Abertura da Semana
Começamos a semana batendo recordes por aqui, embalados por noticiário positivo no exterior e mercado dando votos de credibilidade para a futura gestão do Banco Central.
No exterior, mercado prestará atenção ao simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira, que inclusive terá a presença de Roberto Campos Neto. O mercado se pergunta não mais “se” o Fed cortará juros em setembro, mas “qual” a magnitude do corte, se 25 bps ou 50 bps. As apostas, segundo a Factset se concentram em 78% de chance de corte de 25 bps na próxima reunião. Além disso, a notícia de que Israel concordou com um cessar fogo na faixa de Gaza deixou os mercados de bom humor nesta segunda-feira.
O Ibovespa vivenciou recorde na abertura da semana, fechando a segunda-feira cotado a 135.777 pontos em um dia em que o mercado gostou de falas de Galípolo, que indicou que o aumento de juros está na mesa e isso renovou a confiança de investidores de que o Copom estará comprometido em controlar a inflação na futura gestão. O varejo também começou bem a semana, com a disparada de mais de 10% de ações da Magazine Luiza e 15% das Casas Bahia e com outras ações subindo em média 5%. Mas a Petz foi o grande destaque, avançando 24% embalada pela fusão com a Cobasi.
O fim do Buy and Hold ou necessidade de um ansiolítico para o mercado?
O mundo mudou, as pessoas mudaram, a tecnologia avançou e o mercado mudou junto. Não é de hoje que existe uma percepção de que o mercado anda um tanto quanto ansioso demais.
Você deve se lembrar que no início do ano analistas esperavam um corte de juros já para março e os dados de inflação mal mostravam uma tendência consolidada de desaceleração.
Você também deve se lembrar da semana retrasada que a bolsa japonesa caiu 12% em um dia, interpretando isoladamente apenas um dado ruim do payroll, sem olhar todo o resto e já brandavam projeções de recessão e hard landing da economia norte americana. No dia seguinte as bolsas já se recuperavam e novos dados econômicos traziam mais tranquilidade aos ânimos.
Fato é que o mercado anda cada vez mais exagerado nas reações ao noticiário. Alguns até o denominam como maníaco depressivo no curto prazo. Mas não é só percepção, de fato, parece que a espera para que o tempo faça o seu trabalho nos investimentos pode ter ficado para trás.
Prazo médio da venda de ações reduz drasticamente. O gráfico abaixo mostra o tempo médio em que os investidores levavam para vender suas ações e esse tempo saiu de 3,5 anos em 1996 para 1 ano hoje nos Estados Unidos, levando em consideração as 50 maiores companhias do S&P500. No Brasil, como a liquidez levou tempo para aumentar, o dado fica exagerado, mas com o passar dos anos, esse prazo saiu de 28 anos para 1,6 anos e mesmo em períodos atuais esse prazo reduziu.
É difícil evidenciar o porquê desta tendência, apesar disso, podemos inferir que seja uma combinação de diversos fatores.
O fator ansiedade. O mercado ainda é feito de pessoas, que estão cada vez mais ansiosas. Não só o mercado, mas a humanidade também tem andado mais ansiosa. Segundo a OMS uma em cada oito pessoas convivem com algum transtorno mental, quase 1 bilhão de pessoas no mundo. Desses casos, a maioria, ou 31% deles, são casos de ansiedade, isso porque os últimos dados são de 2019 e após a pandemia os casos de ansiedade e depressão aumentaram em 25% em um ano.
O fator geracional. As novas gerações, que hoje já estão fazendo parte do mercado de trabalho e consequentemente do mercado financeiro, possuem um dinamismo já característico e imposto por um mundo cada vez mais competitivo, dinâmico e com constantes mudanças e incertezas. Em uma pesquisa feita pela PwCfoi estimado que a geração Z deve representar cerca de 30% dos postos de trabalho. Esta mesma geração é conhecida também pela rotatividade em seus empregos, por diversos fatores, mas veja só, essa geração também está mais ansiosa. Um estudo da Vittude mostrou que 27% dos jovens afirmam ter ansiedade.
O fator tecnológico. O avanço da tecnologia permitiu que, com o passar do tempo, a análise de dados se tornasse cada vez mais rápida. Os robôs já arbitram movimentações nos livros de oferta muito mais rápido do que qualquer pessoa já ousou em operar. O reflexo da automatização de estratégias de investimentos gerou um tamanho relevante na indústria para os fundos automatizados, hoje, cerca de 35% da indústria de fundos norte americana, segundo o The Economist. Isso implica que, agora, temos muitos robôs comprando e vendendo posições seguindo as regras de inputs pré-determinadas em maioria quantitativas, que nem sempre estão avaliando o negócio em si e os inúmeros fatores qualitativos que são fundamentais para avaliar uma empresa.
Em minha breve avaliação, acredito que não só estes, mas inúmeros fatores tem trazido reações mais “curto prazistas” no mercado, que derrubou o tempo médio de permanência de um investidor em um negócio.
Ações são para curto prazo, Empresas são para longo prazo. Na prática, avaliar negócios requer um tempo de estudo sobre a companhia, que incorre em conversas com executivos, concorrentes e o máximo de stakeholders possíveis para avaliar a capacidade daquela empresa e da gestão de gerar valor e manter o negócio competitivo no longo prazo. Não será em apenas um ano, que uma empresa vai gerar valor. Warren Buffett, por exemplo, investe na Apple desde 2016 e só oito anos depois vendeu cerca de 50% da sua participação na companhia. A participação na Apple desde o início custou cerca de US$ 15 bilhões de dólares rendendo até agora cerca de 470%, um retorno anual de 24%. Na Coca-cola, seu investimento mais longevo, Buffett investe desde 1988 e 30 anos depois a ação rende mais de 10x o valor investido. Isso é value investing, senhoras e senhores!
Por fim, investir em empresas requer paciência, calma e por muitas vezes a arte de ignorar o noticiário no dia a dia, a não ser que em uma análise apurada, algo vá alterar de forma relevante o fundamento da empresa que você investe. Te convido a um simples exercício, quantas ações estão na sua carteira hoje? Quais delas você espera continuar sócio pelos próximos 10 anos?
A temporada em 1 minuto
A temporada do segundo trimestre se encerrou e podemos dizer que foi uma ótima temporada para a maioria dos setores com 57% dos lucros das companhias superando as estimativas e 39% performando abaixo do esperado. Destacamos os setores que estavam enfrentando maiores desafios relacionados ao endividamento ou se reestruturando, reportaram bons números. Caso de Real Estate, Siderurgia e Mineração, Utilities e Saúde. Até mesmo casos como o setor de Varejo foram bem. Por outro lado, o segmento de Papel & Celulose que enfrenta pressão em preços acabou tendo um desempenho mais fraco, seguido pelo setor de tecnologia.
Você precisa saber disso: