Renda Variável


Inter News

matheus1

Matheus Amaral

Publicado 16/set5 min de leitura

Abertura da Semana

Mercados iniciam a semana em compasso de espera à super quarta. Do lado de lá, investidores esperam ansiosamente para saber qual será a intensidade do corte de juros pelo Fednos EUA e observa apostas para um corte de 50 bps aumentarem, enquanto as discussões sobre a intensidade da recessão esperada nos EUA continuam. Além disso, o cenário eleitoral também continua nos holofotes após mais um atentado contra Donald Trump. Bolsas em Wall Street fecharam a segunda-feira em alta, exceto a Nasdaq com ações de tecnologia em queda.

Do lado de cá, o mercado espera que o Copom aumente os juros, alertando para o quadro fiscal do governo. O mini ciclo de alta de juros por aqui ganha destaque e o relatório Focus divulgado ontem trouxe novos aumentos das projeções do IPCA e dólar, que foram para 4,35% e R$ 5,40 neste ano. Além do cenário econômico, eleições de São Paulo ficam no radar e finalmente a chuva chegou no país em várias regiões, mas talvez não seja o suficiente para reparar os danos da seca e conter os inúmeros focos de queimadas no país, que acende um alerta para os impactos em diversos setores. O Ibovespa fechou próximo à estabilidade na espera da quarta-feira.

As 10 maiores ações do Ibovespa estão mesmo baratas?

Se você costuma ler esta newsletter, já sabe o que eu acho sobre a bolsa brasileira nesse momento e sim, acredito que ainda esteja barata e que existam oportunidades por aí. Contudo, faz parte do meu dia a dia me questionar e buscar uma racionalidade por aqui.

Recapitulando... o Ibovespa hoje aos seus 134 mil pontos está negociando a cerca de 7,4x lucros esperados para 2025e cerca de 5x o valor da firma sobre o EBITDA esperado para 2025.

O que isso significa?Comprando todas as empresas do Ibovespa, ou o índice de forma mais simples, o seu investimento se pagaria em 7 anos com base no lucro das companhias ano a ano. Considerando o EBITDA e o valor da firma, em 5 anos.

O que você prefere?uma empresa que te retorna daqui há 7 anos ou há 10, 20, 30 anos? Imaginando um cenário em que duas empresas possuem a mesma taxa de retorno, porém em uma, o tempo que terei de volta o meu dinheiro é menor, eu prefiro a que me paga antes, ou em outras palavras, eu prefiro comprar boas empresas a bons preços.

Se essa é a lógica, porque então existem empresas que sempre estão sendo negociadas a múltiplos elevados, como a Nvidia por exemplo, que negocia a 26x lucro esperado para 2025?

O segredo está nas perspectivas.Você já deve ter ouvido falar que o mercado antecipa e de fato, ele está sempre olhando lá na frente. Por isso, quando a gente fala que o Ibovespa te retorna em 7,5 vezes lucros esperados para 2025 é porque já estamos olhando pro crescimento esperado do ano que vem. 2024 já está no passado e teoricamente precificado.

Queremos saber mesmo é do futuro, mas ninguém tem bola de cristal e por isso as incertezas existem e sempre existirão. Comprar ações envolve avaliar negócios, entender seu valor e o tempo que você espera receber de volta o seu investimento. Não é trivial, e isso é super importante para o investidor, que tem o seu próprio prazo e objetivo nos seus investimentos.

Antes de comprar uma ação, eu aposto que você se pergunta: Estou pagando caro? Barato? O preço está justo? A resposta é que ninguém sabe. Na verdade está tudo condicionado ao futuro da empresa. As análises servem para isso, tentar abanar um pouco uma parte das nuvens de incertezas, mas sempre que possível buscando um pouco de previsibilidade nos negócios, que estão cada vez mais dinâmicos e competitivos.

Isto posto, vamos estender um olhar sobre o Ibovespa e observar as 10 maiores empresas em termos de participação no índice como uma amostra para termos uma ideia se esse o Ibovespa está mesmo barato.

1. Vale (VALE3): A vale negocia a 4,5x lucro esperado para 2024 e a 3x EV/EBITDA (2025) com um freecash flow yield esperado de 11,5%, valor próximo da média dos últimos 3 anos. Claramente, o mercado se mostra preocupado com a desaceleração na China, país em que a Vale tem exposição relevante, além da companhia também acabar acompanhando a precificação do minério de ferro, que cai cerca de 30% no ano e a Vale cerca de 25%. Um ativo tão relevante para o índice, claramente tem pesado na precificação e 3x EV/EBITDA é um valuationabaixo da média histórica de 4x para a Vale, mas suas concorrentes internacionais negociam entre 5 a 6x EV/EBITDA esperado e claro, também estão sofrendo com a pressão da desaceleração chinesa. Mas esse ciclo ruim veio pra ficar? Não sabemos, contudo, nos parece que traz um oportunidade para apostar no setor de mineração. Nosso primeiro veredito: Barato!

2. Petrobras (PETR4): A petroleira estatal negocia a 4x lucro esperado (2025) e a 2,8x EV/EBITDA esperado. Houveram tempos piores pra companhia e nesses tempos ela era mais cara, negociava a 5x EV/ETBIDA. E hoje, que a companhia está menos endividada, com um lifting cost baixíssimo por conta do pré-sal e uma operação que, se não houver tanta interferência, não só se paga mas é uma máquina de geração de caixa. Parece que o mercado tem colocado muito risco na conta. De fato, eles existem, não sou eu quem vai discordar do mercado. O paybackestá curto e a Petrobras está pagando 10% de dividend yield esperado com um ROE de 24%, e isso pode ser uma boa oportunidade, só que daquelas que precisamos estar atentos ao noticiário e resultado a resultado. É um case para quem tem estômago e topa um sócio volátil nas decisões. E para não falar só de riscos, a margem equatorial parece ser uma oportunidade que ainda pode destravar valor no longo prazo. Nossa segunda empresa da lista: Barata!

3. Itaú (ITUB4): O maior banco privado do país negocia a 8x lucro esperado (2025) com um preço sobre valor patrimonial (P/B) de 1,7x e mais uma vez, esse histórico já foi maior, mesmo em tempos competitivos com as fintechs. O Itaú inclusive tem mostrado um boa adaptação às novas tendências do mercado bancário no Brasil, onde a competição ataca de todos os lados. O banco recuperou a rentabilidade acima de 20%, mostrou solidez do balanço com boa qualidade de crédito e superando bem a fase da elevada inadimplência e tem feito algumas aquisições do segmento de investimentos para o varejo onde sempre foi um calcanhar de Aquiles para os bancões. Dito isso, seu nível de capital regulatório também se recuperou, o que hoje traz possibilidade de maior pagamento de proventos, que ficou a desejar nos últimos anos. Por fim, não parece caro se posicionar em um banco sólido e que tem se adaptado bem à competição e modernização do setor. Itaú é mais um grande player do Ibovespa que nos parece: Barato!

4. Bradesco (BDDC4): O banco de Osasco negocia a 7x lucros esperados (2025) e um P/B de 0,9x, que atualmente está, de forma muito clara, colocando no preço a baixa rentabilidade do banco vinda de uma qualidade de crédito que mostrou mais baixa que seus pares incumbentes e de um momento em que o banco pode ter errado a mão na cessão de crédito, que refletiu em elevada inadimplência e no custo disso para o balanço do banco. Isso colocado para trás, o Bradesco também se mostrou mais atrasado que o Itaú na adaptação ao novo mercado bancário e na competição com as fintechs no mundo digital. O reflexo disso tem sido o recente movimento de reestruturação que banco está passando após a troca de CEO. Isto posto, os resultados começaram a gradativamente melhorar, mas ainda nos parece um processo gradativo em que os frutos devem ser colhidos no médio prazo e longo. O mercado parece embutir isso na precificação atual, que só deve melhorar com a entrega de mais ROE. Para quem acredita que o Bradesco vai sair dessa situação e retomar uma rentabilidade, que seja de 18% como no passado, pode hoje estar barata, mas para quem não acredita muito o desconto se mostra Justo. Aqui a assimetria se mostra mais positiva para melhoria boas notícias, o que traz um valuationtentador para o Bradesco. Achamos barato!

5. Banco do Brasil (BBAS3): O BB nunca lucrou tanto, nunca foi tão rentável, superando até mesmo o Itaú e sem contar sua carteira de crédito bastante defensiva, ou melhor, colateralizadaexposta ao crédito consignado e rural. Em tempos não tão rentáveis o BB negociava a 1x seu valor patrimonial e a 4x lucro esperado (2025) e hoje que seu ROE é de 20% o banco negocia a 0,8x seu valor patrimonial, mesmo que o mercado coloque uma perda desse ROE para 2025 para uns 18%, ainda assim seria um ROE invejável até para pares privados. Sem mesmo eu precisar mencionar seu dividend yield de 10% esperado para o ano que vem, BB nossa quinta empresa da lista está: Barato!

6. Eletrobras (ELET3):A recém privatizada Eletrobras negocia a 9x lucro e a 6x EV/EBITDA, o setor elétrico gira em uma média de 12x lucro, mas com uma rentabilidade média de 13%. Claramente o ROE de 6% esperado para este ano e 8% para o ano que vem está sendo precificado, além claro de imbróglios na governança após a recente privatização, dado que o Governo ainda briga por maior presença no conselho. Contudo, as perspectivas para a Eletrobras são de melhores resultados no futuro, vindo principalmente de melhoria de margens através da eficiência operacional, mas a companhia precisa resolver imbróglios e por ora, estes riscos mantém o papel a um preço justo!

7. B3 (B3SA3): A única bolsa brasileira negocia hoje a 13x lucro entregando um ROE de 24%. Sabemos que as coisas andaram desafiadoras para o mercado de renda variável ao longo de 2024, com o cenário macro e juros elevados pressionando o volume em renda variável. Contudo, as melhores perspectivas pela frente, principalmente com a redução de juros no exterior podem ajudar e tem ajudado no avanço dos volumes para a companhia, vide o retorno do investidor estrangeiro desde julho. Por outro lado, mesmo que as perspectivas sejam boas em termos de resultados pela frente, o fantasma de novos concorrentes e agora com a bolsa do Rio também se concretizando, acabam retirando algum potencial de maior precificação para a companhia. Com riscos embutidos no case, achamos que B3 negocia a preço justo!

8. Weg (WEGE3): A fabricante de motores elétricos negocia atualmente a 32x lucros e 23x EV/EBITDA com um ROE esperado de 28% para 2024 e 2025. Apesar da companhia já ter sido muito mais cara no passado, o ritmo de crescimento também foi desacelerando devido a um desaquecimento no segmento de energia distribuída no Brasil e do mercado de motores nos EUA, mas a recente aquisição da Regal Rexnorddeve impulsionar o ritmo de crescimento da companhia, contudo pressionando margens. O mercado atualmente incorpora valuationsmais racionais, e WEGE3 é daquelas ações onde o caro continua caro, dado que a companhia possui não só um ótimo balanço, mas também um negócio com boas perspectivas pela frente. Apesar disso, achamos o preço da nossa oitava ação da lista justo!

9. Sabesp (SBSP3): A Sabesp possui a maior concessão em saneamento do Brasil, atendendo a região de São Paulo, sendo após sua privatização, a única empresa privada do setor no país. A companhia negocia a 15x lucro e a 7x EV/EBITDA esperado. O hall de crescimento parece trazer uma oportunidade em uma tese que acabou de ser privatizada, trazendo espaço para ganho de eficiência, capex a ser implementado para universalização do serviço até 2029, sem contar a Equatorial como investidor de referência, que traz um player com excelente histórico de execução em aquisição de negócios no setor de energia. O futuro pode reservar uma Sabesp mais lucrativa e um típico caso de dividendos, o que mantém a companhia atrativa para o médio e longo prazo. Achamos Sabesp barata!

10. Ambev (ABEV3): a produtora de bebidas negocia a 13x lucro e a 7x EV/EBITDA entregando um ROE de 18% em 2023 e 17% esperado em 2024 e 2025. Apesar da Ambev ser a líder em produção de bebidas no Brasil e o volume de produção de bebidas alcoólicas ter apresentado a maior alta desde 2020, a companhia tem enfrentado pressão de concorrentes, que afeta seu poder de precificação e margens, o que tem levado à recomendações ainda neutras sobre a companhia. O papel pode ter melhores múltiplos pela frente, mas o mercado parece querer ver para crer em um novo ritmo de crescimento pela frente. Achamos justo!

Dos 10 casos observados achamos que 6 deles estão baratos e o restante a preços justos. Ainda teríamos mais 76 empresas para olhar, mas veja o compilado setorial no Ibovespa abaixo, no qual a maioria dos setores se mostra abaixo da média dos últimos 5 anos. Uma coisa não tem conversado com o valuationatual e o crescimento dos lucros esperado, que sua maioria está na casa dos dois dígitos para o ano que vem.

Ainda vemos o mercado embutindo diversos riscos para as companhias por aqui e que fazem sentido mesmo. Contudo, já tivemos ambientes piores, seja no aspecto macroeconômico ou no fundamento das companhias. Porém, mesmo nestes tempos éramos melhor precificados em termos de valor.

Eu não espero que um mercado como o brasileiro seja eternamente precificado a 8x lucros, existem mercados mais instáveis que o nosso e com melhor precificação. Não sabemos quando e se isso vai mudar, mas se as perspectivas de resultados das companhias continuarem positivas, não é esse o preço justo do Ibovespa.


Compartilhe essa notícia

Receba nossas análises por e-mail