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Bancos | Expectativas para o crédito corporativo em 2023. Um ano desafiador

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Matheus Amaral

Publicado 15/mar5 min de leitura

Expectativas para o crédito corporativo em 2023. Um ano desafiador

Nos últimos meses o cenário do crédito corporativo ganhou evidência com o mercado bancário mais restritivo, o que, eventualmente, tem levantado especulações sobre um “credit crunch” no país. Entendemos que as concessões de crédito de fato se mostraram mais restritivas, mas acreditamos que essa desaceleração no crédito corporativo mais acentuada, não especificamente surge como um cenário de crunch. Os principais motivos para tal desaceleração vieram de dois principais fatores: i) taxa de juros em níveis elevados e ii) nível de alavancagem das companhias deteriorando, o que acabou desencadeando em alguns casos de recuperação judicial, que ganharam ainda mais evidência após o caso ocorrido na Americanas – o qual pressionou os resultados dos bancos expostos à companhia, principalmente no 4T22, deixando ainda em alguns bancos algum resquício de provisionamento. O caso também acabou desencadeando em um menor apetite dos bancos, principalmente ao setor de varejo e companhias ligadas à cadeia.

Desaceleração no crédito corporativo deve continuar em 2023. Os últimos dados do Bacen referentes a janeiro/23 mostram um início de desaceleração nas concessões para o crédito PJ, além disso, a inadimplência que ainda está abaixo da média histórica, já mostra a tendência de deterioração para o ano. Em fevereiro, esperamos que as concessões no segmento PJ mostrem maior redução devido às repercussões do caso Americanas no setor de varejo.

Maior alavancagem das empresas e percepção de risco da demanda, reduz apetite por emissões. Se no mercado bancário o crédito entrou em modo restritivo, no mercado de capitais também estamos observando uma tendência de forte desaceleração das emissões nos últimos dois meses, com a demanda por parte de investidores mais restrita. Com spreads ainda elevados e maior endividamento das companhias o cenário deve continuar desafiador.

Janeiro ainda não trouxe impacto relevante, mas crescimento do crédito deve continuar desacelerando, principalmente em serviços no varejo. Ao observarmos os dados de janeiro, o crescimento do crédito na indústria foi de 7,4% a/a (versus 4,6% a/a em jan/22) e de 10,2% a/a em Serviços (versus 12,9% a/a em jan/22), enquanto no agro o crescimento foi de 17,1% a/a (versus 19,1% a/a em jan/22). Destacamos no crédito para a indústria, a queda de 19% a/a no segmento automobilístico, que enfrenta ainda uma lenta recuperação da produtividade, após crise de componentes. No crédito para serviços, o segmento de varejo mostrou desaceleração em todos os segmentos (bens duráveis e não duráveis), com destaque negativo para o varejo de bens duráveis, que retraiu 1% a/a (versus crescimento de 24% a/a em jan/22), com consumo afetado pela inflação e juros elevados.

Crescimento médio esperado para a carteira dos bancos reforça tendência de desaceleração. Tendo em vista (i) o cenário atual de juros e custo de funding elevados, (ii) além do custo do crédito que foi pressionado com o caso Americanas, que gerou significativo impacto nas despesas com PDD dos bancos expostos no resultado do 4T22 e (iii) somado a casos específicos entrando em renegociações de dívida e recuperação judicial, o cenário é de maior restrição por parte dos bancos, o que deve refletir em menor ritmo de concessões ao longo de 2023. Com isso, esperamos um crescimento tímido da carteira de crédito neste ano para os bancos, que também corrobora com os guidances informados para 2023 com uma média single digit no crescimento total da carteira.


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