Renda Variável


Bradesco | Resultado 4T22 e Revisão de Preço

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Matheus Amaral

Publicado 10/fev5 min de leitura

Nada tão ruim que não possa piorar. Alteramos nosso preço-alvo

O resultado do 4T22 do Bradesco veio abaixo das nossas expectativas, com lucro líquido de R$ 1.595 milhões (-69,5% t/t e -71,7% Inter Research) e ROE de 3,9% (-9,6 p.p. t/t e -10,3 p.p. Inter Research), marcando o pior resultado trimestral do banco de toda a série histórica desde 2008. O resultado foi marcado pelo provisionamento de 100% do evento de “um Cliente Large Corporate específico” que resultou na baixa de toda exposição do banco de R$ 4.851 milhões, o que entendemos como prudente devido aos riscos de perda relacionados ao caso. Retirando o efeito líquido da PDD para o Cliente Large Corporate, seu lucro líquido teria sido de R$ 4.262 milhões (-18,4% t/t e -24,3% Inter Research) e ROAE de 10,3% (-3,2 p.p. t/t e -3,9 p.p. Inter Research). Ainda assim, o resultado teria sido fraco, principalmente pelo aumento da PDD em 38,2% t/t (ex-caso específico) e resultado no NII com clientes mais fraco que o 3T22, NII com mercado ainda negativo (mas mostrando melhora marginal) e outras despesas com piora significativa. Mas nem tudo foi ruim, observamos um bom resultado nas receitas com serviços e tarifas, que vieram em linha com o esperado beneficiadas pelas rendas com cartão de crédito, dado o maior volume transacionado no final do ano, e mesmo comparando com o 4T21 também houve forte avanço. Além disso, o ramo de seguros mostrou forte desempenho, com avanço de 24% t/t, pela forte melhora no resultado financeiro.

Com um 2022 para esquecer, guidance para 2023 traz atenção ao ciclo de crédito. Por fim, o banco apresentou um resultado em 2022 com lucro líquido de R$ 20,7 bilhões, uma queda de 21% versus 2021, causado pelo ambiente de crédito mais desafiador, trazendo uma deterioração da qualidade da sua carteira de crédito em maior velocidade que seus pares, o que pressionou o banco a registrar maiores despesas com PDD, além do caso específico no final do ano. Para 2023 o banco espera crescer entre 6,5% e 9,5% a sua carteira de crédito, mostrando apetite baixo dado o cenário mais arriscado no segmento. Para a margem financeira total, o banco espera crescer entre 7% e 11%, enquanto cresceu 3,8% em 2022, pressionado pelo fraco desempenho na margem com mercado. Para as despesas, o banco espera um forte avanço entre 9% e 13% e em seguros, uma desaceleração com crescimento esperado entre 6% e 10%. E, por fim, uma PDD expandida entre R$ 36,5 bilhões e R$ 39,5 bilhões, bem acima do reportado ex-caso específico de R$ 27,4 bilhões, o que nos surpreendeu com o montante elevado e com isso, se considerarmos o meio do guidance, o lucro líquido esperado para 2023 deve permear em torno de R$ 17 bilhões com ROAE de 11%.

Aproveitamos o atual resultado para atualizar nossas premissas considerando o guidance divulgado, o ciclo atual do crédito trazendo evolução da deterioração da inadimplência no Bradesco em maior ritmo que os pares, o que resultou em um lucro líquido esperado para 2023 de R$ 16,5 bilhões e ROAE de 10%, seguido de uma recuperação em 2024 com lucro líquido de R$ 24,8 bilhões e ROAE de 14%. Desta forma, mantemos nossa recomendação neutra com preço alvo de R$ 15 (anteriormente R$ 21).

NII fraco com menor spread, desaceleração no mix de crédito em linhas de maior risco/retorno e PDD sente efeitos da forte deterioração na qualidade de crédito, além do caso específico. A Margem Financeira reportou saldo de R$ 16.677 milhões (+2,4% t/t e -0,3% Inter Research), com desempenho mais fraco vindo da margem com clientes que caiu 0,3% t/t refletindo menores spreads, mix de produtos com menor originação de crédito em produtos de maior relação risco/retorno dado o cenário atual e menor quantidade de dias úteis no período. A taxa média ficou em 9,8%, uma redução de 30 bps t/t, já a taxa líquida, que considera a PDD caiu de 5,8% no 3T22 para 1,4% no 4T22 e ex-caso específico teria sido de 3,9%. A margem com mercado apesar de ainda negativa, apresentou melhora na comparação trimestral, com maior resultado na gestão de ALM e trading. A PDD expandida foi de R$ 14.881 bilhões (+104,8% t/t e +107,6% Inter Research), com forte avanço causado pelo provisionamento de 100% para o evento do caso de “Cliente Large Corporate específico” de R$ 4.851 milhões, retirando este valor, a PDD teria ainda assim avanço mais que o esperado e registrado R$ 10.030 milhões (+38% t/t e +39,9% Inter Research), influenciado pela maior deterioração dos indicadores de qualidade de crédito no banco, resultando em um custo do crédito de 4,5% (+1,2 p.p. t/t) ex-caso específico e 6,7% (+3,4 p.p. t/t) considerando o total provisionado.

Carteira desacelera nas linhas de maior risco e inadimplência mantém ritmo de forte deterioração em PF e MPMEs. A carteira de crédito do banco foi de R$ 891,9 bilhões (+1,5% t/t e +9,8% a/a) com destaques para o crescimento das pessoas físicas (+2,4% t/t e +12,6% a/a) sendo o principal vetor o cartão de crédito (+6,4% t/t e +27,5% a/a), além de um bom crescimento no crédito rural PF (10,3% t/t e 16,7% a/a). Em PJ o banco avançou 0,9% t/t e +7,9% a/a denotando o foco do banco de mudança no mix desde 2018 para o segmento PF, que hoje representa 40,4% da carteira total, com MPMEs representando 19,8% e Grandes empresas 39,8%. A qualidade de crédito no Bradesco tem sido um fator mais preocupante versus seus pares, isso porque o banco reportou um avanço mais acelerado no indicador de inadimplência que no 4T22, registrou um total de 4,3% (+40 bps t/t), com PF registrando 5,5% (+40 bps t/t) e MPMEs 5,3% (+80 bps t/t), níveis já bem acima do período pré-pandemia. A percepção piora ainda mais quando observamos os indicadores caso o banco não tivesse feito a cessão de créditos vencidos, sendo que a inadimplência total registraria 4,9% no 4T22, 70 bps acima da reportada com cessão de créditos. O indicador de cobertura da inadimplência acima de 90 dias registrou 204% (+4 p.p. t/t), contudo, o indicador foi elevado devido à cobertura do caso específico no Large Corporate. Se retirarmos este efeito, a cobertura cairia significativamente de 201% no 3T22 para 188%, abaixo da média de 200% mantida pelo banco devido à evolução da inadimplência nos ramos PF e MPMEs.

Serviços e Seguros são a única notícia boa, mas Opex e outras despesas compensam negativamente. As receitas com serviços totalizaram R$ 9.251 milhões (+4,5% t/t e +0,2% Inter Research), com bom desempenho na renda com cartões (+6,1% t/t) devido ao forte volume transacionado no período, com destaque para os clientes de Alta Renda do banco, que aumentaram a representatividade no total da carteira de cartões do Bradesco. Já em seguros, houve forte avanço de 24% t/t com principal impacto positivo vindo do resultado financeiro, acompanhando a maior taxa de juros no mercado. No lado das despesas operacionais, o saldo foi de R$ 12.022 milhões (+2,0% t/t e +3,5% Inter Research) com maior pressão vindo das despesas com pessoal após acordo coletivo ocorrido em setembro/22, que foram compensados por menores despesas com participação nos resultados. O Bradesco mostrou uma redução de 218 unidades entre Agências, Unidades de Negócios e PAEs/PAs, registrando um total de 7.930 unidades em dezembro/22 com maior redução em PAEs/PAs (-112 un.), seguido de Unidades de Negócio (-99 un.) e agências (-7 un.). Também vimos as outras despesas avançarem bem neste trimestre, registrando R$ 1.469 milhões (+134,6% t/t) devido a maiores provisões para alguns processos fiscais após reavaliação de riscos.


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