Resultado fraco em diversas linhas e deterioração na qualidade de crédito segue pressionando
O resultado do 3T22 do Bradesco veio abaixo das nossas expectativas e do mercado, com lucro líquido de R$ 5.223 milhões (-25,8% t/t e -27,2% Inter Research) e ROE de 13% (-5,5 p.p. t/t e -5,5 p.p. Inter Research). Não esperávamos um resultado tão fraco para o Bradesco neste trimestre, os principais fatores para este desempenho e que nos surpreendeu negativamente foram: (i) margem com mercado ampliando perdas versus o trimestre anterior, seguindo a tendência negativa com o aumento do CDI para o banco; (ii) maior custo do risco com despesas com PDD ampliando versus o último trimestre; (iii) menor resultado em seguros vindo de um resultado financeiro mais fraco impactado pela deflação do IPCA e (iv) menor resultado com serviços e tarifas, com ajuste em adm. de consórcios e queda em operações de crédito com redução da originação. Entendemos que o resultado atual é reflexo de um momento desafiador na qualidade do crédito, o Bradesco reportou um avanço de 40 bps no NPL 90d total figurando em 3,9%, nível acima da média de 2019, que pressiona o custo do risco. Para complementar o desafio, os resultados com tesouraria enfrentam sensibilidade negativa ao aumento do CDI. Por fim, entendemos que apesar da expectativa de normalização no resultado para o futuro, o banco ainda mostra uma qualidade do crédito pressionando seus números no curto prazo. Neste sentido, o banco revisou o seu guidance para 2022 alterando apenas a linha de PDD para a faixa de R$ 25,5 a R$27,5, que fica bem acima do teto do guidance anterior e das nossas estimativas, mas que corrobora com um cenário de maior custo do risco e deterioração da qualidade de crédito no banco. Desta forma, mantemos nossa recomendação neutra para os papéis do Bradesco (BBDC4) com preço-alvo de R$ 25.
NII pressionado pelo desempenho negativo com tesouraria e custo do risco avança. O Bradesco reportou uma margem financeira bruta de R$ 16.283 milhões (-0,5% t/t e -8,8% Inter Research) sendo um desempenho mais fraco neste trimestre, direcionado principalmente pelo resultado negativo de R$ 1.243 milhões no NII com mercado, piora de 111,9% t/t e inverso ao resultado positivo que esperávamos. Neste sentido, o banco explica que o aumento do CDI tem causado esse desempenho em ALM. Por outro lado, o NII com clientes totalizou R$ 17.527 (+3,4% t/t e em linha com nossa estimativa) resultando em uma taxa média de 10,1% (+10 bps t/t) vindo de melhores spreads favorecidos pela margem com passivos, crescimento das operações e maior quantidade de dias no período. Consequentemente, a margem financeira líquida reportou queda de 18,4% t/t (-23,8% Inter Research) totalizando R$ 9.017 milhões, impactada pelo forte avanço das despesas com PDD, que registrou R$ 7.267 milhões (+36,8% t/t e +20,6% Inter Research). Este avanço reflete o crescimento da carteira de crédito em linhas mais arriscadas, reforço de R$ 1 bilhão em PDD complementar e o aumento da inadimplência observada no banco. Desta forma o banco avançou no custo do risco saindo de 2,5% no 2T22 para 3,3% 3T22.
Carteira de crédito cresce em linhas de maior risco e qualidade segue deteriorando, atrasos podem indicar pico. A carteira de crédito expandida totalizou R$ 878,6 bilhões (+2,7% t/t e +13,6% a/a) com crescimento em ambos os segmentos PF e PJ. No segmento de Pessoas Físicas, o saldo foi de R$ 352,7 bilhões (+3,3% t/t e +16,2% a/a), direcionado pelos segmentos de cartão de crédito, crédito pessoal e crédito rural, seguindo a tendência observada no mercado. Em Pessoas Jurídicas, o banco reportou saldo de R$ 525,9 bi (+2,3% t/t e 11,9% a/a) com bom desempenho em grandes empresas e MPMEs. A qualidade de crédito continua pressionada e com deterioração concentrada no segmento de pessoas físicas, o NPL 90d foi de 3,9% avançando 40 bps t/t e 130 bps a/a com níveis em Pessoas Físicas (5,1% +30 bps t/t) e MPME (4,5% +60 bps t/t) acima da média de 2019, já o segmento de grandes empresas continua com inadimplência saudável e bem abaixo da média histórica reportando 0,1%. Por outro lado, o NPL 15-90d se mostrou estável tanto em PF, quanto em MPMEs por três trimestres, indicando um possível pico. O índice de cobertura do banco foi de 201%, mesmo com o avanço da PDD e com a complementar, ainda caiu 170 bps t/t, refletindo a piora da qualidade de crédito.
Conta corrente pressionada pelo Pix e ajustes em consórcios impactam receitas de serviços e tarifas. Seguros sentem a deflação no resultado financeiro. O banco também trouxe fraco resultado nas receitas com serviços e tarifas que totalizou R$ 8.856 milhões (-1,3% t/t) impactado pela redução nas receitas com conta corrente (-1,9% t/t), operações de crédito (-8,9% t/t) administração de consórcios (-22,7% t/t), onde em conta corrente observamos impactos da menor utilização de serviços refletindo o maior uso do Pix e em consórcios houve um reajuste contábil que impactou o reconhecimento da receita no segmento. Apesar disso, em cartões o banco mantém o crescimento esperado avançando 3,8% t/t com maior TPV no período. Em seguros, o resultado das operações foi de R$ 3.469 milhões (-6,4% t/t e +8% a/a), apesar da recuperação na comparação anual, na comparação trimestral o segmento foi impactado pelo resultado financeiro, prejudicado pela deflação no período. Em termos operacionais, o braço de seguros mostrou uma certa estabilidade na sinistralidade (80,5% -40 bps t/t) e avanço de 1,5% t/t e 17,5% a/a nos prêmios emitidos.
Opex pressionado pelo acordo coletivo como esperado. O banco mostrou piora no seu índice de eficiência que saiu de 42,4% no 2T22 para 46,5% no 3T22, impulsionado principalmente pelas maiores despesas com PDD e a redução da receita no período tanto no NII quanto em Fees e seguros. As despesas operacionais totalizaram R$ 12.418 milhões (+7,7% t/t) com maior impacto vindo das despesas com pessoal que cresceram 8,8% t/t que refletiram o acordo coletivo ocorrido em setembro/22 que reajustou o salário da categoria em 10% em benefícios e 8% em salários e outro fator que também contribuiu foram maiores provisões com processos trabalhistas. O banco reduziu o total de unidades no período em 79 un, reportando 8.148 un em set/22, destas as agências (onde há maior custo) foram reduzidas em 55 un e em contrapartida as unidades de negócio avançaram em 20 un t/t seguindo a estratégia de transformação de agências em unidades de negócio, mas ainda assim consideramos ajustes finos e não trouxeram impactos relevantes para o trimestre.
Avanços em ESG
- Não houve menção de entrada em índices ou prêmios relacionados à agenda ESG, contudo o banco já participa de índices como: Dow Jones, CDP, MSCI e outros nacionais e internacionais.
- Carteira de crédito com negócios sustentáveis totalizou R$ 157,6 bi até set/22, resultando em 63% da meta de atingir R$ 250 bilhões até 2025.
- Saldo em CDC para energia fotovoltaica foi de R$ 1.225 milhões em set/22 +95% t/t. Já o saldo para compra de veículos híbridos e elétricos totalizou R$ 170,3 milhões em set/22 +53% t/t.
- Fiador do financiamento do BNDES no projeto de construção de uma importante linha de metrô na cidade de São Paulo.
- Manutenção da liderança no mercado CBIOs com 54% de market share.
- Manutenção do compromisso de ser net zero até 2050 e utilizar 100% de energia renovável até 2025, onde 82% da meta foi cumprida até o 3T22.
- Apoio para empresas com impacto positivo através de sustainable-linked loans foi de R$ 773 milhões atrelados a metas de ESG dos clientes.
- Não houve menção acerca de avanços no aspecto de governança no trimestre.