Abertura da Semana
Mercados amanhecem em tom de cautela hoje, ainda tentando entender os possíveis efeitos das tarifas nos resultados corporativos, nas relações exteriores e, finalmente, na inflação. Esta semana, temos CPI nos Estados Unidos e IPCA no Brasil, com ambos, Fed e Bacen, atentos à evolução destes indicadores para suas decisões de política monetária. Em momentos de incertezas, ativos defensivos se destacam e o ouro bate novo recorde.
Por aqui, Ibovespa avançou ontem e o dólar recuou atingindo R$ 5,78, o maior movimento positivo veio das empresas de commodities, em especial siderúrgicas e mineradoras, com investidores avaliando que os impactos das tarifas dos EUA não será tão relevante, além disso, a Gerdau, que possui operações nos EUA pode ficar isenta em sua operação. O IPCA veio em linha com o esperado pelo mercado e mostrou uma desaceleração sazonal, mas foi o menor nível para o mês de janeiro desde o Plano Real.
Quando Realizar o Lucro ou Prejuízo em uma Ação?
Uma das decisões mais emblemáticas para qualquer investidor é determinar o momento certo de vender uma ação. Seja para garantir um lucro ou cortar um prejuízo, essa decisão exige uma análise criteriosa que vai além das emoções e da volatilidade do curto prazo.
O primeiro ponto essencial é compreender que o mercado funciona de forma cíclica, e ações passam por períodos de alta e baixa. Contudo, saber diferenciar um movimento passageiro de uma mudança estrutural no valor da empresa é o que separa investidores bem-sucedidos de amadores.
Quando Realizar Lucro?
Vender uma ação com lucro pode parecer simples, mas muitas vezes o investidor fica tentado a "deixar o lucro correr", esperando ganhos ainda maiores. Isso pode ser positivo, desde que sustentado por fundamentos sólidos.
No entanto, algumas situações podem indicar que chegou a hora de encerrar a posição, como por exemplo:
- A empresa atingiu o seu valuation justo:Se uma ação foi comprada a um preço abaixo do seu valor intrínseco e agora está sendo negociada em patamares elevados sem justificativa adicional, pode ser prudente realizar parte dos ganhos. Empresas que crescem de maneira sustentável justificam a manutenção da posição, mas quando o preço sobe apenas por euforia do mercado, a cautela se torna essencial.
- Mudança nos fundamentos da empresa:Empresas podem perder sua vantagem competitiva, enfrentar desafios regulatórios ou apresentar resultados financeiros abaixo do esperado. Se os fundamentos se deteriorarem, pode ser uma boa hora para realizar os lucros e buscar novas oportunidades.
- Rebalanceamento da carteira:Muitas vezes, um ativo se valoriza tanto que passa a representar uma fatia grande demais da carteira do investidor. Nesse caso, vender parte da posição para diversificar os investimentos e reduzir o risco é uma estratégia prudente.
No rebalanceamento há um ponto que gostaria de abordar. Vale à pena balancear todo mês uma carteira de ações?
Vamos ao exemplo: Dois investidores investem nas mesmas ações, ABC e CDE. Os dois começam investindo 50% em cada uma. Em um cenário positivo hipotético, a ação ABC rendeu 5,95% ao mês (100% no ano) e a ação CDE rendeu 2,21% ao mês (30% no ano). O investidor A rebalanceia sempre sua carteira para que suas ações pesem sempre 50% cada uma no seu portfólio. Já o investidor B não faz nada e deixa a vida levar o portfolio.
Nesse exemplo temos a seguinte situação. O investidor B ganha em termos de retorno acumulado no longo prazo, com um retorno de 65% em 1 ano, enquanto o investidor A mostrou um retorno de 61%. Ao final de 1 ano a diferença no portfólio para o investidor B ainda não é muita, ele fica com 61% para a ação ABC e 39%, mas em 2 anos se o ritmo continuar assim, o investidor B ficará com 70% de exposição na ação ABC, o que deixa seu portfólio mais sujeito aos riscos da ação ABC.

E quando realizar prejuízo?
A realização de prejuízos é um dos aspectos mais difíceis da gestão de um portfólio, pois implica reconhecer que um investimento não saiu como planejado. Muitos investidores se recusam a vender uma ação em queda, esperando que ela volte ao preço de compra. Isso pode ser um erro, pois algumas empresas não se recuperam, e insistir nelas pode resultar em perdas ainda maiores. E pior, para recuperar um investimento que cai 50% por exemplo, a ação precisaria valorizar cerca de 100% ou se cair 90%, a ação precisaria recuperar 900%.

- Mudança estrutural na empresa ou setor:Quando uma companhia passa por dificuldades estruturais – como queda na lucratividade, perda de mercado ou problemas financeiros graves –, segurar a ação pode significar prolongar a perda. Exemplo disso foram as quedas acentuadas de empresas do setor varejista nos últimos anos, impactadas pelo aumento dos juros e pelo endividamento excessivo.
- Oportunidade de realocação: Se há ativos mais promissores no mercado, vender uma ação em queda para alocar o capital em outra mais promissora pode ser uma decisão acertada. Isso não significa sair de posições precipitadamente, mas sim buscar alternativas com melhor potencial de valorização.
- Aproveitamento de benefícios fiscais:No Brasil, investidores podem usar prejuízos realizados para compensar ganhos de capital, reduzindo o impacto do imposto de renda sobre os lucros obtidos com a venda de ações. Essa estratégia pode ser útil para quem deseja otimizar a tributação do portfólio.
O Que Considerar Antes de Vender?
Independentemente de estar realizando lucro ou prejuízo, alguns fatores devem ser analisados para evitar decisões precipitadas:
- O cenário macroeconômico:Muitas quedas temporárias são reflexo de movimentos conjunturais, como ciclos de alta de juros ou crises globais. Se os fundamentos da empresa continuam sólidos, manter a posição pode ser a melhor decisão.
- A tese de investimento ainda faz sentido? Se a razão pela qual a ação foi comprada ainda se sustenta, talvez valha a pena segurá-la, mesmo em momentos de volatilidade. O investidor deve revisar periodicamente sua tese e verificar se as premissas iniciais continuam válidas.
- Evite vender baseado apenas na emoção:O medo de perder mais dinheiro pode levar investidores a realizarem prejuízos desnecessários, enquanto a ganância pode fazê-los segurar um ativo por mais tempo do que o recomendável. Manter um plano de investimentos bem definido ajuda a evitar essas armadilhas.
Saber quando realizar lucro ou prejuízo não tem uma fórmula exata, mas sim uma combinação de análise fundamentalista, avaliação do cenário econômico e disciplina na execução da estratégia. O investidor de sucesso não se apega emocionalmente às suas posições e entende que vender faz parte do processo de investir.
Bons investimentos!