E. A companhia atingiu 100% de rastreabilidade dos fornecedores diretos de grãos do Cerrado e da Amazônia.
S. Não houve menção sobre avanços sociais no período.
G. A companhia assinou o Acordo de Leniência com a CGU e a AGU no final de dezembro.