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Matheus Amaral

Publicado 21/jan5 min de leitura

Abertura da Semana

Começamos a semana com os mercados americanos fechados na segunda-feira, mas voltando de vento em popa nesta terça-feira com todos os olhos voltados para o discurso de Trump ontem em sua posse já para as suas primeiras medidas. Fato é que o mercado já espera medidas que vão trazer maior protecionismo e uma tendência de “desglobalização”. As primeiras medidas vieram com a saída dos EUA do acordo de Paris, algo que já ocorreu em seu primeiro mandato, além de enviar tropas para a fronteira com o México, alegando situação emergencial. Além disso outras medidas desfavoráveis aos imigrantes ilegais também foram assinadas ontem. Enquanto isso, líderes globais estão em Davos discutindo o ambiente de econômico ao redor do mundo.

A bolsa brasileira apesar de começar a semana em tom positivo, ainda com commodities e sem sofrer movimentos relevantes durante a posse de Trump, hoje corrige com o dólar em alta, dólar este que ganhou força contra o peso mexicano e o dólar canadense com reforço de Trump indicando tarifas de 25% sobre importações americanas do México e Canadá. O Brasil por ora se livrou de ameaças, assim como a China, mas Trump está de olho nos Brics, em especial na China. Mas até agora o mercado tem interpretado que será algo gradual. Por aqui, seguiremos de olho nas próximas medidas de Trump e aguardando medidas fiscais do governo e a temporada de balanços do quarto trimestre começar!

Juro americano, brasileiro e o “juro” das empresas

Parte do trabalho de um analista é tentar prever para onde vai o mercado, a outra parte é revisar as suas expectativas. Brincadeiras à parte, se tem algo que este mercado é, é ser imprevisível, como o Burton Malkiel, já popularizava a teoria da passeio aleatório em seu artigo “A Random Walk Down Wall Street” de 1973, que sugere que os preços das ações seguem um caminho imprevisível e que é impossível prever movimentos futuros com base em dados passados.

Procurando narrativas. De tempos em tempos o mercado está focado em algum assunto, seja lá fora ou aqui. Hoje vivenciamos dois grandes assuntos que dominam a narrativa. O primeiro é a taxa de juros nos EUA que está em níveis elevados, onde o Fedluta para trazer o CPI por lá para a meta de 2% e no vai e vem da inflação por lá, o mercado vai ajustando expectativas e precificando na curva de juros. O segundo tema que diz respeito ao nosso país é a questão das contas públicas, que tem afetado também as expectativas de inflação e taxa de juros para cima por aqui.

Esses dois temas, que pairam o aspecto macroeconômico estão diretamente ligados à taxa de juros lá e aqui. O que por consequência afeta os mercados de renda variável, ou seja a nossa bolsa por aqui.

A narrativa dos juros e como ela afeta a bolsa brasileira.Se o investidor estrangeiro está concentrado hoje na inflação americana e nos juros por lá, que estão em níveis acima da média, o custo de oportunidade para esse investidor partir para outras regiões aumentou. Logo, a bolsa brasileira precisaria estar em um nível de atratividade tal que compensasse bem os riscos do investidor estrangeiro sair de um juro de 10 anos em torno de 4,8% em dólar. E de fato parece estar, mas ainda existem diversas variáveis, como o problema fiscal no Brasil, que precisam convergir para trazer “segurança” para o investidor apostar por aqui, tendo em vista que um juro esperado de 15% não favorece o ambiente de negócios por aqui, o que complica as projeções para a Bolsa.

Portanto, isso tudo tem feito a bolsa seguir ainda mais os movimentos da curva de juros nos Estados Unidos. Veja no gráfico abaixo como o Ibovespa tem acompanhado esse movimento ainda mais de perto do que a curva de juros no Brasil.

Se o juro está alto, claramente o investidor vai ajustar isso no preço das ações, dado que ele precisa de um maior prêmio para incorrer o risco da renda variável, já que o custo de oportunidade aumentou. Lembrando, juro longo nos EUA está em 4,8% e por aqui está em 15%.

E como olhar isso na bolsa brasileira? O que as empresas oferecem para o acionista no fim do dia é seu lucro, o cerne de uma ação é pagar fluxos de caixa para o investidor em forma de dividendos, quando não isso, reinvestindo no negócio e trazendo todo o valor futuro embutido no preço da ação, sem mesmo precisar pagar dividendos. Se temos o lucro como fator de retorno, o valor de mercado das companhias é o custo do investimento.

Em momentos de juros projetados a 15%, como está o “juro” que as companhias pagam aos investidores? Chamamos isso de earnings yield, ou seja o rendimento que as empresas apresentam via lucro. Basicamente o mercado acaba ajustando esse yieldpelos preços de tela das companhias. Hoje, esse earnings yieldestá em 15%, trazendo a bolsa para um patamar de atratividade parecido com os juros do governo. Óbvio que essa conta e os movimentos do mercado não são precisos em relação a isso, mas essa métrica acaba ajudando a medir se o mercado está ou não exagerando nos movimentos.


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