Renda Variável


Banco do Brasil | Resultado 4T22

matheus1

Matheus Amaral

Publicado 14/fev5 min de leitura

Encerrando o ano com chave de ouro, mas 2023 traz desafios.

O resultado do 4T22 do Banco do Brasil veio acima das nossas expectativas, com lucro líquido de R$ 9.039 milhões (+8,1% t/t e +7,8%%Inter Research) e ROE de 23% (+1,2 p.p. t/t e +1,3 p.p. Inter Research). O banco provisionou 50% da exposição ao “evento subsequente no Large Corporate”, um total de R$ 788 milhões, onde eventuais necessidades de provisionamento adicionais já estão no guidance para 2023. Mesmo considerando os números provisionados do caso específico no Large Corporate, onde a exposição do BB divulgada pela Americanas já era relativamente baixa, o banco reportou mais uma vez, um resultado robusto e acima do esperado, com crescimento no top line, com NII beneficiado pela reprecificação da carteira de crédito e pelo forte desempenho com tesouraria, dado sua carteira de ativos com maior exposição à taxa Selic. Além disso, o resultado contou com a ajuda de outros componentes como recebimento de bônus e incentivos de bandeiras operadas pelo BB e reversão de provisões. Apesar disso, não vimos boa tendência nas receitas com serviços, onde as receitas com adm. de fundos retraíram, sentindo impacto das captações líquidas ocorridas no período nos fundos de renda fixa, além de receitas com cartões e conta corrente também retraírem no período. Na qualidade de crédito, observamos um avanço em ritmo de 17 bps na inadimplência registrando 2,51% e a safra de 2022 para pessoa física mostrando os maiores níveis da série desde 2013.

O banco encerra um ano de 2022 extraordinário, com ROAE de 21,1% e números que mostram a solidez de uma carteira de crédito com bons indicadores de qualidade e ainda defensiva para um cenário de maior inadimplência esperado para 2023. Com um guidance agressivo para o ano, onde o banco espera um crescimento de carteira de crédito entre 8% e 12%, ainda duplo dígito no meio do guidance e margem financeira bruta com forte desempenho entre 17% e 21%, enquanto o banco mostrou crescimento de 23,8% em 2022 nesta linha. O lucro líquido projetado no meio do guidance de R$ 35 bilhões sugere um ROAE de 20% e a depender do cenário da inadimplência em 2023, que continua evoluindo, esperamos um desafio para a manutenção deste nível de rentabilidade. Mantemos nossa recomendação neutra para os papéis do Banco do Brasil (BBAS3) com preço-alvo de R$ 42.

NII e tesouraria com forte avanço, enquanto PCLD sente efeitos de evento subsequente. O NII no 4T22 foi de R$ 10,5 bi (+11,8% t/t e +11,3% Inter Research) beneficiado pela bao evolução da receita financeira de operações de crédito de 7% t/t refletindo efeitos da reprecificação e crescimento da carteira de crédito, mas que foram parcialmente compensados pelo custo de captação comercial e institucional que avançaram 4,5% t/t e 5,3% t/t devido a maior taxa Selic no período. Ainda assim, com robusto crescimento do resultado com tesouraria, que registrou R$ 10,9 bilhões (+7,7% t/t) vindo do resultado da carteira proprietária de títulos de renda fixa, complementou para o bom top-line do banco. Por outro lado, a PCLD ampliada cresceu 44,7% t/t registrando R$ 6,5 bilhões, sentindo o efeito do provisionamento de 50% do evento subsequente ocorrido no segmento Large Corporate (Americanas). Apesar de entendermos que o provisionamento não foi tão conservador quanto demais pares, a exposição do banco é pequena relativamente aos demais players como Bradesco e Santander e também o restante do provisionamento já está considerado no guidance do banco para 2023 e não deve afetar materialmente o forte lucro projetado para 2023, caso se realize. Como resultado do NII e PCLD ampliada no período, o spread global melhorou 50 bps t/t e registrou taxa de 4,7% a.a. mostrando significativa melhora na comparação anual.

Carteira avança do agro e cartão de crédito e inadimplência continua evoluindo. A carteira de crédito ampliada foi de R$ 1,0 trilhão em dez/22 com crescimento de 3,7% t/t com maior destaque no trimestre para o segmento de Agronegócio que cresceu 8,2% t/t representando 32,1% da carteira versus 30,7% em set/22. Já a carteira de pessoas físicas avançou 2,7% t/t representando 32,3% do total em dez/22, com destaque para os segmentos de cartão de crédito +4,9% e crédito consignado +1,6% t/t. No segmento PJ o avanço foi modesto de 1,1% t/t, com destaque para o crescimento nas linhas de operações com recebíveis (+11,3% t/t) e TVM privados e garantias (+4,6% t/t), ainda mantendo também uma contribuição do Pronampe para o crescimento de julho a dezembro. A inadimplência 90d do banco foi de 2,51% em dez/22 (+17 bps t/t) ainda abaixo do sistema financeiro de 3,0%, com um índice de cobertura de 227,1% (-7,9 p.p. t/t) que continua em deterioração concentrada no ramo de pessoas físicas, que registrou taxa de 5,44% (+19 bps t/t) em linhas de maior risco como cartão de crédito e crédito pessoal não consignado, efeito também influenciado pela estratégia do banco em mudar o mix para linhas de maior risco/retorno, o que também tem evidenciado que a safra de crédito na PF referente à 2022 tem mostrado a pior inadimplência da série histórica desde 2013. Na PJ a inadimplência mostra tendência de normalização reportando taxa de 1,83% (+36 bps t/t), nível já acima de jun/21, mas com boa cobertura em 403%.

Serviços com fraco desempenho em administração de fundos e outros componentes do resultado foram beneficiados por maior bonificação com bandeiras e reversão de provisões. A receita com serviços foi de R$ 8,4 bilhões (-1,0% t/t) com queda impactada pelas linhas de administração de fundos (-7,4% t/t), conta corrente (-1,8% t/t) e cartão de crédito (-3,6% t/t), onde o maior impacto financeiro veio da linha de adm. de fundos com redução de R$ 164 milhões causada pela captação líquida negativa principalmente em fundos de renda fixa no período. Por outro lado, os outros componentes do resultado foram fortemente impactados por reversão de provisões e bonificação nas operações de cartão de crédito, que acabou gerando um total de R$ 1,1 bilhão na linha de outros componentes, beneficiando o resultado. No opex continuamos observando a pressão do acordo coletivo ocorrido em setembro/22 além de maiores custos com processamento de dados e publicidade e propaganda no período como habitual. Com maiores receitas totais no período, principalmente nas operações de crédito, o índice de eficiência do banco foi um dos menores já registrado a 26,9% no 4T22 (melhora de 0,7 p.p. t/t e 8,7 p.p. a/a).


Compartilhe essa notícia

Receba nossas análises por e-mail